Publicado em 22/05/2020 às 16:38 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:52
Simulação de subida em rampa pelo programa criado na UFU
A simulação de ambientes no computador é uma ferramenta que tem sido usada com mais frequência, nos últimos anos, pelos cientistas. Por esse motivo, os pesquisadores Felipe Roque Martins e Caroline Araújo Marquez Valentini juntaram os conhecimentos, de áreas diferentes, a fim de tornar o treinamento dos usuários de cadeiras de rodas uma realidade prática, além da virtual.
Os pesquisadores criaram o programa para simular situações do dia a dia, mas que podem ser difíceis de realizar por quem ainda não consegue conduzir a cadeira de forma segura. O programa EWATS - Electric Wheelchair Assessment and Training Simulator (Simulador para Avaliação e Treinamento de Cadeiras de Rodas Elétricas) é dividido em módulos, de acordo com a complexidade da experiência.
Uma das vantagens do produto é a adaptação para cada situação. Por exemplo: se um paciente possui receio em passar por ambientes estreitos, é possível criar um cenário similar para treinar essa atividade específica. “Percebi, durante os testes com o auxílio da Carol, que alguns usuários tinham mais dificuldades em fazer curva para a esquerda; outros não tinham noção espacial da cadeira. As necessidades variam. Decidimos que a melhor forma de abordagem é permitir a personalização do teste”, explica Martins.
A outra inovação da pesquisa é a portabilidade da simulação. Para realizar os testes, é necessário ter um joystick, ou outra forma de controle, anexado ao computador. O objetivo da pesquisa é levar simulações também para os serviços de reabilitação vinculados ao Sistema Único de Saúde (SUS). Com os equipamentos necessários, é possível aplicar a simulação, inclusive, nos lares das pessoas com deficiência.
Valentini é terapeuta ocupacional há mais de 10 anos. Martins graduou-se em Engenharia Biomédica em 2015. Os dois são mestres pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia Biomédica (Ppgeb/UFU) e foram orientados pelo professor Eduardo Lázaro Martins Naves. Os pesquisadores também fazem parte do Núcleo de Tecnologia Assistiva (NTA/UFU).
A colaboração entre ambos foi essencial para a construção do treinamento. Valentini faz a ligação entre as tecnologias assistivas desenvolvidas na UFU até as pessoas com deficiência. A terapeuta ocupacional trabalha na Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD). Na outra ponta do processo, os conhecimentos de Martins sobre a ferramenta Unity 3D, usada para criar jogos em ambientes virtuais, possibilitou a construção da parte técnica e de engenharia.
A parceria da terapeuta ocupacional com a Engenharia Biomédica da UFU é importante para testar as tecnologias com o público-alvo. A pesquisadora explica que todo o processo de testagem é acompanhado pelo CEP - Comitê de Ética em Pesquisas com Seres Humanos da UFU. Após aprovação, ela leva os engenheiros da UFU aos centros de reabilitação de Uberlândia.
“O usuário é convidado para participar da pesquisa. Os testes e protocolos são apresentados e verificamos a aplicabilidade dos recursos e dos dispositivos na prática terapêutica. É um processo multiprofissional que envolve a opinião dos engenheiros e do usuário. Sem a participação da pessoa com deficiência, não tem como testar o que é bom pra ela”, afirma Valentini.
Aplicação do treinamento de cadeiras de rodas utilizando o joystick. (Foto: Acervo da pesquisadora)
A importância do treinamento
A pesquisa começou pela demanda de treinamento de quem usa cadeira de rodas motorizada. Se não há a preparação adequada, os pacientes podem ter riscos de acidentes, ficar insatisfeitos e, como consequência, deixar a tecnologia de lado, o que é uma perda para o SUS.
É função dos profissionais de reabilitação assegurar a indicação correta das tecnologias assistivas e avaliar se os pacientes possuem as habilidades necessárias de condução. Valentini trabalha como gestora, há mais de 10 anos no SUS, e começou a pesquisa para atender às demandas do Ministério da Saúde.
“Infelizmente, a introdução das tecnologias no SUS é demorada. A ciência está à frente do que o sistema proporciona. O meu objetivo é atualizar o mundo da reabilitação com as novas tecnologias, com a parceria dos engenheiros e outros profissionais de saúde”, explica a profissional de reabilitação.
Martins está atualmente aprimorando a simulação em realidade virtual em seu doutorado. O cientista está utilizando as redes neurais, que são sistemas de computador interconectados que funcionam como neurônios do cérebro humano. Assim, as redes são usadas para classificar dados, reconhecer padrões, etc.
Ele está aplicando essa tecnologia para calcular os parâmetros da utilização da cadeira de rodas motorizada, como o tempo gasto para realizar percursos, o número de comandos e identificação de colisões. A rede neural daria uma pontuação a partir do treinamento virtual, permitindo que a avaliação seja feita de forma alternativa.
“A intenção do NTA é disponibilizar esse teste pelo SUS, para que mais pessoas tenham acesso à ferramenta gratuita. A expectativa com esse projeto é que ele possa agilizar e personalizar o processo de prescrição da cadeira de rodas; dessa forma, diminuindo o abandono de tecnologia”, conclui o doutorando.
Valentini trabalha inspirada em três pilares: qualidade de vida, independência e autonomia dos usuários de cadeiras de rodas. O seu foco, além de ajudar as pessoas com deficiência, é fazer com que as pesquisas tenham mais visibilidade no Ministério da Saúde. “Essas ferramentas, como o simulador e outras que a gente desenvolve no laboratório podem ser úteis para implantar nos centros de reabilitação. Queremos desenvolver pesquisas para evitar o prejuízo no ministério”, finaliza.
Caroline realizando treinamento na AACD de Uberlândia. (Foto: Arquivo da pesquisadora)
Palavras-chave: acessibilidade realidade virtual treinamento cadeira de rodas
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