Publicado em 30/03/2020 às 22:29 - Atualizado em 22/08/2023 às 20:30
Conheça um pouco mais sobre duas mulheres da UFU. Uma, estudante e ativa no movimento estudantil. A outra, docente participante no movimento sindical. Histórias que se cruzam e entrelaçam. Os movimentos sociais, no Brasil, tiveram maior visibilidade e propagação a partir do século XX. Mas e a participação das mulheres?
Jorgetânia da Silva Ferreira é professora do Instituto de História da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), se graduou em 1997 e é docente desde 2007. De Monte Alegre, se mudou para Uberlândia aos 17 anos para trabalhar. Esteve na direção da Associação dos Docentes da Universidade Federal de Uberlândia (Adufu) de 2011 a 2017. (Foto: Arquivo pessoal)
Contemplativa, Jorgetânia conta vir de uma trajetória de militância política desde a juventude. “Desde que eu me entendo por gente, sentia um incômodo com a situação de desigualdade, injustiça e isso foi me movimentando para eu estar em espaços de lutas políticas, coletivas para transformar essa realidade.” Participou do grupo de jovens, movimentos na Igreja Católica, Pastoral da Juventude. Ao ingressar na universidade, participou do movimento estudantil.
“Eu sou de Monte Alegre, uma cidade próxima a Uberlândia, e vim para cá com 17 anos. Fui trabalhar nas Lojas Americanas e continuei vinculada com pessoas que já tinham uma participação política desde a adolescência nos movimentos de juventude. Daí tive militância partidária, uma militância no movimento feminista, o movimento na luta pela educação; enfim, fui fazendo essa trajetória”, relata a professora.
Rayssa Lemes é aluna do curso de Ciências Sociais, ingressou em 2017 na universidade, está no sétimo período. De Caldas Novas, veio para Uberlândia por conta do curso. (Foto: Arquivo pessoal)
Rayssa se recorda que seu despertar para as lutas políticas começou em 2012: “Eu tinha 13 anos e teve um concurso na minha escola que chamava 'Quem merece o meu voto' que incentivava as crianças a escreverem sobre a importância de não vender o voto. Eu venci o concurso de redação, fiquei em primeiro lugar na cidade. Descobri que gosto disso, gosto de escrever sobre isto: questões políticas", narra. Foi então que a estudante começou a escrever textos no Facebook e chamar a atenção por eles. “O pessoal até ficou me zuando, dizendo que eu posto ‘textão’”. Esse período foi o princípio do seu interesse por ciências sociais.
“Eu terminei o Ensino Médio em 2015 e, naquela época, não conhecia organizações sociais. Não conhecia muito bem o funcionamento; aí, em 2016, eu conheci um amigo aqui de Uberlândia que era ligado a uma organização política - por sinal, da qual faço parte hoje. E, a partir disso, eu comecei a entender melhor como funcionava. No final de 2016, comecei a ficar interessada por essa organização. Em 2017 eu passei aqui na UFU e comecei a me envolver com o movimento estudantil organizado que antes eu não conhecia", expõe a estudante.
Movimentos Sociais
Em junho de 2017, aconteceu a campanha para a nova diretoria do Diretório Central dos Estudantes (DCE) na UFU. “Entrei na campanha, passei em sala, aprendi a fazer proposta, como funcionava o DCE. A gente ganhou. Eu era secretária de organização, mexia com a parte burocrática nessa época. Então, comecei a conhecer a Reitoria, os espaços; eu não sabia como funcionava, ficava perdida lá”, destaca Rayssa.
“Em 2018, teve a reeleição. Eu assumi como coordenadora-geral. Esse foi o período mais complexo, pois em 2019, com o corte de verbas, eu passei por coisas que jamais imaginei passar durante meu período de graduação. Em vez de conquistar novas coisas, precisei defender o que já tínhamos. Em 2017, eram propostas de coisas novas, mudar o estatuto da UFU, melhorias… Mas aí, em 2019, parece que retrocedeu. Tivemos que defender coisas básicas, como a assistência estudantil como um todo. Por conta do estágio, em 2019/2, eu tive que sair da coordenação-geral e agora estou na coordenação de formação política”, explica a estudante.
Jorgetânia relembra que seu início no movimento docente se deu já no início do ingresso na universidade: “Eu ingressei em 2007 e no ano seguinte já participava do sindicato. Fui para a direção em 2009 e permaneci até 2011 como membro da direção executiva da Adufu. Em 2012, eu participei de uma grande greve, uma greve muito importante, da qual fui dos comandos Local e Nacional. Em 2013, eu virei presidenta do sindicato, presidenta da Adufu, cargo que ocupei até 2017.”
“É uma sociedade que ama os homens e despreza as mulheres”
Jorgetânia afirma que vivemos em uma sociedade que ama os homens e despreza as mulheres e, por isso, em todos os espaços que a mulher tentar ocupar terá mais dificuldades que os homens. “O espaço da política tem sido predominantemente masculino, é um espaço de poder. Enquanto na base das categorias, principalmente da docência, nós temos a maioria de professoras nas direções, em geral, nós temos a maioria de homens, a maioria de professores”, destaca ela.
A docente exemplifica que mulheres são desestimuladas a ocuparem lugares de poder: “Recentemente, em uma sucessão do nosso sindicato, estávamos incentivando mulheres a serem presidentas e vendo companheiros maridos dizendo às suas companheiras que elas não têm perfil para exercer o cargo. Então, enquanto aos homens é sempre dito ‘você consegue’, ‘você pode’, ‘esse é o seu espaço’, nós, mulheres, somos sempre desestimuladas a ocupar esses espaços de poder.”
Quando um homem vai para a política, enfatiza Jorgetânia, há sempre uma retaguarda feminina. “Ele não precisa se preocupar, por exemplo, com quem vai deixar os filhos. Quando um dirigente sindical viaja, aquilo que ele recebe de apoio financeiro (mesmo no ambiente acadêmico, quando o docente recebe uma diária), vai poder ser gasto apenas consigo. Enquanto uma mulher que vai vai fazer uma viagem - da mesma natureza -, normalmente contrata outra mulher. Assim, aquele dinheiro que ela recebe, vai ter que ser dividido com quem vai cuidar dos seus filhos e filhas; então, é muito diferente a inserção de homens e mulheres”, evidencia Jorgetânia.
Representatividade importa
A estudante aponta que a mulher precisa usar da liderança para fortalecer outras mulheres, para uma convivência respeitosa. Para que não haja insegurança, comparação de umas com as outras a partir de um padrão que não é das mulheres.
“Não adianta uma mulher ocupar um espaço de poder, se ela não pauta certas questões ali dentro. Por exemplo, se ela está ocupando um espaço de poder, vê uma menina passar por uma violência e se omite diante disso. É uma representatividade vazia”, pondera Rayssa. Ela argumenta ser preciso avançar em políticas para a garantia dos direitos da mulher em suas especificidades para que a equidade de gênero aconteça.
“Ver uma mulher no poder é saber que também é possível. Ver uma mulher amamentando no plenário da Câmara foi muito forte para mim, me mostrou que também é possível. Que não é não natural você estar ali. Que isso pode ser a regra, não a exceção”, finaliza Rayssa.
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