Publicado em 24/08/2021 às 12:22 - Atualizado em 22/08/2023 às 20:25
Foto: Divulgação/Comitê Paralímpico Brasileiro
Formado em Educação Física pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e docente da instituição por mais de 35 anos, tendo ocupado com o cargo de pró-reitor de Extensão, Cultura e Assuntos Estudantis - entre os anos de 2009 e 2012 -, Alberto Martins da Costa é o diretor-técnico Comitê Paralímpíco Brasileiro (CPB). No cargo deste 2017, ele está chefiando a delegação que representa o Brasil nas Paralimpíadas, cuja cerimônia de abertura foi realizada nesta terça-feira (24/08), em Tóquio. Esta é a quarta vez em que o uberlandense chefia uma missão brasileira nesta competição - as outras três foram, respectivamente, nos jogos de Sydney-2000, Atenas-2004 e Pequim-2008. Confira, a seguir, entrevistas concedidas por ele à Revista do Conselho Federal de Educação Física (Confef), em setembro de 2020, e ao Portal do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), pouco antes do embarque para o Japão.
Revista Educação Física - Por que o senhor escolheu a Educação Física como carreira? Alguma experiência influenciou sua decisão?
Alberto Martins da Costa - A Educação Física e o esporte estão presentes na minha vida desde cedo. Fui atleta de natação desde os 10 anos. Aos 14, auxiliava o meu técnico nas escolinhas de natação do Uberlândia Tenis Clube (UTC), onde adquiri o gosto e o prazer em ensinar, o que, consequentemente, me levou ao curso de Educação Física.
Revista Educação Física - Como foi sua trajetória na profissão?
Desde adolescente, a Educação Física e o Esporte fazem parte da minha vida, como eu acabei de contar. Já na Faculdade de Educação Física, atuava como estagiário e residente em Educação Física escolar, o que posteriormente me levou a ser contratado como professor no curso de Educação Física da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), e até a cursar o mestrado na Universidade de Frankfurt, na Alemanha.
De volta ao Brasil, fui assumindo vários cargos na UFU. Entre eles, o de coordenador de curso, diretor do Centro de Ciências Biomédicas, pró-reitor de Extensão, Cultura e Assuntos Estudantis, entre outros. Dentro do MEC, colaborei com a discussão e inclusão da disciplina Educação Física e Esportes Adaptados no currículo do curso.
Paralelamente, contribuía com o Esporte Paralímpico na gestão de instituições como a Federação Internacional de Esportes para Cegos e a Sociedade Brasileira de Educação Física Adaptada, entre outras.
Revista Educação Física - O seu currículo acadêmico é bastante extenso. Qual é a importância dos estudos para uma carreira de sucesso?
Extremamente importante. Os estudos nos dão base para desenvolver nosso trabalho com segurança e credibilidade, principalmente na nossa área que exige uma interação próxima com outras. Precisamos estar atualizados para discutir de forma competente com todos esses profissionais, acompanhando a atualização da área em todas as suas vertentes.
Revista Educação Física - No CPB há incentivos para que os paratletas deem continuidade aos estudos após a aposentadoria? Há algum programa que possa ser citado?
Sim. Esta é uma área que nos motiva muito. Acreditamos que mais importante que as medalhas e a performance esportiva, são o legado do conhecimento e a capacitação dos nossos atletas, para que continuem exercendo sua plena cidadania após sua carreira no esporte. Muitas vezes, as medalhas e os resultados são esquecidos e apagados pelo tempo, mas o conhecimento e a experiência adquirida são legados eternos. É por isso que implantamos o programa Atleta Cidadão (www.cpb.org.br/atletacidadao), que busca capacitá-los desde seu ingresso no CPB, preparando-o, desde cedo, para sua vida pós carreira esportiva.
Revista Educação Física – E como a pandemia afetou as atividades do CPB?
No início da pandemia, tivemos que tomar decisões difíceis, pois estamos no ano dos Jogos Paralímpicos, com expectativas de uma forte participação brasileira. Infelizmente, tivemos que fechar o nosso Centro de Treinamento para preservar a vida dos nossos atletas, como bem maior e mais importante. Ao mesmo tempo, elaboramos, com a nossa equipe técnica interdisciplinar, um programa de acompanhamento aos atletas em suas residências, para orientá-los em suas atividades técnicas, físicas, de saúde, nutricionais e psicológicas, de forma que tivéssemos o menor impacto possível nesta paralização, retornando com o máximo de segurança possível.
Hoje, com um protocolo extremamente rígido e cuidadoso, estamos retornando aos trabalhos no Centro de Treinamento e nos preparando para os Jogos em 2021.
Revista Educação Física - A mudança na data dos Jogos Paralímpicos causou muitos impactos?
As nossas expectativas continuam sendo muito boas, principalmente por conhecermos a capacidade dos nossos atletas e técnicos em superar os desafios e obstáculos. Tenho certeza que faremos uma grande participação nos Jogos Paralímpicos. É claro que o impacto é inevitável, pois a insegurança ainda persiste.
Revista Educação Física - Que dica o senhor daria aos profissionais de Educação Física que desejam atuar no alto rendimento?
A melhor dica que posso dar é o estudo e a atualização permanente, tendo sempre em mente que os resultados são consequência da sua dedicação. Para nós, que trabalhamos com o esporte para as pessoas com deficiência, é importante ter claro que o nosso grande desafio é sempre maximizar a potencialidade respeitando as limitações, é detectar e desenvolver potencialidade e capacidade. Vale lembrar que o esporte é a principal ferramenta de inclusão da pessoa com deficiência consigo e com a sociedade, pois é através dele que se reconhece, desenvolve e demonstra toda sua potencialidade.
Revista Educação Física - Gostaria de acrescentar algo mais?
Tenho um enorme orgulho de ser profissional de Educação Física, de trabalhar com o Esporte para Pessoa com Deficiência e o Esporte Paralímpico, pois foi por meio da minha profissão que adquiri tudo que tenho hoje: conhecimento, experiência, amizades, reconhecimento profissional e pessoal. É por meio da Educação Física que eu sou Professor Alberto.
MCTI - Como está a preparação dos atletas para os Jogos Paralímpicos deste ano?
Na realidade a pandemia trouxe um impacto significativo na preparação dos atletas, uma vez que isso mexe no planejamento de treinamento, na periodização do treinamento. Ou seja, essa periodização teve que ser remanejada, teve que ser readaptada uma vez que o planejamento era para 2020. Mas os atletas estão se preparando e estamos com um protocolo bastante rígido no CPB para a preparação dos atletas. Todos eles já estão vacinados; então, a gente está bem otimista em fazer uma grande participação em Tóquio.
MCTI - Qual a importância da tecnologia para os atletas paralímpicos?
A tecnologia tem uma importância fundamental para os atletas paralímpicos. Se nós pegarmos em relação à prótese, um atleta amputado de perna. As próteses são tecnologias que são desenvolvidas para dar ao atleta maior autonomia e independência. A mesma coisa com relação à cadeira de rodas, quer seja de corrida, quer seja de arremesso. Podemos falar também da construção de calhas que possam auxiliar o atleta paralisado cerebral na bocha e enfim, em praticamente quase todas as modalidades, principalmente nas modalidades individuais a tecnologia está presente. E, logicamente, essa tecnologia necessita de materiais específicos e o que mais traz dificuldade é o alto valor desses equipamentos com tecnologia avançada. Então, uma vez que nós possamos desenvolver essa tecnologia no país, nós conseguimos atender um número maior de atletas e com um preço mais razoável. Falando-se em cadeira de rodas, se falando em próteses principalmente são tecnologias bastante caras para uma aquisição individual dos atletas.
MCTI - Hoje no país existem estudos e instituições de produção de tecnologia para atletas paralímpicos?
Existem várias empresas que desenvolvem essa tecnologia, principalmente no exterior. Mas, como eu disse anteriormente, são tecnologias com materiais avançados e de alto custo. O que se procura aqui no Brasil, com relação à cadeira de corrida, ela tem que ser ajustada individualmente para cada um dos atletas dependendo do seu nível de lesão, dependendo da prova que ele vai fazer, dependendo do seu biótipo. Então, essas cadeiras devem estar ajustadas com os atletas. Aqui no Brasil nós temos, por exemplo, o Centro Brasileiro de Referência em Inovações Tecnológicas para Esportes Paralímpicos, o CINTESP.Br, que tem desenvolvido protótipos de cadeiras de rodas, que a gente espera que futuramente possam ser úteis para contribuir para o esporte paraolímpico, principalmente o atletismo, com preços que possam ser acessíveis principalmente para utilizar na iniciação, uma vez que as cadeiras são individuais. A mesma coisa ocorre com outros equipamentos como equipamentos de musculação adaptados, bicicletas adaptadas para as pessoas com deficiência. Enfim, vários são os equipamentos que podem ser desenvolvidos para contribuir com o esporte paralímpico, principalmente ao que se refere ao baixo custo, ou seja, com preços que possam ser acessíveis para aquisição por esses aletas.
MCTI - Qual é a expectativa de medalhas dos atletas paraolímpicos brasileiros este ano?
Nós temos uma expectativa muito boa. Nós temos um planejamento estratégico que foi feito em 2017 abrangendo dois ciclos, até 2024. É logico que o ciclo 2017 a 2020 foi estendido para 2021; então, o próximo ciclo nós teremos só três anos. E esse ciclo deu uma encurtada porque nós ficamos aí um tempo significativo sem o treinamento na sua plenitude, mas a expectativa é muito boa. Nós temos uma expectativa de continuar figurando o Brasil entre as 10 maiores potências do mundo. Então, a gente acredita que realmente vamos ter uma grande participação.
Palavras-chave: Esporte paralimpíada Alberto Martins da Costa
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