Publicado em 20/05/2020 às 13:30 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:52
June Almeida instituiu um método que usava o auxílio de anticorpos para aumentar as chances de encontrar os vírus. (Foto: Wikimedia Commons)
Em 1930, nascia June Almeida, em Glasgow, Escócia. June não conseguiu cursar uma faculdade por questões financeiras, mas esse obstáculo não foi suficiente para apagar seu brilhantismo. Aos 16 anos, foi contratada como técnica em um laboratório dedicado ao estudo de alterações em células causadas por doenças (histopatologia). Mais tarde, mudou-se para Londres para trabalhar na mesma área no Hospital St. Thomas, onde futuramente seria o cenário de algumas descobertas realizadas por ela.
Em seguida, passou a residir no Canadá, onde iniciou seu trabalho como técnica de microscópio eletrônico, um equipamento poderoso que possibilitaria a ela muitas descobertas ao observar as estruturas da superfície dos vírus. Nesse período, diversos artigos científicos levavam o seu nome como autora, mesmo ela não possuindo estudo formal. Não só June aprendeu a trabalhar com esse equipamento, como instituiu um método que usava o auxílio de anticorpos para aumentar as chances de encontrar os vírus. Essa técnica se tornou popular e é usada até hoje.
Devido ao seu reconhecimento foi convidada a retornar ao Hospital St. Thomas, em Londres, o que marcou o início do período mais frutífero da sua carreira, com publicações de qualidade que geraram a ela o grau de doutora, mesmo sem ter o diploma de um curso de graduação. Foi em 1964, ao avaliar no microscópio a amostra de um garoto com resfriado, que June mostrou ao mundo a primeira foto de um coronavírus humano. A suspeita era de que o garoto tinha o vírus influenza, mas June logo percebeu que se tratava de uma partícula viral diferente.
À microscopia, a estrutura desse vírus apresenta-se recoberta de projeções que lembram a coroa solar e, por isso, o nome de coronavírus (no latim corona significa coroa) foi escolhido por June e seus colegas pesquisadores. O seu primeiro artigo reportando as imagens do primeiro coronavírus respiratório foi rejeitado por uma revista, por se tratar de “imagens ruins do vírus influenza”. Após sua pesquisa ser ridicularizada nos anos 1960, a virologista foi reconhecida por sua técnica de “fotografar” vírus, ajudando também a registrar imagens em alta qualidade do vírus HIV já na década de 1980.
June Almeida morreu em 2007, aos 77 anos. Nessa época, a maioria dos artigos de revisão e capítulos de livros de virologia continham fotos de microscopia eletrônica de vírus realizadas por ela. Atualmente, ela voltou a ter destaque devido à pandemia de Covid-19 também ser ocasionada por um coronavírus.
*Aline Santana da Hora é professora da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Uberlândia (Famev/UFU). Este texto foi originalmente publicado no blog UFABC Divulga Ciência, que gentilmente autorizou sua reprodução no Comunica UFU.
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