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Competitividade

Cientista da UFU propõe modelo de inovação sustentável em cadeias de suprimentos

Pesquisa desenvolvida na pós-graduação da Faculdade de Gestão e Negócios aborda o mercado consumidor regional

Publicado em 25/01/2023 às 13:40 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:38

As inovações sustentáveis podem levar à criação de vantagem competitiva nas cadeias de suprimentos. (Foto: Marco Cavalcanti)

Atualmente, inovação e sustentabilidade são palavras que não podem faltar na gestão de empresas e instituições. Isso porque atender com responsabilidade socioambiental as antigas e novas demandas de consumidores tem relação com o sucesso do negócio.

É o que trata a primeira tese defendida no curso de doutorado acadêmico do Programa de Pós-Graduação em Administração da Faculdade de Gestão e Negócios da Universidade Federal de Uberlândia (PPGAdm/Fagen/UFU). A defesa foi realizada em setembro de 2022.

O objetivo da pesquisa, desenvolvida por Lucas Silva Barreto, servidor da UFU, sob orientação das professoras Verônica Angélica Freitas de Paula e Vérica Freitas (coorientadora), foi propor um modelo de inovação sustentável nas cadeias de suprimentos orientado ao mercado consumidor regional.

Nas empresas, diversas atividades são necessárias para que produtos e serviços cheguem aos consumidores e clientes. Basicamente, elas são as atividades de fornecimento, transformação e o transporte, envolvendo fornecedores de insumos, indústrias, atacadistas e varejistas. A essa estrutura, dá-se o nome de cadeia de suprimentos.

Assim como o sistema respiratório de um organismo vivo, cada parte integrante dessa cadeia precisa estar trabalhando de forma coordenada para a sobrevivência do todo. “Eles são responsáveis pelo fluxo de materiais e de informação nessas relações. Naturalmente, devem ser corresponsáveis pelos impactos socioambientais resultantes desses fluxos”, destaca Barreto.

“Para mitigar esses impactos, surge o conceito de inovação sustentável. Ela surge da necessidade de novos produtos, serviços ou processos produtivos que têm como objetivo unir três dimensões: a economia, a sociedade e o meio ambiente, causando impacto positivo e equilibrado. Um crescimento econômico que seja atrelado a essas duas outras dimensões é possível”, completa.

Em sua pesquisa, Barreto ouviu tanto consumidores quanto especialistas da cadeia de suprimentos para analisar como os consumidores percebem as práticas de inovação sustentável e como as organizações podem criar capacidades de atendimento de demandas socioambientais do mercado consumidor.

Em relação aos consumidores, a intenção do pesquisador era examinar o aspecto comportamental, considerando a efetividade percebida. Ela analisa como o indivíduo considera que as suas ações individuais de consumo são capazes de afetar as questões socioambientais. Além disso, Barreto analisou se havia uma diferença entre efetividade percebida em escala regional e global.

 

A detecção das necessidades do consumidor deve considerar todo o ciclo de vida dos produtos, passando também por inovações sociais. (Foto: Marco Cavalcanti)

"O aspecto regional é importante porque a literatura indicou que as pessoas tendem a se envolver mais em questões socioambientais vivenciadas localmente do que em questões globais, e isso se deve ao senso de propriedade e à distância de organizações protetoras [como a ONU e ONGs, por exemplo]”, afirma Barreto.

No estudo, o então doutorando coletou, por meio de formulário eletrônico, dados de 253 consumidores para analisar se uma efetividade percebida antecedia uma melhor percepção das práticas de inovação sustentável e se essa melhoria de percepção levava a uma maior intenção de compra.

O que ficou constatado, afirma Barreto, é que a efetividade percebida é uma importante antecessora da melhoria da percepção da inovação sustentável. Isto é, quanto mais o indivíduo acredita no impacto individual de suas ações, melhor percebe a relevância dessas inovações. E, quando se considera o impacto local ou regional, mais aprofundada é essa relação.

Apesar disso, não foi constatada uma relação positiva entre as ecoinovações — que são as inovações que visam a mitigar o impacto ecológico negativo — com a intenção de compra. “A literatura estava indicando uma lacuna entre atitude e comportamento. O consumidor pode valorizar as ações, as práticas sustentáveis, mas não necessariamente ele está disposto a comprar produtos ecológicos”, afirma o pesquisador.

Nesse caso, o resultado pode sinalizar, de acordo com ele, outros aspectos comportamentais elencados na literatura, como cultura, negação da realidade, viés otimista e, além disso, a percepção de qualidade inferior e/ou preços elevados dessas inovações.

Em outra parte da pesquisa, Barreto ouviu 137 especialistas das áreas de gestão da cadeia de suprimentos, como Operações, Logística, Transporte, Sustentabilidade e Marketing, por exemplo.

“O segundo estudo foi conduzido para identificar quais capacidades as organizações devem ter, de que forma essas capacidades podem ser antecedentes ou favorecer as inovações sustentáveis na cadeia de suprimentos e se essas práticas tinham relação com a performance de mercado”, diz o pesquisador.

A tese foi fundamentada em uma teoria denominada Teoria das Capacidades Dinâmicas, desenvolvida pelo economista neozelandês David Teece. “São as capacidades organizacionais e as competências que permitem a criação e a manutenção de vantagem competitiva ao longo do tempo. As empresas devem adaptar essas capacidades ao ambiente, e não apenas de forma reativa. Então, a organização, de forma proativa, deve identificar as demandas do mercado, incluindo as demandas latentes”, resume Barreto.

A detecção dessas necessidades, conforme ele, deve ser vista de forma integrada e considerar todo o ciclo de vida dos produtos, passando também por inovações sociais. “São novas práticas que busquem a melhoria da qualidade de vida de funcionários, a igualdade de gênero e renda, dentre outros desafios sociais vivenciados em todo o mundo”, destaca.

Nesse segundo estudo, feito com os especialistas, ficou constatado que duas capacidades dinâmicas funcionam como antecedentes das inovações sustentáveis nas cadeias de suprimentos: a capacidade de detecção de mercado e a capacidade de inovação.

 

A tese defendida por Barreto foi a primeira do Programa de Pós-Graduação em Administração da Fagen. (Foto: Acervo do pesquisador)

“Criar habilidades de percepção de mercado e de modificação de produtos e serviços para atender às demandas socioambientais do mercado consumidor pode melhorar a reputação e a participação de mercado. Para isso, a tecnologia e as competências de gestores e profissionais são fundamentais”, completa Barreto.

O pesquisador conclui que “a tese demonstrou que o consumidor valoriza as inovações sustentáveis e que, sim, essas inovações podem levar à criação de vantagem competitiva nas cadeias de suprimentos”. Clique aqui para ter acesso ao trabalho acadêmico.

 

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Palavras-chave: gestão negócios tese Pós-graduação suprimentos competitividade Divulgação Científica Ciência

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