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Especial

Competência e dinamismo femininos no comando da UFU

Primeira matéria da série em homenagem ao Dia Internacional da Mulher apresenta um bate-papo com a única pró-reitora e uma das diretoras que compõem a atual equipe gestora da Universidade Federal de Uberlândia

Publicado em 07/03/2020 às 16:21 - Atualizado em 22/08/2023 às 20:30

Elaine Calderari e Vânia Bernardes. (Fotos: Milton Santos)

Elas são o que se convencionou chamar de “Mulher do Século XXI”. Mães, esposas e, acima de tudo, senhoras das próprias decisões, Elaine Saraiva Calderari e Vânia Aparecida Martins Bernardes são facilmente encontradas pelos corredores, gabinetes e salas de reuniões da Reitoria da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Em comum, elas possuem uma trajetória acadêmica marcada pelo foco, dedicação e obstinação, superando inúmeras dificuldades e todos os tipos de preconceito que surgiram pelo caminho até aqui. Desde 2017, são as titulares, respectivamente, da Pró-Reitoria de Assistência Estudantil (Proae) e da Diretoria de Extensão (Direc) – vinculada à Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (Proexc). Como as agendas de ambas estavam lotadas nesta semana, em meio aos preparativos para o início de mais um ano letivo, a saída foi utilizar o WhatsApp para entrevistá-las. Confira o resultado, abaixo: 

 

Portal Comunica - Comecemos falando um pouco sobre a vida particular. Citem, por favor, seus estados civis e os nomes e idades dos filhos e netos.

Elaine Saraiva Calderari – Sou casada e tenho um filho, o Rafael, de apenas 2 aninhos. 

Vânia Aparecida Martins Bernardes – Casada. Mãe de três filhos já adultos: Vitalino (35), André (32) e Felipe (30). Os netos são dois casais: Joyce (14), Gabriela (12), Kevin (10) e Vitalino (4). 

 

Quais são as suas formações acadêmicas e titulações?

Elaine – Comecei fazendo um curso técnico em Edificações em Ribeirão Preto (SP), no ano de 1999. Obtive a graduação em Arquitetura e Urbanismo na UFU em 2006 e também cursei aqui o mestrado em Engenharia Urbana na área de Planejamento e Infraestrutura Urbana, obtendo este título em 2012. Por fim, fiz o doutorado em Arquitetura e Urbanismo na Universidade de São Paulo (USP), entre os anos de 2014 e 2018. 

Vânia – A minha graduação em Pedagogia foi em 1991, pelas Faculdades Integradas do Triângulo (FIT). Nos anos seguintes, obtive duas especializações aqui na UFU: em Filosofia (93) e em Educação Infantil (96). Em 99, conquistei a titulação do mestrado em História da Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). O doutorado em Educação foi concluído em 2005, na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Mais recentemente, em 2014, fiz um pós-doutorado em Educação pela Florida Christian University, nos Estados Unidos. 

 

Tiveram muitas experiências profissionais fora da UFU?

Vânia – Já trabalhei como supervisora pedagógica na Escola Estadual Segismundo Pereira e em outras escolas como supervisora ou professora de Filosofia e também de Sociologia – uma disciplina que, na época, havia sido recém-implementada para o que se chamava de Segundo Grau. Foi um período que considero fundamental, pois me permitiu a oportunidade de vivenciar o que realmente era ser professora. Eram rotinas e grandes desafios que me fizeram perceber o que era a educação e quais eram as principais mazelas que a afetavam, assim como a sociedade, no todo. No mais, já lecionei na Faculdade Católica de Uberlândia e em outras instituições de ensino superior, em Araguari e Monte Carmelo. Também tive uma experiência com questões da educação profissionalizante em Brasília, no ano de 2007, quando fui aprovada em um processo seletivo para atuar como consultora educacional no Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD/MEC). Isso ocorreu exatamente antes de eu tomar posse como servidora efetiva da UFU. 

Elaine – Basicamente, posso resumir que as principais experiências que tive fora da UFU foram participações em escritórios de arquitetura e urbanismo, projetos urbanos e planos diretores, fiscalização de obras e restrições urbanísticas em Ribeirão Preto e Uberlândia e de Planos Diretores em algumas cidades mineiras. 

 

E com relação à trajetória como servidoras da UFU? Desde quando trabalham na universidade e por quais unidades e cargos já passaram?

Elaine – Tomei posse como docente substituta na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAUeD) em 2007, sendo que até 2009 ministrei as disciplinas de “Teoria do Urbanismo I e II”, “Planejamento Urbano e Regional, Arquitetura, Urbanismo e Meio-Ambiente” e “Atelier de Projetos Integrados na área de Urbanismo”. Entre 2010 e 2015, já como técnica administrativa da Prefeitura Universitária (Prefe), atuei como gerente de Projetos na Diretoria de Infraestrutura (Dirie), participando da elaboração de projetos arquitetônicos e urbanísticos dos campi da UFU, bem como da gestão e planejamento de projetos. Por fim, desde 2017, estou à frente da Pró-Reitora da Assistência Estudantil (Proae), atenta a questões de planejamento, supervisão e coordenação das ações de ingresso, permanência e conclusão de curso da comunidade estudantil, sobretudo, por meio da implementação da Política de Assistência Estudantil. 

Vânia – Ainda na época de acadêmica de graduação (1985), fui bolsista na Reitoria, auxiliando nos arquivos. Por volta de 1986 ou 87, fui contratada pela Faepu para trabalhar na Biblioteca do Campus Santa Mônica e lá permaneci até 92. Quem me incentivou a fazer provas para ser docente da UFU foi meu professor de Filosofia, o Belucci. Eu nem cogitava esta possibilidade. Após algumas tentativas frustradas, ingressei como professora substituta na Faculdade de Educação (Faced). A posse como docente efetiva ocorreu em 2008. Naquela ocasião, assumi a docência no curso de Pedagogia da antiga Faculdade de Ciências Integradas do Pontal (Facip), em Ituiutaba. Com o passar dos anos, fui atuar como membro da diretoria do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros (Neab), participei de assessorias e comissões na UFU, trabalhando em prol de dar visibilidade à temática multicultural, à diversidade e implementação de políticas públicas, a partir de um olhar diferenciado para o multiculturalismo e a diversidade que ocorrem na nossa instituição. É o que venho fazendo até então. 

 

Professora Vânia, na sua opinião, esta experiência anterior no Neab foi determinante para a escolha do seu nome para o comando da Direc? Qual tem sido o foco da sua atuação nesta diretoria?

Vânia – Certamente. Tivemos êxito durante esta trajetória no núcleo, onde participamos de projetos relevantes, a exemplo do “A Cor da Cultura”, e promovemos curso de especialização e aperfeiçoamento, no intuito de sensibilizar toda a sociedade sobre como o racismo, de uma forma geral, trazia – e continua a trazer – prejuízo para todas as áreas (econômica, social, nas artes, etc). Em outras palavras, não é apenas para a comunidade negra que o racismo é prejudicial. O Neab defende uma concepção de que isso traz e difunde um mal que impede avanços à sociedade brasileira. Quando recebi este convite para assumir a Diretoria de Extensão, tive muita serenidade e confiança para aceitá-lo, até mesmo porque já tinha exercido a função de assessoria na Direc. O foco da nossa gestão atual é na institucionalização de ações de extensão, o que tem se dado por meio da implementação de Coordenação de Extensão em cada uma das Unidades Acadêmicas e Especiais, fomentando a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão e, ainda, com foco no multiculturalismo e na diversidade na UFU. 

 

É uma área muito complexa?

Vânia – Diria que a palavra é “desafiadora”. Este desafio da atividade de extensão se dá a partir do momento em que ela se aproxima da comunidade externa e torna-se necessário que estabeleçamos um diálogo com toda a sociedade, a fim de promover o impacto social. A troca de experiências entre os diversos grupos é tida como a maior ação, aquilo que há de maior relevância dentro de uma universidade. Fazemos este trabalho na UFU. 

 

E o que diz a única pró-reitora da UFU sobre a responsabilidade de estar à frente de uma área importantíssima, em contato constante com os alunos – em sua grande maioria, muito jovens e numa das fases mais complexas da vida?

Elaine – Minha percepção é que ainda faltam incentivos e estímulos para a participação feminina entre os agentes políticos. Esta presença é necessária; e que esses cargos sejam aceitos, ocupados e respeitados nesta universidade, ainda mais quando ela estabelece entre os princípios do seu próprio Estatuto algumas questões como liberdade, democratização, defesa dos direitos humanos, paz e igualdade de condições. Desta forma, o incentivo deve ser constante e esta premissa nos tem levado a trabalhar em uma política de valorização e proteção das mulheres na UFU. Temos mais mulheres na comunidade discente e entre as técnicas administrativas, mas não entre a comunidade docente. Ainda assim, é FUNDAMENTAL aumentarmos a participação feminina como agentes políticos, inserindo mais mulheres na equipe de gestão.

Em relação à Proae, consiste em uma luta histórica pela categoria discente, seja na busca de redução das desigualdades sociais, mas também na promoção da justiça social e a equidade de oportunidade, por meio do acesso, permanência e êxito dos estudantes em suas qualificações.  Para mim, é uma grande honra estar à frente desta pasta, junto com uma equipe altamente qualificada no atendimento aos discentes.

Hoje é possível dizer com toda a propriedade que, assim como o Ensino, a Pesquisa e a Extensão, a Assistência Estudantil atende diretamente 13% dos nossos discentes em auxílios diretos e mais de 73% de toda a comunidade universitária discente, com algum dos benefícios que nossa pasta tem promovido ao longo dos últimos anos. Apesar de ainda estarmos longe de conseguirmos atender toda a demanda recebida, é sim possível afirmar que a Assistência Estudantil é atualmente um dos pilares do Ensino Superior público. Desta forma, o impacto promovido pela falta de incentivo, recursos e investimentos na área pode provocar grandes rupturas no desenvolvimento profissional dos nossos jovens e, consequentemente, no desenvolvimento tecnológico, científico, cultural, político, econômico e social do Brasil.

 

Como se dá o diálogo com estes jovens?

Elaine – É que também sou jovem, oras! Não sou?...(risos)... Eu e os demais gestores e equipe da Proae buscamos uma linguagem acessível e uma gestão colaborativa e participativa. Estamos sempre próximos aos estudantes, sendo que muitos deles, inclusive, se tornam grandes amigos(as) nossos. Queremos que os acadêmicos sejam incluídos no processo de tomada de decisão da pró-reitoria, em suas ações e atividades. Prova disso é o incentivo ao Fórum de Assuntos Estudantis, com a definição de uma nova metodologia, capaz de promover a troca de experiências e vivências, dando voz aos estudantes de forma individual e coletiva. Assim, abrimos espaço à participação e contribuição, sob diferentes olhares, ideologias e necessidades, para a construção de caminhos mais assertivos para a categoria discente.

 

Na sua opinião, quais "características femininas" refletem positivamente nas suas atividades do seu cargo?

Vânia - A avaliação positiva que eu faço, como diretora, é por testemunhar a forma como nossa equipe se preocupa com o outro, em se colocar no lugar, no espaço da pessoa. O quadro de servidores da Proexc é composto predominantemente por mulheres e preciso enaltecer todas elas pelo zelo com os nossos projetos, o acompanhamento e, inclusive, a prestação de contas. Falando particularmente de mim, como mulher, profissional, mãe de três filhos, esposa e filha, aprendi a lidar com diversas demandas ao mesmo tempo e desenvolvi habilidades que me são cruciais atualmente para o bom desempenho na Direc.

Elaine – Sendo sincera, acho tendencioso entender as “características femininas” como rótulos ou estereótipos de cada sexo ou gênero; afinal, o “lugar da mulher é onde ela quiser”, com suas competências e habilidades para a função a ser exercida. Em outras palavras, competência, aptidão e profissionalismo independem de fatores como sexo, cor, raça, credo ou orientação política, por exemplo.

 

Já sofreu algum tipo de preconceito ou sente que sofre? Caso a resposta seja sim, como lida com isso?

Elaine - O preconceito aparece de várias formas. Quando ocorre de forma clara e transparente, é necessário denunciar, pois sempre que ficamos caladas sobre um ato de preconceito estamos fortalecendo uma sociedade desigual, injusta e competitiva, na qual preconceito, inclusive, passa a ser utilizado como técnica política de poder sobre o outro. Também há aqueles preconceitos que passam pela “sutileza” de pequenas ações e situações cotidianas: olhares e comentários inoportunos; piadas de mau gosto; uma proposta/ideia que é sua e passa a ser de um colega do sexo oposto; uma reunião em que você precisa levantar a voz para ser ouvida; entre outras. Por isso, é importante estarmos sempre em alerta para captarmos essas “sutilezas”, dialogarmos abertamente sobre o assunto e, se for preciso, esclarecendo os envolvidos de que esse é sim um tipo de preconceito.

Vânia – Sofri preconceitos de diversas ordens: de gênero, social e, em especial , o racial, o que de certo causou constrangimentos, influenciou na minha construção identitária, levando-me a uma postura, ao contrário do que muitos esperavam, de luta para superar os obstáculos.Trago no meu interior que “hoje vou vencer mais um dia, independente do que acontecer”; “nada vai me parar”... Conheci uma frase muito interessante de um grupo de universitários americanos que sofreram todo tipo de racismo e no dia da formatura proferiram o seguinte discurso: “tentaram nos enterrar, mas não sabiam que nós éramos sementes.” Levo isso pra minha vida, em todos os sentidos. Sei que há preconceito, em todos os locais, mas isso não foi impedimento para que alcançasse meus objetivos. Sinto-me cada vez mais fortalecida.

A próxima pergunta é sobre como é a sua rotina habitual de trabalho...

Elaine – A rotina de trabalho é sempre densa e, portanto, é obrigatório ter foco e planejamento. De fato, como meus próprios colegas dizem, sou a mulher das planilhas: as digitais; grandes; pequenas; coloridas; por ordem; por meta; por atividade; etc. Também tenho as “planilhas mentais”, onde busco estabelecer uma lista diária de prioridades, inclusive categorizando-as em urgências ou emergências. Acredito que quando colocamos no papel, de forma sistematizada, é possível estabelecer as prioridades, além de sociabilizar com todos os envolvidos onde estamos e onde queremos chegar.

Como tudo na vida, nada é 100% controlável e precisamos exercer nosso poder de resiliência e flexibilidade, principalmente quando estamos em um espaço de gestão, que envolve a administração e o gerenciamento das mais variadas atividades, e como gestora, envolvida tanto no planejamento, como na execução e em sistematização de resultados da equipe. Para não se perder na enorme quantidade de demandas, é importante manter o foco em quatro aspectos referentes às ações: diagnóstico, estruturação, implementação e consolidação.

A participação em reuniões, a definição e tomada de decisões variadas, a produção de relatórios/análises e documentos, com respostas institucionais, preenchem uma grande parte do dia. Todavia, mantenho uma regra: sempre receber e atender quem me procura, pois entendo que a disponibilidade em atender as pessoas, ouvi-las e buscar soluções conjuntas sejam princípios básicos para qualquer servidor público.

No mais, busco exercer o papel de gestora pública, ou seja, administrar e gerenciar as demandas, o orçamento, as atribuições e as funções de cada diretoria e suas divisões, entendendo as especificidades e necessidades de cada uma. São necessários estudo, dedicação e troca de informações/experiências de forma constante, além de exercer a transparência, a honestidade e diálogo junto à equipe, traçando metas e estratégias de forma participativa e coletiva. 

Vânia – A rotina de trabalho é extremamente diversificada, uma vez que há: atendimentos ao público; viagens a trabalho; atendimentos a demandas federais que, por vezes, têm de ocorrer rapidamente; elaboração de legislação interna; tomadas de decisões; elaboração de relatórios para a esfera federal; gerenciar o trabalho da equipe, etc. Ou seja, os dias são muito cheios, porém, não há como estabelecer uma constância das ações que nele são desenvolvidas.

 

Quais são as suas atividades e os hobbies fora da UFU? O que gosta de fazer sozinha ou com familiares e amigos? Como cuida de si?

Vânia – Gosto de viajar para locais diversos, apreciar gastronomia diferenciada, deliciar-me em momentos sozinha, ter outros momentos somente com meu esposo junto à natureza, e também aqueles com a família e netos. Dedico-me também à religiosidade.

Elaine – Basicamente, procuro atividades de convivência e lazer junto à minha família e a amigos, seja na minha casa, na casa deles, no clube, na praça, no parque ou em algum lugar da cidade. Como “hobbies”, “quando é possível”, busco viajar, conhecer novos lugares, novas arquiteturas, novas pessoas e culturas. A leitura é constante. Adoro ir a livrarias e comprar novos livros físicos, pois acho muito mais agradáveis que os e-books e, mesmo que o tempo ainda seja escasso, sempre acredito que vou ler todos. Já fui muito fã de assistir a filmes e várias séries, mas hoje, com a carga de tarefas profissionais e pessoais, venho me aproximando das “críticas nos desenhos infantis”. Quando conseguimos – normalmente, isso ocorre de madrugada – assistimos àquele filme relevante. O autocuidado, seja físico, mental, emocional ou espiritual, vem sendo um grande desafio e busco conciliá-lo com o dia a dia, apesar de reconhecer que precisaria me disponibilizar um pouco mais.

 

Fazendo uma retrospectiva, quais foram os grandes desafios enfrentados para conquistar os seus objetivos profissionais? Ser mulher dificultou mais o processo?

Vânia – Os desafios foram duplos, pelo fato de que ser mulher e negra no Brasil historicamente é ser excluída. Por carregar essas características, nunca me enquadrei no que socialmente tido como padrão, o que é agravado pelas condições que historicamente estão relacionadas à mulher negra: pobreza, sofrer com o estereótipo sexual que lhe é imputado, falta de acesso à educação e cultura. Tudo isso torna-se barreira difícil de ser transposta e quando o é, é com muita luta.

Elaine – Eles foram e são variados, tendo perpassado do social, econômico e emocional. Começando pelas dificuldades em avançar nos estudos, pois fui apenas a segunda pessoa da minha família que teve a oportunidade de fazer uma universidade pública (o primeiro foi meu primo). Aliás, toda a minha formação, do Ensino Básico ao doutorado, é decorrente do sistema público, seja municipal, estadual ou federal. Em suma, isso envolveu um grande esforço familiar e de amigos. Todos me ajudaram de alguma forma, com apoio financeiro ou emocional, Da minha parte, houve uma dedicação extrema aos estudos e a busca de oportunidades para minha permanência, seja conciliando estágio, trabalho, bolsa e toda a complementação de cada etapa, principalmente no Ensino Técnico ao doutorado.

De fato, olhando para trás, chegar até aqui não foi nada fácil, tampouco simples. Envolveu o esforço de toda uma rede de apoio, o incentivo institucional, por meio de investimentos públicos em educação. Acredito que o restante da minha trajetória também seja repleto de novos desafios.

Em relação às dificuldades que tive que enfrentar durante meu processo de desenvolvimento profissional, não foram poucas. O simples fato de, no mundo atual, ainda precisarmos discutir o papel da mulher em nossa sociedade e promover eventos para este tipo de debate já evidencia o quão desafiante ainda é ser mulher no nosso país.

  

Que avaliação fazem sobre conquistas e desafios ainda a serem superados pelas mulheres? A pergunta é no sentido geral, ou seja, tanto na sociedade, quanto no mercado de trabalho e na UFU...

Elaine – É importante reconhecer grandes conquistas como a Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006, conhecida como Lei Maria da Penha, os Pactos Nacional Pelo Enfrentamento à Violência Contra a Mulher, as conferências da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a temática, entre outros. No entanto, enquanto houver mulheres sendo assassinadas (feminicídio); enquanto houver tráfico de meninas/mulheres; enquanto houver assédio moral e sexual; enquanto houver violência sexual; enquanto houver diferença salarial entre homens e mulheres; enquanto houver privação no direito de ir e vir – inclusive, em andar sozinha à noite; enquanto houver profissões predominantes masculinas; enquanto houver discriminação e preconceito dentro de instituições e/ou empresas; enfim, enquanto as liberdades fundamentais foram privadas e a desigualdade existir, vejo que ainda teremos grandes desafios a serem superados pelas mulheres.

Gosto muito de uma frase de uma filósofa francesa, a Simone de Beauvoir: “Nunca se esqueça que basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados. Esses direitos NÃO SÃO PERMANENTES. Você terá que manter-se vigilante durante toda a sua vida”.

Vânia – Considero que as mulheres alcançaram muitas conquistas, mas ainda há um longo caminho a ser percorrido. Exemplo disso são as mulheres que trabalham na UFU e atuam como gestoras, mas ainda têm a terceira jornada em casa. Além disso, sofremos com as cobranças sociais por determinadas condutas, por determinado tipo de corpo.

 

Para finalizar a nossa conversa, aproveitando este Dia Internacional da Mulher, por favor, citem algumas figuras femininas que considerem grandes referências e fontes de inspiração.

Vânia – Minhas grandes inspirações são as mulheres da família, como minha avó paterna, Maria Onora Martins, minha tia Zaury Alves Cruz e minha mãe, Cleusa Maria Caetano. Na UFU tive o prazer de conviver com duas professoras muito marcantes, Maria Cecília de Lima e Sônia Maria Santos; ambas têm como essência nunca terem desistido de nada nem de ninguém durante suas lutas. Por fim, na área acadêmica, tenho que manifestar a admiração pela pesquisadora Sueli Carneiro, que, em suas obras, expressa a alma da mulher negra. 

Elaine – Gostaria de falar que tenho pessoas que se enquadram nisso: minhas avós, Ana Conceição Saraiva e Laura Caldieraro; minha mãe, Neusa Margarida Saraiva; minhas tias e primas - pois venho de uma família, formada de mulheres fortes e que sempre tiveram um papel de relevância; minhas orientadoras de TFG e Mestrado e hoje grandes amigas, Maria de Lourdes Pereira Fonseca e Ana Luiza Ferreira Maragno; assim como das mulheres com as quais já trabalhei, na Prefe, na Proae e na gestão. Todas elas são exemplos e referências de mulheres guerreiras e grandes profissionais. Também gostaria de citar duas arquitetas relevantes e das quais sou fã: Zaha Hadid e Lina Bo Bardi; a primeira, por colocar a mulher arquiteta no circuito mundial e a segunda, por apresentar a arquitetura também como uma função social nas cidades, no qual me espelho, inclusive, no meu papel atual de pró-reitora.

 

 

 

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