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Qualidade do ar de Uberlândia é considerada preocupante

Data de Publicação: 09/12/2013 - 08:04

Por elianemoreira@dirco.ufu.br

Pesquisadores da UFU monitoraram os efeitos do crescimento contínuo da frota de veículos automotores
Renata Neiva Uma plantinha comum, conhecida como “coração roxo”, normalmente encontrada em canteiros de avenidas, foi utilizada por pesquisadores da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) para monitorar os efeitos do crescimento contínuo da frota de veículos automotores de Uberlândia em relação à qualidade do ar. O estudo, que durou cinco anos, reuniu Boscolli Barbosa Pereira (Instituto de Geografia), Edimar Olegário de Campos Júnior e Sandra Morelli (Instituto de Genética e Bioquímica), Euclides Antônio Pereira de Lima e Marcos Antonio Souza Barrozo (Faculdade de Engenharia Química). O resultado, publicado em periódicos apontados como referências internacionais em Saúde Ambiental, é considerado preocupante. O estudo revela que a piora da qualidade do ar, segundo parâmetros físico-químicos e biológicos, está diretamente relacionada ao significativo incremento da frota. Com aproximadamente 619 mil habitantes, Uberlândia tem hoje a segunda frota de veículos de Minas Gerais. A média é de 57 veículos para cada grupo de 100 pessoas. De acordo com a Secretaria Municipal de Trânsito e Transportes (Settran), enquanto em 2001 circulavam pela cidade 171.829 veículos, em 2011, esse número chegou a 341.364. A frota praticamente dobrou no município. Além disso, o sistema de transporte por ônibus é o único meio público de locomoção. A pesquisa, realizada entre 2006 a 2011, mostrou que os níveis mais elevados de genotoxicidade (potencial que o meio tem de causar danos ao material genético) foram encontrados nos locais de maior tráfego. Foram monitorados os cruzamentos entre as avenidas Rondon Pacheco e Paraná; entre as avenidas João Naves de Ávila e Cesário Alvim; entre as avenidas Floriano Peixoto e João Naves de Ávila e entre as avenidas Rondon Pacheco e João Naves de Ávila. O horto do Instituto de Biologia da UFU foi utilizado como ponto- controle por não apresentar tráfego de veículos. Os locais monitorados foram escolhidos com base em quatro critérios: apresentam diferentes taxas de tráfego de veículos; têm tráfego de carros, ônibus e caminhões em proporções semelhantes; são monitorados diariamente pela Settran quanto ao fluxo de veículos e estão próximos à Estação Climatológica de Uberlândia. O chamado Teste de Micronúcleos com Tradescantia consiste em monitorar a qualidade do ar utilizando um modelo biológico. As plantas da espécie Tradescantia pallida foram cultivadas na casa de vegetação da UFU e expostas nesses pontos. Segundo o biólogo  Boscolli Pereira, doutor em Genética e Bioquímica, a espécie é sensível a  alterações da qualidade do ar, o que pode ser identificado por modificações citogenéticas.  “Ao considerarmos que as características do clima em Uberlândia permaneceram tipicamente constantes, foi possível atribuir ao incremento na frota de veículos (e obviamente nas emissões de poluentes na atmosfera) a principal causa dos efeitos genotóxicos presenciados neste estudo”, garante Boscolli. O crescimento da frota traz, portanto, impactos relevantes ao ambiente urbano e, em última análise, à produtividade e qualidade de vida dos cidadãos. Além dos congestionamentos e do decorrente aumento do tempo de deslocamento, a elevação da frota aumenta as emissões de substâncias poluentes na atmosfera. Segundo os pesquisadores, o rápido incremento da frota, a insuficiência do transporte público e o fato de o município não ter um traçado urbano planejado para comportar os fluxos gerados pelo crescimento acelerado fazem com que a circulação, principalmente, na área central, se torne cada vez mais conflituosa, tanto para pedestres como para condutores. “O trânsito na área urbana torna-se a cada dia mais desorganizado e inseguro”, afirma Boscolli. Além de demonstrar que as emissões veiculares contêm substâncias com potencial mutagênico, a pesquisa evidencia a necessidade de investimentos em transporte público e em programas de inspeção veicular. Ele lembra que o aumento da frota está relacionado a um conjunto de fatores. “Para expandir a indústria automobilística, houve redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e maior oferta de créditos, o que gerou problemas de trafegabilidade”, afirma. O pesquisador destaca também que, geralmente, os investimentos são feitos em infraestrutura viária. Ele cita como exemplo o fato de a Settran se orgulhar do corredor de ônibus construído na avenida João Naves de Ávila, uma das principais de Uberlândia. “Esse corredor é insuficiente, pois a Lei de Mobilidade Urbana prevê equidade de opções: há apenas um corredor para ônibus e dois para outros veículos”, critica. Boscolli afirma que o objetivo da pesquisa não é só mostrar que no ar existem componentes que causam toxicidade. “Este é um argumento para reforçar a necessidade de alternativas de mobilidade urbana”, explica.  O professor não concorda que o sistema de transporte público em Uberlândia seja integrado. “Não se pode falar em integração ônibus-ônibus, mas sim entre veículos diferentes”, explica. Os trabalhos podem ser acessados na íntegra, nos links: http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0147651312003557 http://link.springer.com/article/10.1007%2Fs11356-013-2335-0

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