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Ciência

Óleo de Copaíba impede infecção de causador da toxoplasmose nas células humanas

Cientistas da UFU, da USP e da Unifran publicaram estudo preliminar na revista Scientific Reports, do grupo Nature

Publicado em 28/09/2020 às 15:27 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:52

 

As espécies do gênero Copaifera são abundantes na região da Amazônia. (Fotos: arquivo dos pesquisadores)

 

O Toxoplasma gondii, protozoário causador da toxoplasmose, percorre um longo caminho até infectar as células humanas: ele fica alojado nas fezes de felinos e pode chegar até nós por meio da ingestão de comida e água contaminadas. Uma das manifestações mais graves da doença acontece quando uma gestante a desenvolve e transmite para o feto.

Por isso, os pesquisadores focaram em estudar a toxoplasmose congênita e descobriram que a oleorresina de algumas espécies de árvores do gênero Copaifera age como uma barreira para o ingresso do Toxoplasma gondii nas células da placenta. Essas árvores são abundantes no Brasil, principalmente na região da Amazônia. A descoberta foi publicada no dia 16 de setembro, na revista SCIENTIFIC REPORTS, vinculada ao grupo Nature.

O artigo foi assinado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP/Ribeirão Preto) e Universidade de Franca (Unifran), que ajudaram na coleta, caracterização e tratamento dos óleos das plantas utilizados no estudo. Aqui, na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), os experimentos foram conduzidos no Laboratório de Imunofisiologia da Reprodução do Instituto de Ciência Biomédicas (ICBIM/UFU), sob a orientação e supervisão da professora Eloisa Ferro e do biólogo Samuel Cota Teixeira (bolsista de pós-doutorado da Capes) - ambos autores do artigo. A pesquisa teve financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig) e Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp).

O quadro epidemiológico da Toxoplasmose no Brasil é expressivo. “A prevalência dessa doença é extremamente alta. No Brasil, costumamos falar que em uma sala com 10 indivíduos, cerca de 6 a 7 são infectados pelo Toxoplasma gondii”, afirma Teixeira. “A maioria dos infectados não manifesta sinais clínicos que remetem a essa infecção. O grande problema da toxoplasmose acontece quando ela é desenvolvida em indivíduos imunocomprometidos ou em gestantes.”

 

As consequências da toxoplasmose na gestação

Segundo o MINISTÉRIO DA SAÚDE, a ocorrência dessa zoonose em gestantes pode causar aborto, ou nascimento de criança com icterícia, macrocefalia, microcefalia e crises convulsivas. Além disso, Teixeira destaca que a toxoplasmose congênita prejudica a saúde antes mesmo do nascimento.

“Quando o médico detecta que a gestante tem a infecção, mas o feto ainda não foi atingido, é feita a prescrição de um medicamento antiparasitário que é efetivo apenas para ela. Entretanto, quando ambos são infectados, o tratamento é feito com a combinação de três drogas que trazem efeitos colaterais para os dois: se o tratamento é aplicado no primeiro trimestre, a criança em formação pode sofrer mutações e existe a possibilidade de problemas gastrointestinais na gestante, por exemplo”, explica Teixeira.

É por essas razões que o abandono do tratamento é muito comum. Além disso, a resistência dos parasitos às medicações padronizadas tem aumentado, segundo o biólogo. Logo, a efetividade dos fármacos pode diminuir com o tempo.

 

A inovação da pesquisa

Os cientistas aplicaram a oleoresina de diferentes espécies de copaifera em cultura de células e em placentas com a presença do Toxoplasma gondii. Cabe destacar que esse material biológico foi coletado no Hospital de Clínicas da UFU com a autorização das pacientes.

“Nós observamos que as oleorresinas das diferentes espécies apresentaram uma ação extremamente importante ao passo de inibir a infecção pelo Toxoplasma gondii. Muitas vezes, a ação da oleorresina foi até mesmo melhor comparada às drogas clássicas. Essa ação antiparasitária se dá de duas formas: ação direta contra o parasito intracelular e também pela ligação com as células, fazendo que elas fiquem mais fortes e consigam combater melhor a infecção”, informa Teixeira.

Esse é um estudo inicial. Ainda não é possível dizer que o óleo de copaíba seja eficaz no tratamento da Toxoplasmose em seres humanos, porém, essa descoberta será aprimorada e, dependendo dos resultados, possa ajudar os médicos na prática clínica. “A oleorresina é rica em princípios ativos, mas ainda não sabemos exatamente as substância que estão levando ao controle da infecção do parasito. Então, o próximo passo é e avaliar e determinar os princípios ativos anti Toxoplasma gondii, e aumentar os estudos saindo da parte in vitro e tentando levar para modelos in vivo, como camundongos”, finaliza o cientista.

 

Science Reports é uma revista científica de acesso aberto publicada pelo grupo Nature.

 

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Palavras-chave: toxoplasmose congênita copaíba

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