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Ciência

Tecnologias para refrigeração: como se refrescar no calor sem prejudicar o planeta

Pesquisadores da UFU buscam soluções para ar condicionado e sistemas de refrigeração menos nocivos ao meio ambiente

Publicado em 28/02/2020 às 15:40 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:52

O consumidor deve ficar atento ao selo Procel (Foto: Marco Cavalcanti)

Em dias quentes como os do verão, tudo o que queremos é ficar em um ambiente fresco, não é mesmo? Seja para trabalhar, descansar ou até mesmo dormir. Nesses momentos, tudo o que desejamos é um ar condicionado deixando o ambiente geladinho e agradável. Mas você sabia que esse sistema de refrigeração pode emitir substâncias nocivas ao meio ambiente e contribuintes para o aquecimento global? 

Em busca de soluções para problemas como este, pesquisadores do Laboratório de Energia, Sistemas Térmicos e Nanotecnologia do curso de Engenharia Mecânica (Lest/Femec/UFU) realizam pesquisas na área de novos fluidos ambientalmente mais favoráveis e menos colaboradores ao efeito estufa. As pesquisas incluem desde a área de sistema de refrigeração aplicado para supermercados até o sistema de ar condicionado. 

O engenheiro mecânico e pesquisador Enio Bandarra conta que, atualmente, o principal assunto de discussão ambiental é o aquecimento global e não mais o buraco na camada de ozônio. Segundo ele, os fluidos que afetavam a camada do gás já foram eliminados em sua maioria. Os poucos que restam, estão sendo eliminados agora. “Hoje, a tendência é a diminuição do uso de fluidos com alto potencial de aquecimento global (GWP)”, afirma o pesquisador.

Muitos modelos de ar condicionado, principalmente o split, possuem um fluido chamado R-410A, que tem alto GWP, como explica Bandarra. Se um quilo dessa substância vaza no meio ambiente, equivale a 2.000 quilos de dióxido de carbono emitidos na atmosfera, uma quantidade muito alta e que classifica o poder de aquecimento global desse fluido em 2.000. É na redução desses danos que as pesquisas do laboratório atuam: pensando em novos fluidos para substituição deste. 

A empresa americana Chemours é uma das fabricantes do R-410A e possui uma parceira com o Lest fornecendo fluidos para serem testados para a verificação do potencial de aquecimento global em termos de eficiência energética nos sistemas de refrigeração doméstica e ar condicionado.

Os pesquisadores do Lest também têm estudado fluidos naturais como o Propano (R-290) para substituir tais fluidos prejudiciais: “esse fluido natural, por exemplo, o GWP dele é na ordem de três. Significa que se um quilo desse fluido vazar, equivale a três quilos de dióxido de carbono na atmosfera e não duas toneladas como no [caso do] outro”, esclarece o pesquisador. 

O engenheiro mecânico e pesquisador Enio Bandarra falou sobre como o consumidor pode fazer uma escolha consciente na hora de adquirir produtos de refrigeração (Foto: Arquivo do pesquisador)

 

PREOCUPAÇÃO AMBIENTAL

Existem diversos acordos mundiais em torno de melhorias ambientais, em destaque o acordo de Kigali, no qual a  Associação Brasileira de Refrigeração, Ar-condicionado, Ventilação e Aquecimento (Abrava), responsável por representar os quatro setores da indústria, reiterou sua posição de diminuição dos níveis de consumo dos HCFCs e HFCs, segundo informações publicadas em seu site oficial. O posicionamento foi reafirmado em concordância com o Ministério do Meio Ambiente por meio do Programa Brasileiro de Eliminação de Fluidos Refrigerantes. 

Bandarra explica o que são os HCFCs, abreviação para Hidroclorofluorcarbono: “São substâncias que agridem a camada de ozônio [...] e ainda são muito utilizadas no Brasil e nos países em desenvolvimento. O fluido se chama HCFC-22, comumente conhecido como R-22”. relata Bandarra.

O R-22 possui elevado GWP(cerca de 1800, o que equivale a 1800 quilos de CO2, caso 1 quilo desse fluido vaze para atmosfera) e já existe uma política de eliminação desse fluido no Ministério do Meio Ambiente.

“Em países desenvolvidos já não se usa mais o R-22. Em países em desenvolvimento, como é o nosso caso, ainda é permitido o uso até 2040.” conclui o pesquisador.

USO DO PROPANO

O Propano é um hidrocarboneto considerado fluido natural, amigável ao meio ambiente, e tem sido apontado como excelente alternativa para os sistemas de ar condicionado. Os pesquisadores do Lest recebem muitos convites para ministrar palestras por todo o país. Bandarra foi convidado para apresentar a empresa indiana Godrej em palestra organizada pela União das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO), agência especializada da Organização das Nações Unidas (ONU) em 2019. A empresa é a única na Índia que está produzindo ar condicionado com Propano. 

O contraponto desse fluido é o fato de ser inflamável por se tratar de um combustível. Mas Bandarra assegura: “Dentro de um sistema de refrigeração você não tem oxigênio presente, você não tem faísca, sendo assim não há perigo de explosão, a não ser em um vazamento.” Essa empresa já produziu cerca de 600 mil unidades de ar condicionado com propano. Eles foram instalados na Índia sem nenhum registro de acidente, sendo referência na área de novas tecnologias.

“Em sistemas de pequeno porte, quando se tem uma pequena quantidade de propano, não há perigo nenhum de se utilizar esse fluido no sistema de refrigeração e ar condicionado”, reitera o engenheiro. 

As empresas ainda pensam em substituir os fluidos nocivos por outro que possui GWP da ordem de 675, mas ainda não é um potencial tão baixo quanto o do propano.

O laboratório verifica, então, algumas outras opções de fluidos, por conta própria, para propor ao mercado.os pesquisadores estudam, em termos de eficiência energética, quais os fluidos que se adaptam melhor a diversos sistemas.

PAPEL DO CONSUMIDOR

A primeira recomendação do pesquisador para o consumidor é se atentar sempre ao consumo de energia de qualquer sistema de refrigeração, seja geladeira, ar condicionado ou mini adegas. Para isso, basta olhar o Selo Procel, aquele que vem colado no aparelho e que possui a classificação por letras. Bandarra recomenda sempre procurar adquirir os que possuem classificação A, pois são os que têm melhor eficiência energética, ou seja, o melhor custo em termo de refrigeração pelo valor que o consumidor está pagando.

“Com isso, você consome menos energia, gera menos dióxido de carbono equivalente no meio ambiente e deve procurar também aqueles sistemas de refrigeração com fluidos ambientalmente corretos”, explica o especialista.

“Hoje quase a totalidade dos refrigeradores domésticos e das geladeiras produzidos no Brasil são feitos com R-600A, chamado isobutano, um hidrocarboneto. Então, a maioria das casas possui esse fluido inflamável, porém em pequena quantidade, 60 ou 70 gramas aproximadamente, praticamente menos do que vem em um isqueiro. Com isso, você colabora com o meio ambiente, tanto em termos de consumo de energia quanto de vazamento desse fluido, que se acontecer, não agride o meio ambiente e não colabora com o efeito estufa”, conclui Bandarra.

 

 

Palavras-chave: Ciência pesquisa aquecimento global ar condicionado propano meio ambiente UFU Engenharia Mecânica

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