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CIÊNCIA

Docente de Medicina defende doutorado com pesquisa sobre saúde de pessoas trans

Também houve nomeação como professor "Colaborador Honorífico” na área de Saúde Pública/Saúde Coletiva em universidade europeia

Publicado em 19/10/2020 às 17:58 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:52

Danilo Paulino (de camisa listrada) e docentes da Universidad Miguel Hernandéz durante Minicurso de Innovación Docente Aplicada (Foto: arquivo pessoal)

 

Danilo Borges Paulino, hoje docente do Departamento de Saúde Coletiva na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), iniciou seus estudos em Medicina em 2007. Nessa época, já tinha certeza de que queria ser professor, mas ainda sem saber para qual área. “Durante a graduação, percebi que o campo que mais se aproximava daquilo que eu buscava era o da saúde pública, saúde coletiva”. Hoje, atua com as temáticas de Educação em Saúde, Promoção em Saúde, Educação Popular em Saúde, Gênero e Sexualidade e Saúde.

Na Espanha, o professor defendeu a tese intitulada ‘A família e a dinâmica de suas relações no cuidado em saúde de transexuais’, estudo que conclui a necessidade de desenvolvimento de ações de Educação em Saúde e Educação de Gênero para médicos, bem como demais profissionais da saúde e também a toda comunidade, para que possa se conhecer mais sobre a transexualidade, e assim combater a violência e preconceito contra a população trans, o que influencia diretamente na melhora da saúde dessas pessoas.

Ainda na graduação, Paulino começou a estudar as questões de gênero na Medicina, mais especificamente as escolhas de especialidades médicas de acordo com o gênero. “Porque, na Medicina, tem muito de: ‘tal especialidade é pra homem, porque precisa de força. Tal especialidade é de mulher, porque tem a carga horária melhor para cuidar dos filhos’. Foi aí que comecei a estudar as questões de gênero e sexualidade”, conta o professor.

Mestrado

Quando terminou a graduação, em 2012, Paulino foi convidado a ser médico voluntário do Centro de Referência Atenção Integral à Saúde Transespecífica (Craist) do Hospital de Clínicas (HC/UFU), onde ficou por dois anos, durante o período de residência. “E durante esses atendimentos das pessoas trans que eu percebi que a questão da família era muito importante. As consultas muitas vezes eram rápidas, e tinha alguma relação entre família e saúde que a gente não tava conseguindo captar”, comenta. O professor logo ingressou no mestrado, quando desenvolveu estudos a partir dessas observações, apurando A POPULAÇÃO LGBT E O ACESSO NA SAÚDE DA FAMÍLIA NA PERCEPÇÃO MÉDICA.

Doutorado e nomeação

Durante o período do mestrado, Paulino já começava a pensar no que desenvolver no doutorado a partir de sua base de estudos sobre saúde coletiva feita em Uberlândia. Tão logo concluiu o mestrado, começou doutorado na Universidade de São Paulo (USP) e iniciou nova pesquisa em setembro de 2016, sob orientação da professora Rosana Machin Barbosa. O tema da tese seria relações familiares e saúde de transexuais.

Ainda no começo dos estudos doutorais, Paulino identificou que essa problemática não se restringia apenas ao Brasil. Foi quando o professor começou a procurar oportunidades de estudo no exterior, e logo encontrou. A USP havia recentemente assinado parceria com a Universidad Miguel Hernández, em Elche, na Espanha, para Convênio de Dupla Titulação de Doutorado Internacional.

Paulino seria o primeiro estudante de doutorado da parceria e também receberia orientação de um professor local até a defesa da tese. Em agosto de 2018, com auxílio de bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), foi para a Espanha, onde esteve por um ano.

 

 arquivo pessoal)

Paulino em sua defesa de doutorado por videoconferência (Foto: arquivo do pesquisador)

 

Ao chegar na UMH, foi convidado a dar aulas de Saúde Pública para o curso de Medicina local durante os intervalos de suas atividades de pesquisa. Com a repercussão positiva entre alunos e professores, Paulino foi nomeado professor/colaborador honorífico, sendo essa indicação um reconhecimento a docentes que contribuem de forma eficaz com as atividades da instituição pela expertise em sua área de atuação.

“Compartilhei com docentes e discentes da UMH as coisas boas que a UFU me ensinou e que aqui são feitas, valorizando a nossa instituição. Na UMH eles gostaram muito das inovações desenvolvidas nos componentes curriculares de Saúde Coletiva do curso de Medicina da UFU”, pontua o professor.

Além disso, foi solicitado a Paulino desenvolver para os docentes da UMH um curso sobre as Metodologias Ativas de ensino-aprendizagem que aplica na UFU. O curso “Innovación Docente Aplicada” ocorreu em duas edições, e contou com participação de professores não apenas do curso de Medicina da UMH, como também de diversas áreas da universidade.

Mesmo à distância, Paulino mantém hoje a colaboração internacional com a Espanha, realizando atividades de ensino e pesquisa de forma remota, colaborando com a internacionalização da UFU.

Tese

Já de volta ao Brasil, o professor defendeu a tese de seu doutorado por videoconferência, em setembro de 2020. O estudo também recebeu orientação da professora María Pastor-Valero, da UMH.

“Foi uma experiência de trocas, não só recebi muito, como também pude levar muito da UFU pra lá, de tudo que aprendi durante todos esses anos. Ainda que eu tenha recebido reconhecimento pela minha atuação, essa atuação não teria sido possível sem a formação que recebi em Uberlândia e sem o apoio que recebi da gestão do curso e do Departamento de Saúde Coletiva, que me formaram”, declara o professor, que finaliza dizendo: “trazer visibilidade ao tema já é o primeiro passo para ajudar a população trans. Debater isso no meio acadêmico é muito importante”.

Palavras-chave: Ciência e Saúde Transexualidade Capes doutorado

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