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Dia da Mulher

Malleus Maleficarum

Ainda somos punidas por 'bruxarias'?

Publicado em 08/03/2021 às 03:02 - Atualizado em 22/08/2023 às 20:26

De acordo como o dicionário ‘Oxford Languages’ bruxa é substantivo feminino designado a, no ocultismo: mulher que tem fama de se utilizar de forças sobrenaturais para causar malefícios, perscrutar o futuro e fazer sortilégios; feiticeira. Igualmente utilizada como adjetivo, significa mulher muito feia e/ou azeda e mal-humorada.

A ideia de bruxa, bruxaria e feitiçaria se confunde com a história das mulheres na Idade Média. “É quando surge essa imagem da mulher bruxa, para as mulheres, tanto na história quanto na imaginação popular do século  XVI. Mulheres que estavam à margem das instituições de poder. Que mulheres são essas? Parteiras, curandeiras, carpideiras... mulheres que tinham todo um conhecimento relacionado às tradições pagãs, tradições imemoriais de conhecimento da natureza, de conhecimento do corpo.”, explica Raquel Discini, pesquisadora sobre gênero e  professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Uberlândia (Faced/UFU). No século XVI elas eram mulheres perigosas, justamente porque estavam à margem do que se preconizava na época. Esses conhecimentos, condenados àquele período, é o que hoje conhecemos como aromaterapia, fitoterapia e farmacologia doméstica. Foram elas que descobriram de forma empírica, e pela tradição oral, que uma planta era melhor para curar dor de cabeça, ou de barriga, de dente… Esse conhecimento se tornou uma  ameaça à ordem simbólica que a instituição masculina - Estado e Igreja instituíram à época.

Em 1487 foi publicado, pelo clérigo católico Heinrich Kramer, o documento Malleus Maleficarum “traduzido como ‘Martelo das Bruxas’ ou ‘Martelo das Feiticeiras’ um manual inquisitorial, ou seja, um manual utilizado pelo tribunal da Santa Inquisição no final do século XV justamente para identificar essas mulheres que passaram a ser vistas como uma ameaça à igreja medieval e aos saberes de então’, ressalta Discini. Esse livro descrevia em detalhes como identificar, julgar e punuir uma bruxa. Reforçou a misoginia em torno da sexualidade feminina devido aos exames sexuais aos quais as supostas bruxas eram submetidas.

Começou assim, o período de ‘Caça às bruxas!' que  durou aproximadamente três séculos, a obra corroborou com incontáveis mortes de mulheres na forca e na fogueira (além dos castigos físicos), tendo o seu fim com a ascensão do Iluminismo. 

Esse movimento é uma ponte entre os séculos passados e os dias atuais. “A gente não pode falar de feminismo como movimento organizado antes do século XX. O movimento feminista, enquanto uma proposta politica, é uma característica da Europa do final do século XIX e início do século XX. Então, não podemos, jamais, falar de feministas no tempo das bruxas.” Porém, é com a ascensão do feminismo que nos permite trazer de volta a verdadeira imagem das bruxas na nossa história, analisando essas mulheres cruelmente injustiçadas nos aspectos religiosos, sociais e políticos.

 

O Martelo das Bruxas e o feminicídio

Com o início do século XIX cessou o ‘Caça às bruxas’? De acordo com os dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2020, NÃO!

Em 2019, o país registrou 1.326 vítimas de feminicídio, um aumento de 7,1% em relação a 2018. O feminicídio é o  assassinato de uma mulher  devido a contextos discriminatórios do autor do crime quanto à identidade de gênero da vítima. Ou seja, pelo simples fato de ser uma mulher! Desses homicídios divulgados no anuário, 90% foram cometidos pelos parceiros das vítimas. Se analisados os dados quanto à violência doméstica relativos ao número de ocorrências de lesão corporal, foram 266.310. Isso significa que a cada dois minutos uma mulher sofreu algum tipo de agressão física em 2019.

 

PEÇA AJUDA!

Ligue gratuitamente para o número 180 ou para o 100 para falar com a  Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos. Discando gratuitamente, além de denunciar você recebe orientações sobre seus direitos e outros serviços próximos. O Ligue 180 funciona 24 horas por dia, todos os dias da semana. O contato também pode ser realizado via email: ligue180@mdh.gov.br.

A Delegacia Virtual de Minas Gerais permite o registro de denúncias de violência doméstica e familiar contra a mulher pela internet. Também é possível solicitar medidas protetivas de urgência neste canal. 

 

#FicaDica

Livro:

*A Feiticeira, de Jules Michelet;

*Mulheres e caça às bruxas, de Silvia Federici;

*O martelo das feiticeiras, de Heinrich Kramer.

 

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