Pular para o conteúdo principal
Leia Cientistas

Jovens do sexo masculino predominam nas mortes por acidentes com motocicletas em MG durante pandemia

Pesquisa analisou dados de municípios de pequeno, médio e grande portes

Publicado em 19/08/2022 às 16:15 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:39

Pesquisadores fizeram o cálculo da incidência das internações, de médias e variações percentuais, considerando o sexo e a faixa etária, e dos totais de valores gastos com internações. (Foto: Marco Cavalcanti)

 

Por Raphael Roberto Gonzaga Estevão, Tainara Aparecida Rodrigues da Silva, Nikolas Lisboa Coda Dias, Gabriel David Camargo, Priscila Anice Fernandes, José Elievam Bessa Júnior e Stefan Vilges de Oliveira.*

 

As motocicletas têm importante papel como instrumento de trabalho, em função da rapidez de mobilidade e do baixo custo de aquisição no Brasil. Os acidentes de trânsito envolvendo as motocicletas respondem em mais da metade dos óbitos por ano. Nesse sentido, é essencial entender mudanças no perfil dos acidentes com motocicletas, considerando a influência das medidas de isolamento social e o aumento da realização do transporte de mercadorias encomendadas por aplicativo, por meio de motos, no contexto da pandemia da covid-19.

Nosso estudo (publicado como artigo original na HU revista no dia 15/08/2022 Perfil epidemiológico dos acidentes com motocicletas durante a pandemia da covid-19 nos municípios de Minas Gerais, Brasil | HU Revista (ufjf.br) teve o objetivo de avaliar as internações e óbitos provocados por acidentes com motocicletas durante a pandemia da covid-19 nos municípios de Minas Gerais. Nós escolhemos essa temática, devido ao elevado número de mortes e sequelas por acidentes com motociclistas, contribuindo com o aumento dos gastos dos serviços de saúde.

Para realizarmos essa análise, coletamos dados de internações, óbitos e gastos dos serviços de saúde dos municípios de Minas Gerais nos anos de 2017, 2018, 2019 (pré-pandemia), e 2020 (período pandêmico) no Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIH/SUS). Para facilitar a análise, separamos os dados em municípios de pequeno, médio e grande portes. Depois, realizamos o cálculo da incidência das internações, de médias e variações percentuais, considerando o sexo e a faixa etária, e dos totais de valores gastos com internações, para comparar os achados de 2020 aos três anos anteriores. Calculamos também o total de internações e óbitos por faixa etária e sexo ocorridos durante o ano de 2020.

Em nosso estudo, em comparação aos anos anteriores, durante a pandemia detectamos reduções de 4,55% e 3,18% na incidência de internações nos municípios de pequeno e grande portes e um aumento de 5,40% nas cidades de médio porte. Essas reduções podem estar relacionadas ao isolamento social para o controle da pandemia, além da diminuição dos leitos para hospitalizações por acidentes de trânsito, com intuito de ampliar vagas destinadas aos pacientes com covid-19.

Já o aumento da incidência de internação observado nos municípios de médio porte pode estar relacionado ao aumento das viagens e das entregas nos serviços de delivery realizados por muitos motociclistas, com objetivo de ganhar maior renda por intensificação da jornada de trabalho. Além disso, o aumento de velocidade por redução de veículos nas ruas decorrente do isolamento social associado aos déficits nas estruturas das vias, falta de segurança e fiscalização pode explicar o aumento do número de óbitos e os gastos com hospitalizações observados.

Durante o ano de 2020, detectamos que nos municipíos de grande porte, como Uberlândia e Belo Horizonte, 95,83% dos óbitos causados por acidentes motociclísticos ocorreram nos indivíduos do sexo masculino. Já nas cidades pequenas, observamos que 39,72% das internações ocorreram com jovens de 20 a 29 anos. Esses achados estão correlacionados com a maior propensão à execução de manobras de alto risco e agressividade no trânsito por parte de jovens do sexo masculino.

A fonte de coleta de dados foi um dos fatores limitantes de nosso estudo, porque o sistema de informação utilizado (SIH-SUS) considera somente os casos que foram internados, não sendo contabilizados acidentes leves que não ingressaram no ambiente hospitalar.

Em nosso estudo, foi possível avaliar a incidência de um importante problema de saúde pública, intervindo diretamente na saúde e aumento de gastos públicos. Dessa forma, são necessárias medidas de prevenção de acidentes com motociclistas, aprimoramento da fiscalização do trânsito e da velocidade dos veículos e aplicação de campanhas educacionais de conscientização.

 

Raphael Roberto Gonzaga Estevão, Tainara Aparecida Rodrigues da Silva, Nikolas Lisboa Coda Dias, Gabriel David Camargo e Priscila Anice Fernandes são discentes do Curso de Medicina. José Elievam Bessa Júnior é docente do Departamento de Engenharia de Transportes e Geotecnia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Stefan Vilges de Oliveira é docente do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Medicina (Famed/UFU) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

 

A seção "Leia Cientistas" reúne textos de divulgação científica escritos por pesquisadores da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). São produzidos por professores, técnicos e/ou estudantes de diferentes áreas do conhecimento. A publicação é feita pela Divisão de Divulgação Científica da Diretoria de Comunicação Social (Dirco/UFU), mas os textos são de responsabilidade do(s) autor(es) e não representam, necessariamente, a opinião da UFU e/ou da Dirco. Quer enviar seu texto? Acesse: www.comunica.ufu.br/divulgacao. Se você já enviou o seu texto, aguarde que ele deve ser publicado nos próximos dias.

Palavras-chave: motoboys motocicletas acidentes óbitos mortes pandemia COVID-19

A11y