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Milton Santos: Patrimônio humano da UFU

Data de Publicação: 31/01/2014 - 10:17

Por Jussara Paola Coelho dos Santos

O olhar deste profissional conta a história da instituição
Frinéia Chaves Em terras brasileiras, quem é bom de bola tem chances de se dar bem na vida. É preciso, porém, ser aprovado por um olheiro. Assim foi com Milton Santos. No ano de 1977, ele integrava o XVI de novembro, time patrocinado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Como zagueiro, era craque de bate-papo e, por isso, conquistou a amizade de José de Paula de Carvalho, reitor pro tempore da UFU na época. Daí surgiu o convite para trabalhar na instituição como fotógrafo. Foi uma grande reviravolta na vida profissional. Milton ensaiou os primeiros dribles tirando fotos de fotos. Naquele tempo, o retroprojetor era o recurso tecnológico mais utilizado por professores. "Eu fotografava páginas de livros ou gravuras de revistas e transformava isso em slides", lembra. A demanda era grande. Fazer gol significava uma produção média de 1.200 slides por mês. E como a rede balançava... Curioso, o novo fotógrafo foi aos poucos desvendando os segredos da máquina. Aprendeu também a lidar com soluções de revelação e se lembra bem da transição do preto e branco para o colorido.   Novos desafios Ah! Mas não bastava só fotografar e revelar. Perpetuar fatos é fazer história e, por isso, foi preciso também aprender a lidar com arquivo e as implicações de segurança que os novos tempos vão impondo. A estratégia do jogo muda e entra um novo trabalho em campo. Retratar os avanços de uma instituição que ganhava fôlego. O cerrado foi abrindo espaço para construção de novos blocos, veio a aprovação de novos cursos, a chegada de mais alunos. Hospitais, fazendas, reuniões, congressos, formaturas, licitações, confraternizações, expedições... Nada da rotina acadêmica escapou da marcação de Milton Santos. O acervo de mais 500 mil fotos resultou em mais de dez exposições e no livro “Amante da Natureza”. “É o primeiro de muitos. Uma forma de fazer o meu olhar chegar a outros”. Os registros são marcados por contradições. De famosos a gente simples, da beleza à desgraça, de vida e de morte, da educação à ignorância, da natureza ao surreal... Um profissional que se orgulha por ter transitado em todas as áreas das ciências. Nas exatas, aprendeu a calcular espaço e tempo, ajustes de lentes, princípios da química e até a quebrar a máxima da física. "Parece ilusão de ótica, mas às vezes ocupo dois lugares ao mesmo tempo", garante sorrindo.   Nas engenharias, aprendeu a produzir mais com menos, ser elétrico, às vezes ir e outras se deixar levar. A paixão pela natureza diz muito das ciências agrárias e da terra. Nas biológicas, aprendeu que gente e bicho, muitas vezes, trocam de lugar. "A foto que fiz de um incêndio na Reserva do Panga é um registro da capacidade do bicho-homem", exemplifica. Cuidar-se, fazer o que gosta e ouvir o coração são conceitos das ciências da saúde.  Nas sociais aplicadas, aprendeu a administrar, planejar, arquitetar ideias e comunicar sonhos. Nas humanas, a ser político, psicólogo, historiador. E para fechar com linguística, letras e artes, não precisa dizer nada. O trabalho deste homem mostra o quão artista ele é.   Com quase 60 anos de idade e chegando aos 40 como fotógrafo da instituição, Milton continua batendo um bolão. De tão conhecido, tornou-se famoso. Se tem dinheiro, não assume, mas confessa que é feliz e que, apesar de já ter condições de se aposentar, nem pensa nisso por enquanto.

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