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De volta à vida

Data de Publicação: 10/05/2010 - 08:25

Por portal.dirco

Crianças e Adolescentes vítimas de abuso sexual são acompanhadas por estudantes e professores do curso de Psicologia
(...) Flor se manchou com tinta... Estudante - E adulto, com criança mancha? Flor - Mancha, mas se for a mamãe não mancha! Estudante – E se for o papai? Flor – Com o papai, também, não mancha! Estudante – E se for aquele rapaz? Flor fica muito séria, evita olhar para a estudante e responde baixinho: - Aí mancha! Estudante: - Então é isso: Você está se sentindo manchadinha? Flor apenas afirma com a cabeça. Estudante: - Você está tentando limpar a mancha, né? Flor consente com a cabeça. Estudante: - Parece difícil limpar esta mancha, né? Flor novamente consente, sempre muito séria e sem olhar para a estudante (...)   Este diálogo, autorizado pelos pais para ser publicado em pesquisas, é parte de um atendimento realizado por estudantes do curso de Psicologia, da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Relata parte do caso Flor - nome fictício dado à paciente, de apenas nove anos de idade -, vítima de violência sexual atendida durante o estágio supervisionado. Utilizando brinquedos, jogos, salas especialmente adequadas e muito diálogo, um grupo de oito estudantes, do último ano do curso de Psicologia da UFU, tem ajudado crianças e adolescentes com problemas emocionais a reconstruir suas vidas.  Nos atendimentos de psicoterapia, supervisionados pela professora Marcionila Rodrigues Brito (foto), os pacientes expressam os seus sentimentos, dores e traumas psicológicos.  As sessões acontecem pelo menos, uma vez por semana e duram 50 minutos. Chegando à clínica, é feita uma triagem. O paciente passa por avaliação psicológica que inclui o estudo da vida e da família, além de aspectos que vão desde o social ao religioso. “Temos que analisar o sujeito como um todo, dentro de uma realidade. Os casos mais graves são atendidos imediatamente”, explica Marcionila.   Mudança do Perfil dos pacientes Algo que chama a atenção da equipe, é a mudança do perfil das crianças e adolescentes atendidos durante o estágio de psicoterapia infantil no enfoque psicanalítico. “O trabalho começou em 1980, na primeira turma do curso de Psicologia. Nesta época, as crianças geralmente chegavam apresentando queixas como problemas de aprendizagem, rivalidade com o irmão, enurese noturna (fazer xixi na cama), hábito de roer unhas, dificuldade de deixar a mamadeira e casos de adoção”, destaca Marcionila Rodrigues. Atualmente, segundo a professora, os pacientes têm mudado muito, “são crianças e adolescentes abusadas sexualmente, com depressão, transtornos de conduta e transtorno desafiador (crianças que sempre se opõe às normas e ordens)”, explica. A mudança das patologias exigiu que a equipe se especializasse ainda mais. Hoje, o setor atende pacientes encaminhados por profissionais de saúde, Hospital de Clínicas, Juizado da Vara da Infância, rede de ensino e demanda espontânea.  Muitas vezes, a superação dos traumas é lenta, em função do dano causado no psiquismo da criança abusada, “é brutal, profundo e em alguns casos de difícil reparação, podendo demorar anos”, ressalta Marcionila. Além do tratamento com pacientes abusados, o setor faz o acompanhamento de crianças que entram em processo de adoção, nestes casos, vindas de abrigos. O trabalho envolve, também, orientação aos pais adotivos.   A denúncia ainda é a melhor forma de ajudar a combater os casos Uma das maneiras de combater os casos de agressão e violência sexual contra crianças e adolescentes é por meio de denúncias, por isso, os profissionais têm feito um grande esforço, no sentido de divulgar as características destas crianças. Em alguns casos, quando se constata que os abusadores estão dentro da própria família, elas são entregues ao Conselho Tutelar. “O trabalho tem surtido muitos resultados encorajadores, quando conseguimos que essas crianças voltem a sorrir, se alimentar, relacionar-se com outras pessoas, ficar mais confiantes em si mesmas, valorizando a autoimagem e autoestima, antes dilaceradas pelo abuso sofrido”, desabafa Marcionila.   Estudantes do curso de Psicologia são premiadas durante Encontro O trabalho já reconhecido por diversos órgãos e entidades de Uberlândia, começa a ter destaque, também, fora da UFU. As estudantes Tatiana Ávila de Lúcia e Anna Thereza Abdalla, (foto ao lado) do décimo período do curso de Psicologia da Instituição, foram premiadas durante o XV Encontro Nacional da Associação Brasileira de Psicologia Social, realizado em Maceió (capital de Alagoas), de 30 de outubro a 02 de novembro do ano passado.  O trabalho, resultado do estágio de psicoterapia infantil no enfoque psicanalítico, mostrou as consequências do abuso sexual no desenvolvimento do psiquismo da criança. A pesquisa foi realizada com oito crianças de cinco a 12 anos, de ambos os sexos, vítimas de abuso sexual.   Durante o Encontro, foram apresentados 407 pôsteres. O trabalho das alunas ficou entre os três premiados, num universo de 46 apresentados no eixo “Ética, Violência e Direitos Humanos”. “Foi muito bom receber esta premiação pelo reconhecimento do nosso trabalho. Ainda que seja clínico, tem uma implicação voltada para a comunidade”, destaca a estudante Anna Thereza.   Perfil das crianças abusadas •        Crianças pouco vigiadas ou que têm carência emocional ou afetiva •        Metade dos abusos acontece antes dos 12 anos •        As crianças estão mais expostas entre os nove e os 12 anos de idade Pistas ou sinais corporais •        Dificuldade de caminhar •        Roupas rasgadas ou manchadas de sangue •        Sinais de hemorragia retal ou uretral •        Evidências de infecções genitais •        Dor ou coceira na área genital ou garganta •        Dificuldade para controlar urina e fezes •        Erupção na pele •        Vômito e dores de cabeça repetidas e sem qualquer explicação clínica •        Aumento ou redução de peso •        Unhas e dedos roídos •        Interrupção da menstruação •        Dores nos ossos   Mudanças de comportamento •        Mudanças inexplicáveis de humor •        Sono perturbado com pesadelos frequentes, medo de escuro, suores, gritos ou presença de agitação noturna •        Comportamento regressivo e padrões infantis, como choro excessivo, incontinência urinária •        Retraimento ou medo diante de certa pessoa •        Demonstração de medo em lugares fechados •        Comportamento agressivo com tentativa de fuga de casa •        Perda do apetite ou excesso de alimentação •        Aparência descuidada e suja pela relutância em trocar de roupa •        Uso de roupas de adultos mais sensuais, ou ao contrário, mais recatada, querer dormir com muita roupa •        Anestesia afetiva  

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