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CIÊNCIA

A importância das artes marciais chinesas para o ensino de História

Professor da UFU cria laboratório para pesquisar essas lutas no Triângulo Mineiro e desenvolver projetos de educação nessa temática

Publicado em 24/04/2020 às 15:24 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:52

 

Aula de Kung-Fu ministrada pelo professor Guilherme Amaral Luz em uma escola de Tupaciguara. (Foto: acervo do pesquisador)

 

Karatê, judô, jiu-jitsu e kung-fu são lutas conhecidas no cenário brasileiro e que têm uma representação ampla nas mídias. Porém, o entretenimento não é a única função delas: essas práticas podem ser usadas para o desenvolvimento integral no processo educativo. Esse foi um dos motivos que inspirou o professor Guilherme Amaral Luz, do Instituto de História (Inhis-UFU), a criar o Laboratório Caminhos Marciais Humanidades e Educação Integral (Educam).

O laboratório está localizado no Campus Santa Mônica da UFU, no bloco 3E. O espaço foi criado a partir do projeto de pesquisa sobre a difusão das artes marciais chinesas no Triângulo Mineiro e do programa de extensão “SOMA: Ações Transdisciplinares”, para o ensino dessas artes nas escolas.

“Eu tenho interesse pelas artes marciais desde a infância. Na adolescência, comecei a praticar karatê. Percebi que tinha muita possibilidade de fazer trabalhos juntando o que eu desenvolvia como hobby com o meu trabalho de educador e historiador”, explica o docente.

A junção da educação com as artes marciais beneficia alunos da rede pública de ensino. O professor realizou, em 2016, um projeto em Tupaciguara, que durou três anos. Aos fins de semana, ele realizava uma atividade de ensino de kung-fu. Após a aula, os alunos se organizavam em roda de conversa para discutir a história da China e de outros países asiáticos, abordando questões culturais, geográficas, econômicas e de atualidades.

Essa atividade era vinculada ao Programa Escola Aberta, que buscava o diálogo entre lazer, educação e cultura. Em Tupaciguara, o público principal era formado por jovens e adultos, e alunos da Escola Estadual Sebastião Dias Ferraz. O projeto fez tanto sucesso que até pessoas não vinculadas à escola também participavam das aulas de kung-fu.

Em 2017, foi desenvolvido outro projeto, focado no público infantil na faixa etária de 6 a 10 anos, no distrito uberlandense de Cruzeiro dos Peixotos. Segundo Luz, esses projetos mostram a importância do diálogo entre as disciplinas e formas alternativas de ensino.

 “Nosso objetivo é perceber a relevância das artes marciais para os processos de ensino-aprendizagem, a relevância que elas podem ter para o universo escolar. A proposta é olhar para os sujeitos enquanto integrais e ver que as artes marciais podem ser uma ferramenta de integrar elementos da cultura”, explica o docente.

 

O docente ensinando kung-fu para crianças, em Cruzeiro dos Peixotos. (Foto: acervo do pesquisador)

 

É importante que os professores tornem visíveis a diversidade de sujeitos e as histórias para formação da cidadania. De forma resumida, espera-se que o ensino de História na educação básica possa abordar a diversidade cultural e as várias formas de identidade. Essa diversidade permite que os alunos saibam que existem outros referenciais de produção, circulação e transmissão de conhecimentos.

O diferencial do trabalho de Luz é a inserção da prática corporal para o ensino dessas diretrizes. “Existe uma falácia: Educação Física trabalha com o corpo, a História trabalha o intelecto. Na verdade, a Educação Física também tem que abordar a cultura, para o crescimento intelectual dos alunos. E nós da História, e de outras disciplinas, precisamos incluir as atividades físicas em nossas aulas”, afirma.

 

Pesquisa sobre as artes marciais

 

Em relação à pesquisa, o laboratório está começando a ter parcerias com programas de pós-graduação, principalmente com o Mestrado Profissional em Ensino de História. Esse programa tem previsão de início das atividades ainda em 2020, e tem por objetivo capacitar e atualizar professores de História da educação básica. Luz integra o corpo docente do mestrado, como orientador e professor, e espera que o laboratório receba mais pesquisas no futuro.

A equipe do laboratório escreve a história das artes marciais chinesas em Uberlândia e região por meio das entrevistas e formação de acervos documentais. O objetivo é investigar as experiências e as memórias dos praticantes das artes marciais de origem brasileira, que trabalham na região há algumas décadas.

 

Espaço do Laboratório Caminhos Marciais Humanidades e Educação Integral (Educam), localizado no Campus Santa Mônica da UFU. (Foto: Acervo do pesquisador.)

 

A representação da cultura asiática nas mídias é um tema de pesquisa importante, mas que precisa ser mais estudado no Brasil. Luz explica que houve uma expansão da indústria do cinema de artes marciais a partir das décadas 1960 a 1970, e esse mercado ajudou a aumentar a procura por essas artes em todo o mundo. Esse interesse mundial também chegou forte à nossa cidade:

“Eu fiz uma entrevista com um professor antigo de Uberlândia, de kung fu. Ele relatou que, por volta de 1987, houve um crescimento de praticantes de artes marciais em Uberlândia. Muitas pessoas queriam fazer karatê, kung-fu e outras lutas porque os filmes sobre essas artes marciais eram o foco da programação dos cinemas no centro da cidade. Depois dessa obsessão, outras publicações surgiram, como livros e revistas”, informa o historiador.

A entrevista oral é um dos métodos para estudar as artes marciais chinesas em Uberlândia. Mas os documentos também são essenciais para entender a nossa história. Luz conclui que uma das dificuldades do laboratório é a pouca documentação e a falta de pesquisas anteriores. Por esse motivo, o laboratório está construindo um acervo histórico sobre as lutas na nossa região. A função do acervo é importante para produzir novas pesquisas e preservar os documentos históricos.

O laboratório recebe doações de documentos (certificados, apostilas, diários, fotografias, publicações, livros, manuais e revistas) relacionados às artes marciais chinesas. Para contribuir com o acervo do laboratório, você pode entrar em contato com o professor Guilherme Amaral Luz, por meio do e-mail: guilhermealuz@ufu.br.

 
 
 
 

Palavras-chave: história Kung-Fu artes marciais

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