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Saúde

Frio chega trazendo mais riscos de infecções virais

'O que devemos temer é o relaxamento da quarentena', diz pesquisador

Publicado em 08/05/2020 às 15:07 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:52

Samuel do Carmo Lima, sobre o coroavírus: 'Acreditar que o vírus em Uberlândia e região não tem a mesma força que em outras partes do Brasil e do Mundo é uma ilusão'. (Foto: Marco Cavalcanti)

 

Falta pouco mais de um mês para o início do inverno e, nessa época do ano, o frio já começa a dar as caras. Com ele, o ar de regiões como a do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, fica, gradativamente, mais seco. E devido à pandemia causada pelo novo coronavírus (Covid-19), a preocupação com infecções aumenta. 

Conforme o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CPTEC/Inpe), entre os dia 11 e 18 de maio, as temperaturas mínimas ficarão entre 13ºC e 18ºC e as máximas, entre 24ºC e 27ºC. Nesse período, a probabilidade acima de 5% de chuva ocorre somente no domingo, 17 de maio (90%).

Os números são uma previsão e podem passar por atualizações. “Nessa época de transição entre a estação chuvosa para a seca os modelos costumam errar mais”, observa a docente e coordenadora do Laboratório de Climatologia e Recursos Hídricos do Instituto de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Camila Carpenedo.

À medida que o clima fica mais seco e mais frio, as pessoas têm uma certa redução da capacidade de defesa, principalmente das vias aéreas superiores, como explica Thúlio Marquez Cunha, pneumologista do Hospital de Clínicas (HC/UFU). Associado a isso, as pessoas ficam mais em ambientes fechados e, somando a aglomerações, os riscos aumentam.

“É um período também complicado para quem tem doenças respiratórias, como rinite, asma ou doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), o popular enfisema”, afirma Cunha. Esses pacientes, revela o pneumologista, têm uma predisposição maior de entrar em crise nessa época do ano. “E grande parte dessas crises é causada pelas próprias infecções virais”, complementa.

 

Prevenção

Para evitar infecções virais, o pneumologista recomenda hidratar bastante o organismo, ter alimentação saudável, tentar manter o ambiente arejado, evitar aglomerações e, durante a noite com clima seco, colocar um umidificador ou uma toalha molhada ao lado da cama. “Isso ajuda a manter uma umidade razoável e aumenta as suas defesas, o funcionamento das suas defesas, das vias aéreas superiores”, esclarece Cunha.

Como ainda não foi criado um medicamento eficiente ou uma vacina contra a Covid-19, a recomendação é manter o isolamento social, sempre lavar as mãos com sabão ou sabonete ou passar álcool em gel. Para quem tiver que sair de casa, é necessária a utilização de máscaras.

Embora as máscaras sejam recomendadas, o pneumologista alerta para os cuidados ao utilizá-las, como não tocá-las com as mãos contaminadas, inclusive na parte externa.

“Se vai passar a manhã toda fora de casa, você vai levar duas ou três máscaras limpas. A cada duas ou três horas, você tira a máscara e coloca outra limpa. Não junta a limpa com a suja. Chegando em casa, você vai lavar essas máscaras adequadamente”, enfatiza o médico.

 

Sabão, álcool em gel e isolamento social são armas contra o coronavírus. (Foto: Marco Cavalcanti)

 

Coronavírus

Samuel do Carmo Lima, coordenador do Laboratório de Geografia Médica e Vigilância em Saúde, do Instituto de Geografia, adverte que, em relação à Covid-19, doença provocada pelo vírus Sars-Cov-2, o novo coronavírus, o que devemos temer não é a chegada do inverno.

“Ao que parece, tanto em climas frios quanto em climas quentes, o vírus se dissemina com alta infectividade. O que devemos temer é o relaxamento da quarentena, o afrouxamento do isolamento social, a abertura do comércio, que manda as pessoas para a rua”, aponta o docente, salientando que as pessoas não devem se iludir, pois o pico da pandemia ainda não chegou em cidades como Uberlândia.

O geógrafo argumenta que o coronavírus não segue a regra de outros vírus sazonais, como o da gripe, que tem mais incidência no fim do outono e no inverno. “Estamos conhecendo isso somente agora, porque temos visto que a pandemia de Covid-19 se disseminou intensamente em Manaus, que tem clima quente e úmido durante quase todo o ano. O que podemos esperar é que a pandemia ainda vai se intensificar em todo o Brasil, chegando às periferias das grandes cidades e às pequenas cidades”, afirma. 

Lima acrescenta que o isolamento social, com as pessoas ficando em casa, o afastamento de pelo menos um metro e meio de distância uns dos outros e o uso de máscaras têm achatado a curva e empurrado o pico da transmissão para mais à frente e garantindo que o sistema de saúde em Uberlândia não tenha entrado em colapso.

 

Economia

Pensar em abrir a economia, voltar a normalidade, mandar as pessoas para a rua e para o trabalho por acreditar que o vírus em Uberlândia e região não tem a mesma força que em outras partes do Brasil e do Mundo é uma ilusão, ressalta o pesquisador.

“O que aconteceu na Europa e nos EUA deve servir de alerta. Num dado momento, eles pensaram assim e tiveram que voltar atrás, estabelecendo medidas de isolamento social muito mais severas, porque o sistema de saúde já não era capaz de atender a tantos adoecidos e o sistema funerário já não era capaz de enterrar tantos defuntos. Deixo uma alerta: não é hora de relaxar a quarentena. Devemos permanecer em casa”, enfatiza Lima.

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