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Conheça um pouco da história da instituição

Data de Publicação: 14/10/2009 - 07:32
            Aquele algo mais que têm algumas pessoas que, frente a um problema, arregaçam as mangas e procuram soluções, ao contrário de outras que se limitam a virar as costas e sair reclamando, fez toda a diferença para a vida de milhares de pessoas que hoje procuram o setor de Oncologia do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC/UFU), já reconhecido pela população local e regional como o Hospital do Câncer.              Acompanhando a esposa, para tratamento, Clóvis de Albuquerque Rosa, professor de Engenharia Mecânica da UFU, hoje já aposentado, deparou-se com o seguinte quadro, em 1993: uma casa com dois quartos e sala, alugada nas proximidades do HC, servia para o atendimento de quimioterapia. “Cadeiras e macas se misturavam, adultos e crianças ocupavam os mesmos cômodos, duas ou três crianças dividiam uma mesma maca... às vezes acontecia de uma vomitar e a outra, pertinho, caía no choro...”, recorda.             Em outra casa eram feitas as sessões de radioterapia, cuja sala de espera eram bancos de madeira sob as árvores próximas. “Muitas pessoas vinham de outras cidades e ficavam horas ali, enquanto os parentes que acompanhavam eram atendidos”, lembra Maria Luiza Lomônaco, que na época acompanhava a irmã, em tratamento contra o câncer.             Clóvis e Maria Luíza juntaram-se outras pessoas, “que também viviam o problema na pele”, enfatiza ela, e começaram a se reunir para descobrir formas de melhorar aquela situação. Alguns meses mais tarde, e com a decisão já tomada de construir um hospital só para pacientes oncológicos, o grupo escolheu um nome : Grupo Luta pela Vida, depois transformado em ONG. Seus objetivos: construir o Hospital do Câncer, ajudar na sua manutenção, sempre em parceria com a UFU e a Faepu e, principalmente, humanizar o ambiente hospitalar.             Clóvis conta que houve uma primeira reunião, na reitoria da Universidade Federal de Uberlândia, com empresários da cidade: “quando expusemos nossas ideias e necessidades houve total apoio, mas só verbal. Recursos, que precisávamos, não apareciam”. O Grupo, então, arregaçou as mangas e fez um “auê” com uma campanha na televisão, lembra ele, e o refrão de uma música que dizia “eu preciso, eu preciso, eu preciso de você” parece ter surtido efeito: a população colaborou maciçamente e R$ 80 mil foram arrecadados em dois meses. “A solidariedade do povo com a causa foi enorme... a adesão à campanha foi tanta que nos surpreendeu”, diz o professor, nascido em Ubá e graduado em Engenharia Mecânica na UFU, onde, depois, lecionou por 23 anos.                         Começa a obra               O primeiro esboço do Hospital do Câncer tinha 800 m2 (a casa alugada que servia para atendimento de quimioterapia, só para se ter uma ideia, tinha 200 m2) e custaria R$ 800 mil, conta Clóvis. O Grupo Luta pela Vida, no entanto, resolveu começar a obra com o que tinha arrecadado, e decidiu “construir o primeiro piso, o segundo, o terceiro, a partir da cooperação das pessoas”. O ano era 1995.             Logo que viram surgir as primeiras paredes, as primeiras colunas, os empresários locais começaram a colaborar. Um deles, Getúlio da Constrular, conta o professor, doou todos os tijolos necessários à fase inicial da obra.             Sempre com a preocupação de mostrar à sociedade aquilo que era feito com o dinheiro arrecadado, o Grupo Luta pela Vida fazia reuniões abertas e prestava conta de tudo que gastava. Novas idéias para angariar fundos apareciam, como venda de camisetas, rifas de veículos, bazares e brechós, bailes, bingos e desfiles. Voluntários organizavam as várias atividades, que funcionavam também como marketing do Grupo, a ponto da campanha pela construção do Hospital do Câncer ser conhecida também fora de Uberlândia.             O projeto atual do prédio tem cinco pavimentos, dos quais três estão prontos: no primeiro funciona a coleta de sangue, consultas, quimioterapia e radioterapia; no segundo, as consultas e internações; e no terceiro, a pediatria, onde não podia faltar a brinquedoteca, com centenas de brinquedos, livros e desenhos pintados nas paredes, doação do Guaraná Mineiro, que se incumbe, também, de sua total manutenção.             No quarto e quinto pisos, ainda em construção, serão alojados o centro cirúrgico e o laboratório, respectivamente. Enquanto isso não acontece, pelo menos uma dúzia de voluntárias ocupa o quarto andar separando e arrumando sacolas e mais sacolas de roupas e sapatos doados, que depois de separados, organizados e limpos, vão ocupar as prateleiras da lojinha instalada no térreo, e os balcões dos bazares organizados ao longo do ano. A renda proveniente de sua venda, sempre a preços módicos, é revertida para a ONG e, dali, para as várias atividades desenvolvidas no Hospital, inclusive sua construção.   Trabalho de formiguinha               Quando a primeira parte do Hospital ficou pronta, e foi aberto à população, em 2000, foi criado o nicho de voluntários, com 2 pessoas, lembra Maria Luíza, com o objetivo principal de humanizar o ambiente hospitalar. Hoje eles são 400 e revezam-se, “numa disciplina severa de horário e função”, como diz ela, para manter várias atividades: servem cerca de 500 lanches por dia, em média, a pacientes em tratamento ou espera; proporcionam momentos de lazer, como rodadas de bingo nos corredores de espera; cuidam do bazar; dão cursos de artesanato variado aos pacientes; fazem o “acolhimento” dos que procuram o serviço do Hospital pela primeira vez, explicando o que é a doença e como funciona o tratamento; acompanham pacientes (que não têm um familiar por perto) nas sessões de quimioterapia ou radioterapia; distribuem cestas básicas às famílias necessitadas, quando o seu provedor está em tratamento; prestam os chamados cuidados paliativos, atendendo às necessidades de pacientes em casa; e, por fim, cuidam de obter, através de doações, tudo o que é preciso para manter todos estes cuidados – é a equipe dos provedores.             Regina Ribeiro, voluntária do Hospital do Câncer desde 2000, trabalha na brinquedoteca e no acolhimento a novos pacientes. Sorriso franco estampado num rosto calmo, olhos grandes e atentos, carrega uma bonequinha de pano pendurada no pescoço. “É que quando passo pelos corredores gosto de brincar com todos”, justifica. Perguntada sobre como consegue burlar os próprios sentimentos frente ao sofrimento dos pacientes, principalmente quando se trata de crianças, responde, tranquila: “penso que se eu não trouxer, naquele minutinho que passamos juntos, um pouquinho de alegria, então não terei ajudado em nada”. E assim ela passa, brincando com todos e distribuindo sorrisos e abraços a quem encontra.   Orgulho e gratidão               Atualmente, são atendidos mais de 300 pacientes por dia, no Hospital do Câncer. Cerca de 1500 pessoas fazem quimioterapia ou radioterapia por mês. Segundo a administradora do Hospital do Câncer, Denise Maria Flores Diniz, a parceria UFU-Grupo Luta pela Vida mantém uma rede de mais de 200 profissionais para atender a esta demanda, que não se restringe a Uberlândia, mas abarca toda a região. São vários profissionais da UFU, FAEPU e da ONG, tanto de nível superior como técnico e operacional, de várias especialidades.             Perguntado se jamais imaginou que uma simples idéia - nascida em 1993, da vontade de tornar menos difícil a luta das pessoas contra o câncer - tomaria esta proporção, 16 anos depois, o professor Clóvis responde: “é muito bonito, muito gratificante... me sinto orgulhoso de ter participado”. E assim devem se sentir todos aqueles que contribuíram e ainda contribuem para a construção e manutenção do Hospital.         Hospital do Câncer em números   Mais de 300 pacientes são atendidos por dia 1500 pessoas fazem quimioterapia ou radioterapia, por mês Mais de 200 profissionais estão envolvidos nos atendimentos 500 lanches por dia 400 voluntários  

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