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Leia Cientistas

Interdependência de preços entre mercados brasileiros e internacionais de bovinos de corte em ponto de abate

Saiba mais sobre o estudo de pesquisadores da UFU e outras instituições na seção ‘Leia Cientistas’

Publicado em 19/08/2022 às 17:10 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:39

Foto: Associação Brasileira de Angus - enviada pelo pesquisador

Pesquisa sobre a interdependência (integração), dominância e assimetria na transmissão de preços entre o mercado brasileiro e internacional de bovinos de corte em ponto de abate, foi desenvolvida pelos pesquisadores-professores Odilon José de Oliveira Neto, da Faculdade de Administração, Ciências Contábeis, Engenharia de Produção e Serviço Social da Universidade Federal de Uberlândia (Faces/UFU - Campus Pontal); Reginaldo Santana Figueiredo, da Universidade Federal de Goiás (UFG), e Alcido Elenor Wander, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), e teve os resultados finais recentemente publicados no periódico Revista Econômica do Nordeste (REN), em artigo intitulado Price Interdependence in the International and Brazilian Beef Cattle Market. Oliveira Neto, Figueiredo e Wander. Nesse estudo foram utilizadas séries semanais dos preços cotados em dólares americanos por quilo dos bovinos de corte em ponto de abate nos mercados argentino, australiano, brasileiro (representado pelas principais praças brasileiras produtoras e comercializadoras de carne bovina), norte-americano, paraguaio e uruguaio, no período 2007-2018.

Os resultados apontaram para fortes evidências de interdependência entre os preços no mercado brasileiro e os preços nos mercados internacionais, mas com a direção da transmissibilidade significativa tão-somente dos preços do boi gordo brasileiro para os bovinos de corte dos mercados internacionais estudados. A exceção ficou por conta do preço no mercado uruguaio, que atua como importante previsor das alterações no preço do boi gordo sul-rio-grandense.

Revelaram-se também, evidências de forte integração entre o mercado brasileiro e os mercados australiano, paraguaio e uruguaio, com transferência assimétrica do mercado brasileiro para os mercados australiano e paraguaio (variações negativas nos preços nas praças brasileiras são transmitidas com maior intensidade e magnitude do que variações positivas de preços) e simétrica do mercado brasileiro para o mercado uruguaio (variações negativas e positivas nos preços nas praças brasileiras são transmitidas com a mesma intensidade e magnitude). Figueiredo e Oliveira Neto (2021) aprofundaram a pesquisa sobre transmissão de risco de preços entre os mercados sul-mato-grossense e paraguaio de boi gordo, e concluíram que a transmissibilidade de risco de preços se dá via choques e volatilidades somente na direção do mercado sul-mato-grossense para o paraguaio, resultado esse que motivou a realização por parte de Oliveira Neto, Figueiredo e Machado (2021) de um estudo sobre a verificação da efetividade da gestão do risco de preços do boi gordo paraguaio via negociação de contratos futuros do boi gordo brasileiro.

Por outro lado, de acordo com artigo Price Interdependence in the International and Brazilian Beef Cattle Market, conclui-se que o mercado brasileiro apresentou baixo nível de integração com os mercados argentino e estadunidense. Oliveira Neto, Figueiredo e Wander ressaltam que, hipoteticamente, a baixa integração entre os mercados brasileiro e argentino se deve às inúmeras intervenções do governo federal argentino na cadeia produtiva, ações essas que contribuíram para limitar a abrangência mercadológica da carne bovina argentina, dentre as quais destacam-se: o aumento de taxas de exportação, as restrições ao peso para o abate de bovinos, a limitação das cotas de exportação e, em curto período de tempo, até mesmo, a proibição das exportações. Essas ações já haviam sido apontadas por Oliveira Neto e Garcia (2013).

A respeito da baixa integração entre os mercados brasileiro e norte-americano, Oliveira Neto, Figueiredo e Wander ressaltam que em hipótese, parte disso se deve as barreiras de importação de carne bovina brasileira e também a fatores associados a níveis de exigência para importações associadas a qualidade da carne in natura no período estudado. Além disso, ressaltam a cotação média superior do bovino de corte em ponto de abate norte-americano comparado aos preços praticados nas principais praças brasileiras e nos demais mercados internacionais investigados.

Quanto à dominância na transmissão de preços do boi gordo no mercado brasileiro para os preços dos bovinos de corte em ponto de abate nos mercados internacionais, o estudo evidenciou a prevalente dominância conjunta na transmissão de preços das praças de São Paulo e Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Goiás, para os preços nos mercados internacionais, com maior transferência  de preços para os mercados australiano, paraguaio e uruguaio, e menor transmissibilidade de preços para os mercados argentino e norte-americano.

Em suma, diante do objetivo principal de verificar a interdependência e a assimetria na transmissão de preços entre os principais mercados brasileiros e internacionais de bovinos de corte em ponto de abate, Oliveira Neto, Figueiredo e Wander analisaram a volatilidade de cada mercado e avaliaram como um choque (causado por evento, ou incremento de nova informação, notícia etc.) em um mercado específico se propaga para os outros mercados. Assim sendo, concluiu-se que, de imediato, as choques (variações) nos preços do boi gordo nas principais praças brasileiras produtoras de carne bovina causam variações imediatas nos preços dos principais dos bovinos de corte em ponto de abate mercados internacionais.

Em face disso, Oliveira Neto, Figueiredo e Wander dizem esperar que as análises e conclusões da pesquisa contribuam para a tomada de decisão dos agentes da cadeia produtiva de bovinos de corte dos mercados estudados, tornando a administração dos preços e do risco mais eficaz. O artigo liderado pelo professor-pesquisador Odilon Neto, do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Administração e Ciências Contábeis da UFU, Campus Pontal, é produto do Projeto de Pesquisa “Dinâmica da relação entre os mercados de commodities agropecuárias no Brasil: transmissão de preços e risco”, financiado pela Fapemig, no âmbito da Chamada Universal Fapemig nº 01/2021, e do Projeto de Pesquisa “Interdependência dos preços e transmissão de risco entre os mercados agrícolas dos países membros efetivos do Mercosul”, financiado pelo CNPq, no âmbito da Chamada Universal MCTI/CNPq nº 28/2018.

Ao considerar a magnitude dos mercados estudados (países) na pesquisa coordenada pelo professor Odilon Neto, ressalta-se que, juntos, Argentina, Austrália, Brasil, Estados Unidos, Paraguai e Uruguai são responsáveis por, aproximadamente, 35% do contingente mundial de bovinos e 60% das exportações globais de carne bovina. Na arena da exportação de carne bovina, destaque para o Brasil, a Austrália e os Estados Unidos que, com 17%, 13% e 12%, respectivamente, são os três primeiros colocados no ranking mundial, e para a Argentina, o Paraguai e o Uruguai que, agregados, atingem 11% do mercado internacional, número significativo dado o contingente de bovinos nesses países (ABIEC, 2018; USDA, 2019).

Além do mercado de carne bovina, Oliveira Neto, Figueiredo e Wander sugerem que estudos futuros analisem também a interdependência e a assimetria na transmissão de risco de preços entre outros mercados de commodities agropecuárias, uma vez que os dados decorrentes dessas pesquisas poderão contribuir para a melhoria da gestão de preços na comercialização em diversas cadeias produtivas agroindustriais. Ao subsidiar os agentes das cadeias produtivas e os respectivos mercados agropecuários com informações que contribuam para tomada de decisões mais efetivas, esse tipo de pesquisa contribui para a sustentabilidade econômica do agronegócio, setor considerado fundamental para a economia dos países envolvidos na pesquisa.

 

*Odilon José de Oliveira Neto é professor da Faculdade de Administração, Ciências Contábeis, Engenharia de Produção e Serviço Social da Universidade Federal de Uberlândia (Faces/UFU - Campus Pontal).

 

A seção "Leia Cientistas" reúne textos de divulgação científica escritos por pesquisadores da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). São produzidos por professores, técnicos e/ou estudantes de diferentes áreas do conhecimento. A publicação é feita pela Divisão de Divulgação Científica da Diretoria de Comunicação Social (Dirco/UFU), mas os textos são de responsabilidade do(s) autor(es) e não representam, necessariamente, a opinião da UFU e/ou da Dirco. Quer enviar seu texto? Acesse: www.comunica.ufu.br/divulgacao. Se você já enviou o seu texto, aguarde que ele deve ser publicado nos próximos dias.

Palavras-chave: Leia Cientistas bovinos Campus Pontal

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