Pular para o conteúdo principal

Equipe da Engenharia Mecânica da UFU propõe processos para destinação de pneus

Data de Publicação: 18/02/2014 - 07:12

Por anabeatriz@cs.ufu.br

Sob a coordenação de Renan Billa, estudantes apresentam soluções para reaproveitamento de material
Renata Neiva  A frota de veículos no Brasil cresce em ritmo acelerado. Pelas ruas e rodovias, circulam aproximadamente 80 milhões de unidades, entre carros, motos e caminhões – um aumento de aproximadamente 123%, entre os anos de 2001 e 2012. Com isso, em 2013, foram fabricados cerca de 68,8 milhões de pneus. Segundo a Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (Anip), foram recolhidas 404 mil toneladas, o equivalente a 81 milhões de pneus de carros de passeio.  Um dos problemas que inquietam o setor é a destinação final desses produtos. O que fazer com pneus usados? Qual a melhor forma de reaproveitá-los? As respostas estão com uma equipe da Faculdade de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Sob a orientação do professor Renan Billa, o trabalho está sendo desenvolvido pelos estudantes André Santana de Mesquita, Marcelo Garcia Marques, Matheus Mendes Moreti e Roger Brenno Gonçalves Machado. O tema central da pesquisa é Logística Reversa de Pneumáticos Inservíveis. De acordo com Billa, a motivação do projeto é a necessidade de enquadramento na Resolução nº 416/09 do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) para a correta destinação dos pneus inservíveis (disponíveis para descarte). O resultado foi o direcionamento dos estudos para a pesquisa de materiais e as formas de inserção dos resíduos (borracha, aço, nylon etc.) em outras cadeias produtivas. O projeto apresenta propostas que incluem análise da metodologia de recepção, classificação e armazenagem; desenvolvimento de maquinário para processamento; otimização do transporte e análise de viabilidade de instalação de uma planta de reciclagem. As atividades começaram na disciplina optativa de Logística Reversa. A conclusão dos trabalhos está prevista para agosto deste ano. A equipe reforça que os pneus inservíveis, quando descartados de forma inadequada, prejudicam o meio ambiente. Além de provocar poluição, há o risco de proliferação de doenças, como a dengue. Nas carcaças, são encontrados focos do mosquito Aedes aegypti e animais peçonhentos. A disposição em aterros sanitários também é inviável, pois os pneus são objetos de difícil compressão. O material, que forma um resíduo volumoso, não sofre biodegradação. Outro transtorno era ocasionado pela queima total a céu aberto, uma prática comum que resultava em um grande impacto ambiental. Para minimizar os problemas, o Conama instituiu a Resolução nº 258/99, que proíbe o descarte de pneus em rios, aterros sanitários, lagos, terrenos baldios, assim como a queima a céu aberto. Em 2009, a Resolução nº 416 atribuiu aos fabricantes e importadores a responsabilidade pelo ciclo total dos pneus: a coleta, o transporte e a destinação final. Para cada pneu importado ou produzido deve ser reaproveitado um pneu inservível. As empresas precisam implementar pontos de coleta em municípios com mais de 100 mil habitantes. A Resolução também preconiza a promoção de estudos e pesquisas para o desenvolvimento de técnicas de reutilização e reciclagem. Daí surgiu a necessidade de aplicação dos conceitos de logística reversa à indústria de pneus. Os pneus são compostos, basicamente, por borracha, nylon e aço. O aço pode ser reprocessado em indústrias siderúrgicas. O nylon pode ser reaproveitado na indústria têxtil, enquanto a borracha pode ser utilizada, por exemplo, na mistura de massa asfáltica e na fabricação de artefatos. O pneu também pode ser reaproveitado em sua forma inteira em muros de contenção, muros de arrimo, contenção de erosão do solo, fabricação de móveis decorativos e fabricação de quebra-mar. Hoje, no Brasil, a maior parte dos pneus inservíveis reaproveitados destina-se à indústria de fabricação de cimento para utilização como combustível. Os pneus são queimados inteiros ou triturados. Esta aplicação é significativa em Minas Gerais, maior estado produtor de cimento, com 24% da produção nacional concentrada em 14 fábricas. O projeto desenvolvido na UFU tem diferentes linhas de trabalho. Uma delas refere-se ao layout de recepção e à técnica de envelopamento (colocar um pneu dentro do outro, incluindo os de uso agrícola) para reduzir os custos logísticos. Em determinadas regiões do País, alguns caminhões percorrem até 1450 quilômetros rumo à indústria de cimento. Os pesquisadores chamam a atenção para a dificuldade em carregar esses pneus devido ao grande volume. Um dos grupos apresenta, portanto, uma solução para transportar o pneu inteiro envelopado ou triturado. “A nossa proposta é levar pouco ar e muito pneu”, resume Billa. As outras fases do projeto estão relacionadas ao desenvolvimento de maquinário para processamento de pneus, que inclui também um triturador móvel que poderá ser acoplado a um caminhão. “O veículo poderá, por exemplo, sair de um ecoponto (local onde pneus são armazenados temporariamente) de Macapá com toneladas de pneus granulados em direção a uma planta de reciclagem”, explica o estudante Marcelo Marques. Essa planta de reciclagem, segundo o professor Billa, é considerado o ponto alto do projeto. Valorização energética   De acordo com o professor Billa, o pneu é uma excelente fonte alternativa de combustível. O poder calorífico do pneu inservível é considerado altamente competitivo quando comparado com os combustíveis fósseis não renováveis. O óleo combustível apresenta um poder calorífico de 10000 kcal/kg em comparação aos 7667 kcal/kg dos pneus e as 620 kcal/kg do gás natural. Esses dados fazem parte da pesquisa de Carlos Alberto F. Lagarinhos e Jorge Alberto S. Tenório, do Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Epusp).

A11y