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Saúde

Em Minas, Uberlândia e BH têm 10% da população, mas 26% dos casos de Covid-19

Análise indica tendência assimétrica de propagação territorial do novo coronavírus no estado

Publicado em 04/09/2020 às 09:17 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:52

Atividade de combate ao novo coronavírus em Belo Horizonte. (Foto: Gil Leonardi/Imprensa MG/Fotos Públicas)

Realizamos esse estudo [publicado como PREPRINT NA PLATAFORMA SCIELO no dia 10/08/2020] com os objetivos de contribuir para o esclarecimento da natureza da dinâmica do emprego dos testes – rápidos e moleculares – em Minas Gerais e vislumbrar possíveis explicações para a assimetria da distribuição da Covid-19 no território mineiro. Isto é, no primeiro caso, saber se os testes seguem um padrão associado à data da primeira inserção da doença no território analisado, ou, ainda, se maiores taxas de incidência e mortalidade estão associadas a um maior número de testes; no segundo caso, encontrar explicações plausíveis para a causa de certas regiões terem uma taxa maior de incidência e mortalidade se comparadas a outras regiões mineiras.

Para isso, obtivemos dados epidemiológicos por meio dos websites de saúde dos governos federal e estadual de Minas Gerais. Em seguida, empregamos algumas técnicas estatísticas para fazer a leitura apurada da história que os dados nos contavam; assim, buscamos por padrões de associações entre a taxa de testes, mortalidade, incidência e data da primeira notificação da Covid-19, tanto em nível municipal, quanto em nível das microrregiões de saúde.

A pesquisa nos forneceu achados interessantes. Por exemplo, as taxas de testes seguem positivamente associadas às taxas de mortalidade e incidência, indicando que mais testes são empregados de acordo com o aumento dos casos. Mesmo assim, há certa homogeneidade no emprego dos testes rápidos, os quais estão mais bem distribuídos pelo território, mesmo em regiões com menores taxas de incidência e mortalidade. O mesmo não ocorre com o emprego dos testes moleculares, os quais estão associados a uma maior taxa de mortalidade.  Além disso, as taxas de incidência e mortalidade seguem forte relação temporal, isto é, quanto mais tardia a introdução da doença no território, menores essas taxas tendem a ser.

O que chamou mais a atenção, entretanto, foi o padrão de distribuição territorial da Covid-19. As regiões mais populosas e hierarquicamente mais importantes do estado foram aquelas que tiveram as primeiras notificações da doença; portanto, onde possivelmente houve as primeiras introduções da doença no território mineiro. Ademais, são as regiões que concentram as maiores taxas de incidência e mortalidade. Como exemplo, as duas cidades mineiras mais populosas e mais importantes hierarquicamente, Belo Horizonte e Uberlândia, foram aquelas que contabilizaram cerca de 26% de todos os casos da doença até a data de análise, apesar de contar com apenas cerca de 10% da população total do estado. Este achado indica a tendência assimétrica de propagação territorial do vírus.

Fica evidente, portanto, que conhecer o nível hierárquico do território e aspectos demográficos importantes, tais como o tamanho da população, poderiam impactar positivamente no planejamento de saúde para lidar mais efetivamente com a progressão da doença. Isso se dá, pois regiões mais afluentes tendem a receber precocemente o vírus em seu território, contribuindo para maiores taxas de incidência, mortalidade e testes.

*Milton José da Silva-Júnior é graduando em Medicina da Faculdade de Medicina da UFU.

**Stefan Vilges de Oliveira é docente da Faculdade de Medicina da UFU.

 

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Palavras-chave: COVID-19 pandemia Minas gerais tendência território preprint Leia Cientistas

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