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Ciência

Impactos da pandemia em cursos de Odontologia

Pesquisadores da UFU analisam como os processos educacionais que compõem o ensino, a pesquisa e extensão foram diretamente afetados

Publicado em 28/01/2022 às 11:30 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:39

Movido pelas mudanças ocorridas em sua vida desde o início da pandemia, Thiago Carvalho decidiu abordar tais questões em sua tese de doutorado. (Imagem: Viviane Aiko)

 

Em 2020, quando estourou a pandemia da covid-19 no Brasil, Thiago Carvalho cursava doutorado no Programa de Pós-Graduação em Odontologia da Universidade Federal de Uberlândia (PPGO/UFU) e acabava de se tornar professor no Centro Universitário de Patos de Minas (Unipam).

Diante dos desdobramentos em que o cenário universitário foi colocado por causa do coronavírus, o professor passou a se questionar sobre como os novos modelos de ensino remoto inevitavelmente transformariam seu cotidiano e dos seus alunos. Assim, o que ganhou destaque na tese dele, sob a orientação da professora Veridiana Resende, foram os impactos que a pandemia teve no curso de odontologia ao longo de 2020 e 2021.

Em meio às constantes mudanças que o mundo enfrentava devido ao coronavírus, marcadas pelo distanciamento social e a inserção de hábitos de higiene ainda mais rigorosos, a principal preocupação do professor foi buscar soluções para questões associadas ao contexto pandêmico e a atuação acadêmica e prática da odontologia, levantando pontos de reflexão sobre práticas mutáveis, seja do ponto de vista do atendimento odontológico ou das ações de ensino e extensão.

Ao atravessar as portas do curso de Odontologia, composto por muitas aulas práticas, tanto na clínica quanto no laboratório, o que Carvalho pôde observar foi que os estudantes tiveram um impacto importante na construção da prática propriamente dita, além da falta de convivência e construção de valores sociais e humanos que também fazem parte da formação universitária.

Dentre os principais pontos levantados pelo estudo, tem-se o uso das plataformas síncronas e assíncronas no ensino remoto, as redes sociais como forma de disseminar e adquirir conhecimento, o acesso dos estudantes a aparelhos para o estudo remoto, além dos impactos da possível suspensão das atividades de extensão da odontologia que são oferecidos à comunidade.

 

Desigualdades no acesso a ferramentas para estudo remoto

No Brasil, o número de celulares cadastrados é superior ao número de pessoas, contudo, ao contrário do que se esperava, o acesso às atividades síncronas e assíncronas, dependentes de celulares e computadores, não se mostrou democrático. 

De acordo com Carvalho, a desigualdade brasileira pode ser percebida pelo próprio acesso à universidade pública. Nem mesmo com as ações afirmativas, o problema é completamente resolvido, de forma que os abismos sociais tornaram-se mais evidentes com a pandemia, uma vez que nem todos os alunos têm acesso aos aparelhos necessários para atividades online ou  possuem plena conexão à internet.

“Não adianta apenas providenciar a entrada do estudante na Universidade, e sim se preocupar com sua manutenção no curso até a formatura. São desafios para médio e longo prazo, mas que precisam desde já serem refletidos por toda a comunidade acadêmica”, explica o pesquisador.

 

Manutenção das atividades de extensão

A extensão é um dos componentes mais importantes das Instituições de Ensino Superior (IES), uma vez que o conhecimento produzido torna-se benéfico para as pessoas que eventualmente não teriam acesso a serviços de todos os segmentos, se não fosse a universidade. Dessa maneira, em meio ao período pandêmico e o inevitável distanciamento social, a comunidade pode ter ficado sem ações educativas, preventivas, curativas e reabilitadoras oferecidos pelas atividades de extensão da odontologia, impossibilitando a oferta integral dos serviços de saúde, que é um princípio do SUS.

Como forma de tentar manter esses projetos além dos muros da universidade, medidas foram propostas e forçaram a adaptação de alunos e professores, como Carvalho. Vídeos no YouTube, páginas no Instagram, conteúdos para transmissão por listas de WhatsApp, materiais criados de maneira audiovisual para serem distribuídos nas secretarias de saúde e utilizados por Agentes de Saúde, foram algumas das alternativas encontradas para sanar as atividades presenciais de extensão.

“Com um gradativo retorno presencial ainda teremos um período de readaptação. No ensino odontológico os estudantes terão que retomar o ritmo do ensino presencial e de tudo que isso onera. Para a extensão o retorno para as atividades na comunidade deve ser feito sob intensa observação dada a presença das variantes. O uso de ferramentas digitais será perene, claro que não como protagonista, mas era algo que estava na iminência de acontecer e a pandemia acelerou o processo” finaliza Carvalho.

A tese de doutorado de Thiago Carvalho encontra-se no repositório da UFU, contudo, está em avaliação (no prelo) para ser publicada em periódicos.

 

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Palavras-chave: Odontologia Ciência pandemia

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