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LEIA CIENTISTAS

Máscaras do bem

Professor do curso de Letras reflete sobre obrigatoriedade do uso de máscaras, pontuando a origem etimológica do termo, seu sentido duplo e pragmático na atualidade

Publicado em 20/04/2020 às 16:34 - Atualizado em 11/10/2023 às 12:56

 

Foto: Freepik

 

Segundo o Dicionário Etimológico**, a palavra ‘máscara’ significa ‘peça com a feição do rosto de uma pessoa ou de um animal, que se destina a cobrir o rosto com a finalidade de disfarce e/ou proteção’. O termo máscara também, em sua etimologia, remonta à língua árabe, do vocábulo máshara, que denota ‘bufão, personagem ridículo’.

Além disso, o termo máscara nos faz lembrar também dos antigos espetáculos gregos, nos quais os atores interpretavam as peças usando máscaras com feições diversas: alegria, tristeza, terror, etc. O site Origem da palavra relaciona o uso das máscaras à etimologia da palavra persona, que nos deu palavras como personagem, personalidade, pessoa.

Num primeiro momento, observamos que o significado de máscara é, portanto, duplo. Serve tanto para nos protegermos de algo, como também para nos disfarçarmos, isto é, cobrirmos o nosso rosto, a fim de não nos identificarmos. Esse último sentido envolve-se de uma áurea não salutar, pois nos faz pensar em sujeitos que se mascaram para cometer ações injustas.

Há, no entanto, personagens conhecidos que se tornaram célebres pelo uso da máscara, como Robin Hood, o príncipe dos ladrões, e Zorro, ambos conhecidos pelo disfarce, cujas ações, aparentemente ‘injustas, objetivavam beneficiar pessoas injustiçadas por tiranos.

À parte o exemplo de ambos os personagens mascarados – que, com certeza, renderia uma boa discussão – vivemos em um tempo no qual a máscara, enquanto peça, acessório, será cada vez mais utilizada. Em tempos pandêmicos, o sentido do termo é literal, pragmático: usar a máscara enquanto um acessório de proteção individual, para nos protegermos (e também aos outros) da transmissão/contágio do vírus corona, causador da Covid-19.

De certo modo, a utilização desse acessório suspende, por um momento, todas as nossas diferenças. Neste momento, se você sai de sua residência, você vê pessoas com máscaras. Todos iguais. Uma visão homogênea de rostos parcialmente cobertos. A fisionomia se encobre. Não se vê a alegria do sorriso, nem a tristeza facial. Mas apoio o uso recorrendo-me a velhos clichês: um mal necessário; um mal menor.

Nossas singularidades, no entanto, se preservam em nós, em cada residência, quando voltamos para o ambiente familiar, protegidos e protegendo nossos mais próximos. Somos mascarados do bem. Esperamos que esse sentido perdure o tempo necessário de proteção ante o minúsculo ser do mal. Esperamos que as máscaras sejam temporárias para vermos todos os sorrisos pós pandemia, quando vencermos mais este desafio.  

 

*Marcen Souza é professor do Instituto de Letras e Linguística da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Possui graduação em Letras/Inglês e em Letras/Português, especialização em Linguagem e Psicanálise, mestrado e doutorado em Estudos Linguísticos.

 

**(CUNHA, 2007, p. 502)

A seção "Leia Cientistas" reúne textos de divulgação científica escritos por pesquisadores da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). São produzidos por professores, técnicos e/ou estudantes de diferentes áreas do conhecimento. A publicação é feita pela Divisão de Divulgação Científica da Diretoria de Comunicação Social (Dirco/UFU), mas os textos são de responsabilidade do(s) autor(es) e não representam, necessariamente, a opinião da UFU e/ou da Dirco. Quer enviar seu texto? Acesse: www.comunica.ufu.br/divulgacao. Se você já enviou o seu texto, aguarde que ele deve ser publicado nos próximos dias.

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