Publicado em 18/09/2020 às 15:06 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:52
Foto: Felipe Amorim
Ainda na infância, Felipe Amorim teve seu primeiro contato com as mariposas-beija-flor (Aellopos fadus), uma espécie que, a primeira vista, não aparenta muita diferença de um beija-flor quando visitando flores em busca de alimento. “Eu tinha entre 10 e 11 anos, quando, pela primeira vez, vi esse esfingídeo (nome da família do inseto), em Palmas (TO). Eu via essas mariposas visitando flores de ingá, mas ainda não sabia bem o que era, se era beija-flor ou não. Foi então que montei um puçá (uma rede para capturar insetos) em casa, sozinho, e fui tentar pegar esses bichos. Depois de muito tempo consegui capturar um, mas, jovem, concluí não se tratar de um beija-flor, mas sim de uma “borboleta” e a soltei”, relata.
Amorim é biólogo e professor de ecologia na Universidade Estadual Paulista (Unesp), no Instituto de Biociências do campus de Botucatu (SP). Com grande interesse em história natural e biologia evolutiva, vem utilizando a polinização por mariposas esfingídeas e outros grupos de polinizadores como modelo principal para pesquisas na área de ecologia e evolução.
Na UFU, o biólogo começou a estudar polinização durante sua iniciação científica, sob orientação do professor do Instituto de Biologia (INBIO) Paulo Eugênio Oliveira. O foco do projeto era a polinização de esfingídeos no Cerrado, tema ainda pouco estudado no mundo. Foi quando, dez anos depois, as mariposas-beija-flor voltaram a cruzar o caminho de Amorim.
Nesses estudos, o então aluno observou a relação entre esfingídeos e plantas. Nessa ocasião verificou que mariposas beija-flor do gênero Aellopos se assemelhavam com beija-flores de pequeno porte e bico curto, como aqueles do gênero Lophornis. Ambos animais visitavam flores semelhantes na região do Cerrado, e além disso, possuem uma faixa branca dorsal característica.
Beija-flor (à esquerda) e mariposa (à direita) apresentam características similares em voo e, em destaque, a listra no dorso (Foto: Felipe Amorim)
Foi a partir desses estudos que, em agosto de 2020, AMORIM PUBLICOU O ARTIGO PROPONDO A NOVA HIPÓTESE DE MIMETISMO NA REVISTA ECOLOGY. A proposta que será testada busca mostrar que, diferentemente dos mimetismos Batesiano e Mülleriano, que despertam um efeito negativo sob a perspectiva dos predadores em relação às potenciais presas - por representarem perigo, como toxicidade, peçonha, ou até gosto pouco agradável -, a reação causada pela mariposa-beija-flor, por sua vez, ao se disfarçar de uma ave, faz com que seus predadores nem considerem um ataque.
“O mimetismo é um processo essencialmente visual e, sendo assim, quando o predador visualiza a presa em potencial e avalia o elevado risco que tal presa representa, ele evita atacá-la por temer as possíveis consequências negativas. Mas no caso da mariposa-beija-flor, quando o predador vê esse animal adejando sobre as flores como um beija-flor, ele simplesmente a ignora não por temer algum risco ou efeito negativo, mas sim porque esse bicho nem faz parte de sua dieta”, explica o professor.
Se a hipótese for comprovada, as mariposas-beija-flor do gênero Aellopos serão mais um tipo de mimetismo observado em terras brasileiras, já que o Batesiano (Henry Walter Bates) e o Mülleriano (Fritz Müller) também foram resultados de trabalhos desenvolvidos no Brasil. “Este é o trabalho de uma vida, e assim como eu, também é filho da Universidade Federal de Uberlândia”.
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Palavras-chave: Biologia Divulgação Científica natureza cerrado
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