Há três anos, a assistente administrativa, Emília Regina de Brito, 35 anos, mãe de duas filhas, procurou o Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC/UFU) para fazer uma laqueadura. Ela conta que na segunda gravidez já estava decidida a não ter mais filhos. Um problema de hipertensão e a preocupação com o futuro das filhas reforçaram a decisão. “Cheguei ao hospital pensando em fazer laqueadura, mas depois das orientações da equipe, eu e meu marido optamos pela vasectomia”, afirma.     A equipe a qual Emília se refere é a do Programa de Planejamento Familiar do HC/UFU, que existe há 27 anos e é composta por assistente social, enfermeira, médico e psicóloga.O programa foi recredenciado pelo Ministério da Saúde para a realização de laqueadura tubária e vasectomia junto ao Sistema Único de Saúde (SUS).       A equipe do Planejamento Familiar estuda caso a caso considerando sempre o bem-estar dos pacientes. “O objetivo é proporcionar ao casal conhecimentos sobre todos os métodos contraceptivos para que possa fazer uma escolha consciente”, explica a assistente social, Idelma Leitão Silva Machado.   Para participar do programa, não é preciso ter encaminhamento médico, basta residir em Uberlândia ou em algum distrito do município. As mulheres não podem estar grávidas e o último filho deve ter mais de dois meses. A assistente social ressalta que estes critérios são observados tanto para laqueadura, quanto vasectomia.    Apesar das facilidades para ingressar no programa, o número de pessoas que procuram o atendimento ainda é considerado baixo pela equipe. “A maioria que chega ao serviço do HC/UFU são mulheres, com menos de 30 anos e com no mínimo três filhos”, relata a enfermeira da equipe, Luci Mazer Ferraz. É o caso da servente de limpeza, Nair Borges de Miranda, 40 anos, mãe de quatro filhos, dois vivos. “Quando tinha 35 anos e minha filha mais nova estava com sete, me escrevi no programa para fazer uma laqueadura”, conta.   Outros métodos Engana-se quem pensa que planejamento familiar é apenas a laqueadura e a vasectomia. O programa oferece informações sobre outros métodos de prevenção à gravidez. Além dos métodos definitivos, estão disponíveis no hospital a colocação do dispositivo intra-uterino (DIU) e a oferta de preservativos. Existe também, a distribuição de pílulas anticoncepcionais em parceria com a farmácia básica da rede municipal de saúde.     A equipe do programa de Planejamento Familiar defende uma mudança de paradigma em relação aos métodos contraceptivos. Para a assistente social, Idelma Machado, a educação sexual deve fazer parte da educação formal, não apenas enfatizando a contracepção, mas priorizando o autoconhecimento e as relações afetivas dos indivíduos. Ela destaca ainda, a importância da participação dos meios de comunicação de massa abordando este tema, por exemplo, em novelas e seriados. “Respeitar o desejo do número de filhos que o casal quer ter, e ainda oportunizar o intervalo de tempo entre eles é, sem dúvida, um dos principais objetivos do programa”, afirma.    Só em 2008, foram realizados 258 procedimentos, entre cesariana com laqueadura, laqueadura tubária, salpingectomia (retirada das tubas uterinas) e vasectomia, um número 48% maior do que o realizado no mesmo período de 2007. Neste ano, de janeiro a outubro, já foram realizados 156 procedimentos.