Publicado em 04/07/2014 às 09:38 - Atualizado em 09/06/2025 às 22:11
"Há várias e complexas formas de desigualdade no mundo do trabalho", explica Patrícia Trópia. (Foto: Diélen Borges)
Como surgiu a ideia de organizar o seminário?
O bacana do V Seminário Trabalho e Gênero é que ele começou a ser organizado inicialmente pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Eu comecei a participar do terceiro, porque me convidaram para organizar uma mesa. No ano seguinte, eles propuseram uma parceria, ou seja, a UFU e a UFG organizaram o quarto seminário, que sempre foi, tradicionalmente, organizado em Goiânia. Aí conversamos e achamos que seria interessante alternar a cidade sede do evento. Então, em 2014, a UFU está sediando um evento que já tem um lugar no calendário acadêmico brasileiro.
Trabalho e gênero constituem uma única temática neste evento?
Tem uma tradição de estudos no Brasil de trabalho e pesquisa sobre gênero, mas o nosso evento é muito singular, porque a nossa discussão teórica, os pesquisadores que a gente convida, os graduandos e pós-graduandos que participam [do seminário] pesquisam a relação entre trabalho e gênero, ou seja, as várias e complexas formas de desigualdade no mundo do trabalho: no acesso ao mundo do trabalho, em relação às profissões, à hierarquia das empresas ou mesmo no setor público, ao próprio tempo de trabalho, porque ainda hoje, e mesmo para executivas, nós temos dupla e até tripla jornada no caso das mulheres. E também uma desigualdade do ponto de vista político: se a gente pensar no movimento sindical, nos movimentos sociais, nos partidos políticos, vai perceber um desequilíbrio não só na participação das mulheres, mas no cargo de decisão que essas mulheres, eventualmente, ocupam nessas instituições, que são políticas do sentido estrito do termo.
Quais as diferenças entre os dois seminários?
Na verdade, são dois eventos que eram independentes. O nosso Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais (PPGCS) é um programa relativamente novo. Foi criado em 2010 e a primeira turma entrou em 2011. Desde então, a gente decidiu, junto com os alunos, criar um seminário internacional para dar visibilidade às pesquisas que são feitas aqui e ao programa e para atrair pesquisadores de outras regiões, estados e até mesmo pesquisadores de outros países para fazer um intercâmbio, só que não numa temática específica, mas num diálogo entre os pesquisadores das três áreas que compõem as Ciências Sociais, que são a Antropologia, a Sociologia e a Ciência Política. Como são dois eventos grandes, importantes e há interesse de fortalecermos mutuamente os eventos, então, decidimos que faríamos um evento articulado. Na verdade é um único evento. Toda a programação contém atividades dos dois eventos, mas a inscrição é única.
Quais são os tipos de atividades?
Vai ter uma mesa de abertura, com a presença de dois pesquisadores internacionais, um do Canadá, que é o professor Ângelo Soares, da Universidade do Quebec, e a professora Sophie Béroud, da Univesidade Lumière. Depois, nós temos três mesas-redondas, duas das quais vinculadas à temática trabalho e gênero: uma que vai discutir a questão gênero, trabalho e identidade, bem no âmago da discussão, e uma outra mesa, que eu gostei muito, que vai discutir o trabalho doméstico, uma questão da ordem do dia. 2013 foi um ano muito importante, com o resultado de uma trajetória, de uma luta histórica das empregadas domésticas, do sindicato das empregadas domésticas, das feministas brasileiras, dos ministérios, das secretarias, enfim, das mulheres envolvidas com o direito das mulheres no trabalho, de entender não só o trabalho doméstico da mulher no seio da família, mas do trabalho das domésticas, ou seja, do trabalho assalariado que tem que ter constitucionalmente todos os direitos. Evidentemente, houve polêmicas, mas justamente por causa dessas polêmicas e também da luta histórica dessa categoria, em que 98% são mulheres, é que nós resolvemos fazer uma mesa dedicada à discussão do trabalho doméstico. Para isso vem uma especialista, uma professora do sul, Jurema Brites, e nós convidamos a presidente da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas, a Creuza Oliveira. Outra modalidade são os chamados seminários temáticos e os grupos de trabalho, que têm coordenadores, mas estão abertos à publicação de comunicações dos vários pesquisadores brasileiros. Os trabalhos selecionados pela comissão científica serão apresentados durante o evento. Além disso, haverá dois minicursos, porque nós também estamos convidando pesquisadores brasileiros para trabalhar de forma mais direcionada, com grupos pequenos de alunos, e atividades culturais. Como nós estamos aqui numa universidade que tem todas as áreas do conhecimento, uma delas extremamente importante, que é a de Artes, estamos organizando momentos durante essa agenda para que haja música, dança, teatro, algumas manifestações culturais que têm a ver, um pouco, com trabalho e gênero, mas também que tenha a identidade do cerrado. Uberlândia é a porta do cerrado. Inclusive, a gente pensou um layout um pouco com as cores [do cerrado], com as plantas. Estamos com a ideia de convidar geógrafos e historiadores para fazer algumas oficinas ou atividades para evidenciar o cerrado brasileiro.
Trabalho e gênero são temas estudados também por outros cursos. O evento é aberto a pesquisadores de outras áreas?
É aberto para as outras áreas. Por exemplo, tem uma sessão temática que vai discutir a questão de gênero e educação. Outra, gênero e memória. Tem vários GTs que abrem um espaço grande para os pesquisadores da área da Economia. Eu diria que a Filosofia, a Economia, o Direito, as três áreas das Ciências Sociais, a História e a Comunicação estão contempladas.
As inscrições já começaram? Como os interessados podem obter mais informações?
A gente começou a divulgação há poucos dias e está interessantíssimo, porque o blog multiplica enormemente a divulgação. E tem a página no Facebook. O link para inscrição ainda não está funcionando, porque é a FAU [Fundação de Apoio Universitário] que vai criar, mas acho que até sexta-feira já estará pronto. Vamos dar conta de manter e realizar o evento e eu acho que nós temos muita condição de consolidar a temática, consolidar o seminário numa área do conhecimento que é tão importante. E, aparentemente, causa até estranheza o que eu vou dizer, mas é um tema que, se a gente não fomenta, não instiga, vai tendendo a ser deixado de lado.
Gênero ou trabalho?
“Gênero” e “trabalho e gênero”. Eu acho que a temática do trabalho, no Brasil, tem lugar muito importante. Claro, há uma variação de conjunturas políticas, teóricas, certos modismos da academia. Mas, por exemplos, na Anpocs desse ano, o principal evento da pesquisa da pós-graduação das Ciências Sociais no Brasil, da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais, não tem nenhuma mesa que vá discutir gênero. Tem mesa que vai discutir trabalho, mas não gênero. Na SBS [Sociedade Brasileira de Sociologia] do ano passado, as minhas colegas me falaram que tiveram muita dificuldade de inserir os seus trabalhos nas temáticas disponíveis porque tinha pouco espaço para gênero. Tem um evento importante no Brasil, que se chama Fazendo Gênero, em que “trabalho e gênero” é uma temática, mas não é a temática principal. Isso me leva a concluir, e a comissão também, que [o V Seminário Trabalho e Gênero] é um evento que tem um lugar, uma importância e uma expectativa muito grande. Todos os eventos anteriores, particularmente a partir do segundo, resultaram na publicação de livros super importantes, que hoje não só estão sendo citados em cursos, mas são bibliografias de cursos de graduação e até mesmo de concursos. No início desse ano, a gente publicou um livro resultante do quarto seminário. Então, quando esse evento terminar, os pesquisadores convidados enviam as suas falas e os seus trabalhos na forma de artigos, nós vamos selecionar os melhores trabalhos apresentados e produzir um livro.
Onde os livros estão disponíveis?
Só impressos. Os anais do evento, a coleção de todos os resumos expandidos e dos artigos, todos os participantes vão receber em CD, mas o livro é uma seleção dos melhores trabalhos. O livro do quinto seminário foi publicado pela editora da PUC Goiás e pode ser adquirido pelo site. Ou os interessados podem entrar em contato conosco (seminariointernacional.ufu@gmail.com).
Palavras-chave: gênero trabalho Ciências Sociais
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