Publicado em 10/03/2014 às 14:56 - Atualizado em 22/08/2023 às 20:12
Encontro acontece nessa sexta-feira, 14/03, às 15h
O Laboratório dos Estudos Judaicos (LEJ) do Instituto de Letras e Linguística (Ileel) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) realiza a palestra "A trama da resistência em tempos de ditadura: livros, panfletos e jornais" com a professora Maria Luiza Tucci Carneiro da Universidade de São Paulo (USP). O encontro acontece nessa sexta-feira, 14/03, às 15h, na sala 307 do bloco 5 O, no campus Santa Mônica. O evento gratuito é aberto à comunidade universitária. Para participar não é necessário realizar inscrição.
Kênia Pereira, uma das organizadoras e professora do Ileel, explica que o intuito do evento é refletir sobre a censura no governo na Era Vargas. “A palestra irá iluminar um período ainda pouco compreendido na história do Brasil: a censura na Era Vargas. Irá ainda discutir sobre escritores que, mesmo diante da ditadura e das imposições de Vargas, burlaram a censura e elaboraram seus textos”, ressalta Kênia.
Leia a entrevista realizada com a palestrante Maria Luiza Tucci Carneiro.
Qual a importância da palestra para o ambiente universitário?
Pretendo demonstrar, através da análise de documentos confiscados pelo DEOPS/SP (a Polícia Política que atuou no estado de São Paulo entre 1924-1983), a importância da ação de intelectuais, editores, livreiros e gráficos para a formação de uma frente de resistência contra a repressão institucionalizada. Na história da cultura universal são múltiplos os exemplos de "caça às bruxas" ou de "caça à literatura sediciosa". Discutir o papel autoritário do governo Vargas, assim como da Ditadura Militar, nos ajuda a avaliar as consequências de um aparato repressivo idealizado para "purificar" a sociedade das ideias consideradas como perniciosas, perigosas. Esta situação implicou na construção do conceito de crime político que, por sua vez, está relacionado à indicação de um "inimigo-objetivo" que, em diferentes tempos históricos, pode ser o comunista, o imigrante, o judeu, o negro, os testemunhas de Jeová, dentre outros.
A discussão deste tema em um ambiente universitário (como em qualquer outro) nos alerta sobre os perigos das práticas intolerantes que, através da legitimação da repressão por parte do Estado, compromete o direito à palavra ou a liberdade de expressão, o direito de ir e vir de todo cidadão e, até mesmo, o direito de viver. No entanto, devemos saber quando e como fazer uso da palavra ou de nossas ideias, pois incitar o ódio às minorias étnicas através de publicações racistas, por exemplo, é crime inafiançável e imprescritível no Brasil. Este será o cerne da minha palestra.
O que motivou você a se dedicar a essa temática?
Minha própria trajetória acadêmica, pois ingressei no curso de História da USP em 1968, participei intensamente do movimento estudantil e, como milhares de cidadãos brasileiros, vivi a repressão durante o regime militar.
Enquanto historiadora, já formada, dediquei-me aos estudos sobre intolerância, procurando respostas para a persistência de um pensamento racista no Brasil desde os tempos coloniais, assim como uma explicação para a proliferação dos mitos políticos e do antissemitismo. Enfim, estive sempre atenta aos silêncios propositais impostos pela História oficial, pelo medo, o trauma e outros elementos que comprometem a construção da memória brasileira.
No ano de 2014, completamos 50 anos do Regime Militar, o que está data representa?
Representa que o nosso caminhar democrático continua atrofiado às mazelas de um Estado e de uma sociedade que ainda não conseguiu enterrar seus mortos, sem coragem para conhecer seu passado.
Veja bem: após 50 anos ainda temos arquivos secretos que, por sua vez, dificultam a ação da Comissão da Verdade que, com muita dificuldade, luta contra um legado ditatorial a ser considerado: a censura. Importante (re)visitar este passado; importante que as novas gerações conheçam as histórias da repressão e da resistência para que, no futuro, situações como estas não se repitam.
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