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LEIA CIENTISTAS

A inserção internacional de Uberlândia

Na seção 'Leia Cientistas' do Comunica UFU, pesquisadores de Relações Internacionais analisam evolução do processo e cenário prospectivo

Publicado em 17/11/2020 às 16:25 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:51

 

Uberlândia, como polo da região do Triângulo Mineiro, está no processo de tornar-se uma cidade internacional (Foto: Alexandre Costa)

 

As cidades como novos atores das relações internacionais

Com o avanço dos anos no século XX, as relações entre os países foram se complexificando, o que gerou um novo tipo de atuação dos Estados-nações e o surgimento de novos atores. Foi necessário “reformular” a maneira como o Estado era visto e o papel que desempenhava na esfera internacional e nacional. No âmbito internacional, surgiram os atores supranacionais, como a ONU, os blocos econômicos, entre outros. No nacional, determinadas cidades e regiões se sobressaíram em função de sua relevância, a ponto de se tornarem atores dentro do sistema internacional.

Nesse contexto, surge a governança multinível, que significa a interligação de diferentes níveis do governo em negociações entre atores subnacionais não públicos, para além dos governamentais, como empresas e ONGs. Diversas regiões com potencial podem se tornar atores dentro do sistema internacional, caso seja aplicada uma metodologia de governança multinível eficaz, como é exemplificado com o caso do Triângulo Mineiro. 

As características que tornam uma cidade internacional são: a influência em importar e exportar fatores de produção, ter meios de comunicação social com o exterior, setores da região estarem interligados com o contexto internacional, uma paradiplomacia pública presente, a composição étnica da população ser diversificada, entre outras. Assim, Uberlândia, como polo da região do Triângulo Mineiro, está no processo de tornar-se uma cidade internacional.

A paradiplomacia é um dos principais expoentes que concretizam a inserção internacional de uma cidade, pois ela é caracterizada por atores subnacionais nas relações internacionais. A paradiplomacia pública é aquela em que os atores são os governos não centrais e a paradiplomacia em si pode envolver atores que não são necessariamente públicos, como empresas, ONGs e, inclusive, cidadãos. Esse processo é de extrema importância, já que o governo federal pode facilitar o processo de internacionalização, mas sem a ajuda e o comprometimento do poder público regional não haverá como essa inserção ser ampla e bem trabalhada. Dessa forma, a formulação de políticas públicas municipais, regionais e estaduais se mostra necessária para que a região com potencial se torne amplamente internacionalizada, já que são nelas que ocorrem os principais processos que poderão ajudar nessa inserção.

 

Uberlândia procura um lugar no mapa mundi

A região do Triângulo Mineiro tem o potencial para se destacar no sistema internacional atual, e em parte isso está sendo trabalhado. A cidade de Uberlândia não é diferente: ela pode vir a ser uma cidade internacional e polo da região caso seja bem desenvolvida toda a sua capacidade, que no momento está evoluindo de forma lenta. Logo, esse texto se torna necessário, já que mostra o porquê da necessidade da paradiplomacia ser mais presente, já que ela irá incentivar a atuação no contexto internacional. 

A importância da paradiplomacia tornou-se mais evidente durante os governos anteriores, que avistaram o potencial produtivo da região do Triângulo Mineiro e investiram em políticas de incentivo para a região, tanto federais como municipais e regionais.

No contexto atual, o poder público incentiva o desenvolvimento internacional da cidade, mas apenas em alguns pontos específicos; logo, não é aproveitado todo o potencial que o município oferece. Por isso, se faz tão necessária a governança multinível e a paradiplomacia pública, pois com elas seria analisada a viabilidade de aplicar mais políticas públicas que tenham como objetivo a inserção internacional de Uberlândia.

Ao passo que, rumo a uma governança com todos os setores da cidade, os outros âmbitos estão se desenvolvendo mais; por exemplo, a própria universidade, que possui diversos convênios internacionais, como mobilidades, pesquisa conjunta, troca de documentos, havendo intercâmbio cultural e avanço na área científica, o que ajuda tanto na internacionalização da UFU como de Uberlândia. Além disso, no que tange a população, ela se caracteriza como muito diversificada e com a presença de imigrantes, o que também é um fator necessário para o processo.

Da mesma forma, o setor empresarial se destaca na região, principalmente no que diz respeito à área agropecuária, pois têm vários avanços tecnológicos pioneiros, como o emprego da biotecnologia e engenharia em prol de uma melhor produtividade e qualidade. No entanto, outras áreas também evoluíram muito nos últimos anos, devido a vários fatores, como a localização, os investimentos e os incentivos a se fixarem na região. Dentre essas áreas estão as empresas de tecnologia.

Esse processo foi de fundamental importância no auxílio à inserção internacional. Entretanto, com a falta da atuação da paradiplomacia pública regional não houve um aproveitamento eficaz desse processo. Claro que houve algumas políticas regionais que facilitaram, mas uma boa parte veio de provimento federal, estadual ou de outros setores que não são públicos.

Um exemplo bem sucedido de governança é a construção do Entreposto da Zona Franca de Manaus, em que houve comunicação entre os governos estaduais de Amazonas e Minas Gerais, além do próprio governo federal. Ele foi possível devido à localização privilegiada da região para com as outras capitais e principais aeroportos internacionais, além de políticas públicas voltadas a incentivar a construção do Entreposto em território uberlandense. Esse processo caracterizou uma forma de paradiplomacia da Prefeitura Municipal, pois incentivou a cidade a manter e fazer novas relações com o mundo globalizado.

Logo, é perceptível a necessidade da governança multinível para que a inserção internacional de Uberlândia como polo regional seja mais eficaz e mais rápida.

 

Cenário prospectivo

Como explicitado anteriormente, é necessária uma maior atuação das políticas públicas regionais no processo de internacionalização, pois assim haverá um cenário mais bem definido quanto a esse processo. Para que haja uma melhor percepção, e consequentemente atuação, desde já, é necessário colocar em prática as orientações desenhadas rumo a este objetivo: a inserção internacional de Uberlândia.

Deve haver um amplo investimento em infraestrutura, em logística, na diversificação da economia, em ciência e tecnologia, para que seja mais atrativo para as empresas, num cenário posterior, escolher a região para investir. E não só as empresas, mas para que todos vejam Uberlândia como uma cidade diversa em todos os âmbitos e preparada para ser uma cidade internacional .

O acordo entre Dublin (capital da Irlanda) e Uberlândia é um exemplo perfeito para entender como a cidade pode se destacar, principalmente se for feita uma governança multinível eficaz em prol de um desenvolvimento regional eficiente. O acordo foi de que a cidade mineira receberia os atletas irlandeses um mês antes das Olimpíadas de 2016, para que eles se instalassem; e isso na época poderia ter sido uma forma de impulso para que mais acordos pudessem ser feitos, dando visibilidade futura à cidade, ou seja, aplicar a paradiplomacia pública. Mas não foi feito o aproveitamento dessa oportunidade.

Para que mais acordos como o de Dublin com Uberlândia possam ocorrer, deve haver investimentos e incentivos nas áreas que possam ser entendidas como barreiras ao investimento, ou áreas que são tendências dentro da inserção internacional. Por exemplo, o gerenciamento das bacias para contornar uma potencial crise hídrica e se tornar mais atrativa pela segurança ao investimento estrangeiro. Além disso, outros debates sobre o meio ambiente se tornam cada vez mais necessários devido à evidência do assunto no sistema internacional.

Logo, ao entender o processo evolutivo pelo qual a cidade está passando, é possível visualizar que, para um cenário prospectivo melhor, tem que haver uma governança multinível adequada. E isso ocorre da melhor forma, através da utilização das ferramentas da paradiplomacia, pois as políticas públicas feitas pela Prefeitura irão ser estrategicamente pensadas para inserir a cidade da melhor forma no contexto internacional e, assim, auxiliar os outros setores da sociedade a se adequar à possibilidade de Uberlândia se tornar uma cidade internacional.

 

*No contexto de pandemia, o Projeto de Ensino na Quarentena desenvolve atividades de aprendizado discente e promove a discussão pública dos temas do Grupo de Extensão Uberlândia no Contexto Internacional (GEUCI). O grupo, ao receber graduandos e pós-graduandos e integrar atividades de ensino, pesquisa e extensão, monitora e auxilia a internacionalização de Uberlândia. Fazemos isso em prol do desenvolvimento regional e a partir da complementaridade entre governo, empresas, academia e sociedade -  nossa forma de pensar e atuar no território. Entre em contato conosco através de nossa redes sociais ou no e-mail armando.gallo@ufu.br

 

A seção "Leia Cientistas" reúne textos de divulgação científica escritos por pesquisadores da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). São produzidos por professores, técnicos e/ou estudantes de diferentes áreas do conhecimento. A publicação é feita pela Divisão de Divulgação Científica da Diretoria de Comunicação Social (Dirco/UFU), mas os textos são de responsabilidade do(s) autor(es) e não representam, necessariamente, a opinião da UFU e/ou da Dirco. Quer enviar seu texto? Acesse: www.comunica.ufu.br/divulgacao. Se você já enviou o seu texto, aguarde que ele deve ser publicado nos próximos dias.

 

Palavras-chave: Leia Cientistas Relações Internacionais

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