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Os caminhos possíveis de um estudante que escolhe ser cientista

Conheça a história do biólogo Samuel Cota Teixeira, da UFU, formado pela educação pública e um dos doutores mais jovens do Brasil

Publicado em 14/08/2019 às 14:03 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:56

Em uma busca no Google, Samuel Teixeira descobriu ter sido o mais jovem a conquistar o título de doutor no Brasil, com 24 anos. (Foto: Alexandre Costa)

O caminho que leva jovens estudantes até o ensino superior pode ser rodeado de dúvidas e incertezas. Durante o percurso, no ensino médio, os primeiros pensamentos levam a reflexões sobre a escolha do curso, da universidade e, para aqueles que têm uma boa condição financeira, sobre qual cidade seria a melhor para fazer uma graduação. 

Esses questionamentos não têm respostas prontas. O estudante vai descobrindo o seu caminho à medida que encontra áreas de afinidade e faz escolhas ainda dentro do ambiente escolar. O interesse pela disciplina favorita, a proximidade com o professor ou professora que leciona um determinado conteúdo com mais facilidade e as atividades, os trabalhos e as avaliações envolvidas no currículo escolar, aos poucos, vão pavimentando a estrada que leva até uma universidade.

Não há como precisar também o tempo necessário para que cada passo seja dado. É possível que, conforme o tempo passe e as suas escolhas se encaixem, você conclua o ensino médio, inicie e termine uma graduação e já emende uma pós-graduação: mestrado, doutorado e, por que não, o pós-doutorado? Foi o que aconteceu com Samuel Cota Teixeira, pós-doutorando do Laboratório de Imunofisiologia da Reprodução e professor substituto da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

Bacharel e licenciado em Ciências Biológicas pela UFU, Teixeira tornou-se doutor em 2018, quando tinha 24 anos. Hoje, o biólogo atua, sob orientação da professora Eloísa Ferro, no segundo pós-doutorado numa linha de pesquisa que busca entender como se dá a infecção pelo Toxoplasma Gondii, protozoário causador da toxoplasmose, durante a gestação.

Antes de chegar ao segundo pós-doutorado, no entanto, o professor vivenciou todas as experiências possíveis na graduação. Começou o curso de Ciências Biológicas em 2011 e o concluiu em 2015, quando ainda era permitido ter a formação de bacharelado e licenciatura ao mesmo tempo. Nesse período, foi monitor das disciplinas de Química de Soluções e Matemática, o que abriu os olhos dele para a prática da docência.

Aluno do ensino público e hoje cientista, Teixeira foi convidado a palestrar na escola estadual José Gomes Junqueira como forma de incentivo aos estudantes. (Foto: Arquivo do pesquisador)

O tripé de ensino, pesquisa e extensão também foi importante para a formação de Teixeira. O pesquisador fez parte do Programa de Educação Tutorial (PET) da Biologia, do Programa Institucional Voluntário para Iniciação Científica (Pivic) e  do Programa Institucional de Bolsas para Iniciação Científica (Pibic).

A pesquisa da iniciação científica sobre uma proteína secretada pelo Trypanosoma cruzi, protozoário responsável pela doença de Chagas, abriu espaço para o trabalho de conclusão de curso (TCC) sobre o mesmo tema, porém, com uma pesquisa mais aprofundada. “No nosso grupo de pesquisa, nós demonstramos que essa proteína apresenta uma atividade que nós chamamos de ‘atividade antiangiogênica’, ou seja, que promova a inibição da formação de vasos”, conta. 

O pesquisador explica que, nos estágios avançados, essa proteína afeta o funcionamento do coração. “A doença de Chagas tem duas fases: uma aguda e outra crônica. Na fase crônica, mais tardia, os pacientes apresentam complicações relacionadas com o funcionamento do coração, que a gente chama de ‘cardiomiopatia chagásica crônica’. Uma das complicações que esses indivíduos têm pode estar relacionada com essa inibição da formação de vasos”, detalha.

No mestrado, Teixeira continuou o aprofundamento e demonstrou que, provavelmente, as características clínicas de um paciente estão ligadas à ação dessa proteína, chamada de P21, secretada pelo Trypanosoma cruzi. No doutorado, o biólogo direcionou sua pesquisa para entender os mecanismos que levam à formação de vasos na angiogênese. “Para isso utilizei uma molécula que foi cedida ao nosso grupo de pesquisa por um professor da Alemanha, nosso colaborador. Eu testei essa molécula no contexto da angiogênese e foi onde eu vi a participação de algumas proteínas na formação de vasos”, relata. 

O primeiro pós-doutorado do pesquisador teve como enfoque entender o papel da proteína P21 na proliferação do parasita Trypanosoma cruzi. “Começamos a entender que essa proteína, a P21, possivelmente está relacionada com os mecanismos que levam à proliferação desse parasito”, aponta Teixeira. “Uma vez que nós consigamos demonstrar que essa proteína é importante na replicação do parasito, futuramente poderemos criar algum fármaco que consiga interferir nessa proteína, na replicação do parasito”, ressalta.

O interesse em pesquisar e buscar soluções contra parasitas e doenças, segundo o professor, veio de um desejo do início da graduação em trabalhar com “a parte de doenças”. “Ao longo do caminho, fui conhecendo o laboratório de tripanossomatídeos, sob coordenação do professor Cláudio Vieira da Silva. Ele trabalha com o Trypanosoma cruzi. E assim, fui gostando de estudar a doença de Chagas e as coisas foram caminhando até o ponto em que eu acabei trabalhando com essa proteína [a P21], descoberta pelo professor no seu doutorado em 2009”, destaca. As pesquisas de graduação e pós-graduação de Teixeira estão ligadas ao Programa de Pós-Graduação em Imunologia e Parasitologia Aplicadas, da UFU.

As pesquisas de Teixeira estão ligadas ao Programa de Pós-Graduação em Imunologia e Parasitologia Aplicadas, da UFU. (Foto: Arquivo do pesquisador)

Natural de Uberlândia, Teixeira cursou os ensinos fundamental (na Escola Municipal Prof. Eurico Silva) e médio (na Escola Estadual Messias Pedreiro) em escolas da rede pública. As disciplinas de Ciências e Biologia chamavam a atenção dele desde o início. Um levantamento recente feito pelo próprio pesquisador, no Google, o levou a crer que ele seja o doutor mais jovem do Brasil, quando conquistou o título com 24 anos. As menções existentes no site, segundo ele, indicam que um outro doutor havia conquistado o título com 26 anos. 

Quando perguntado sobre como conseguiu se tornar essa exceção, o biólogo relata nunca ter planejado tal feito. “As coisas foram acontecendo naturalmente. Acredito que me tornei o doutor mais jovem pelo fato de que eu simplesmente ‘fui fazendo’, tanto a minha graduação, o meu mestrado e o meu doutorado”, explica. “Não considero que entrei no ensino superior com algo a mais do que uma outra pessoa. Considero que entrei de uma forma normal. Tenho uma característica que não consigo ficar parado. Então, sempre corri atrás de tudo aquilo que eu queria e de uma forma bem rápida. [Se] faltava um reagente eu ia atrás de algum grupo de pesquisa, perguntava a algum outro professor e foi assim”, completa.

O pesquisador ainda disse que, em meio às dificuldades, a persistência foi um dos fatores que o motivaram a continuar seus estudos. “Não foi fácil, tive bastante dificuldade, simplesmente por falta de materiais e equipamentos, nessa logística atual que a gente vive. Não tinha tudo no laboratório do qual eu fazia parte. Assim, eu sempre procurei os laboratórios vizinhos”.

A motivação para prosseguir com a carreira acadêmica também veio do apoio de professores e da universidade. “Devo agradecer muito aos professores da UFU. A grande maioria deles me recebeu de portas abertas. Abriram seus laboratórios para mim e isso permitiu que eu fizesse minhas pesquisas tanto na graduação quanto mestrado e doutorado, nesse tempo tão rápido como foi”, finaliza.

As contribuições que o biólogo espera deixar para a sociedade residem na sua atuação como professor e pesquisador. “Na produção científica, na pesquisa básica, buscar entender, resolver, responder problemas que ainda estão em aberto. De certa forma, isso pode alcançar a população como um todo, a sociedade. Na docência, ao ensinar, ao formar pessoas, aqueles que eu formo, participo do processo de formação deles se tornarem profissionais que farão a diferença onde estiverem”.

Para o futuro, Teixeira almeja continuar desenvolvendo suas pesquisas e buscar um cargo como professor efetivo em alguma universidade federal, já que no momento atua como professor substituto na UFU.

 

Fonte: Relatório de Gestão UFU 2018 e Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação / Arte: João Ricardo Oliveira

 

Palavras-chave: Ciência Biologia Pós-Doutorado UFU

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