Publicado em 03/07/2024 às 16:33 - Atualizado em 15/07/2024 às 10:25
“Foi a pandemia que me fez abrir os olhos para a possibilidade de trabalhar com vírus”, lembra o pesquisador Marcelo Augusto Garcia Junior, doutorando no Programa de Pós-Graduação em Odontologia da Universidade Federal de Uberlândia (PPGO/UFU), que realiza uma pesquisa inédita sobre diagnóstico salivar de doenças virais e cumpriu um período de doutorado sanduíche no Instituto Nacional de Saúde (National Institutes of Health, NIH), nos Estados Unidos da América (EUA).
Garcia Junior esteve no NIH durante seis meses, entre outubro de 2023 e março de 2024, por meio do Programa Institucional de Internacionalização (Capes PrInt/UFU). “Mudou meu ponto de vista como pesquisador. Quando você vai para uma instituição como o NIH, que tem um orçamento de 43 bilhões de dólares anuais, você aprende muito a valorizar o que fazemos no Brasil, que é uma ciência com muita qualidade, mas pouco recurso”.
Em sua tese, o pesquisador investiga a utilização de componentes da saliva como meio para diagnosticar infecções virais e produzir potenciais antivirais, mais especificamente no caso do SARS-CoV-2, causador da covid-19. “Eu trabalho com peptídeos salivares, que são pequenas moléculas de proteína que já estão presentes na saliva, mas não atuam porque não estão em quantidade suficiente. Então, eu isolo esses compostos e testo quais têm melhor interação com os vírus para bloqueá-los”, explica.
O doutorando integra o Grupo de Inovação em Diagnóstico Salivar e Nanobiotecnologia (Salivanano/UFU), sob orientação e coordenação do professor do PPGO/UFU, Robinson Sabino da Silva. “O objetivo principal do seu projeto era avaliar a capacidade de peptídeos de ocorrência natural em se ligar com vírus entéricos presentes na saliva de modo a bloquear a infecção viral. Além disso, ele também utilizou mimotopos sintéticos desses mesmos peptídeos para detectar infecção causada por esses vírus através da saliva”, detalha o orientador.
Apostando na potencialidade do próprio corpo humano, o estudo traz aspectos inéditos. “A gente já tem na literatura peptídeos que inibem a ação de vírus, mas é a primeira vez que peptídeos da saliva são testados para isso. A principal vantagem deles é que geralmente eles não são tóxicos, porque o nosso próprio corpo produz de forma natural”, destaca Garcia Junior.
O doutorando pondera que, “na área de odonto, o assunto dos vírus e a relação dos vírus com a cavidade oral, com a saliva, é um assunto que ainda está engatinhando, que ainda não tem muitas pesquisas sobre, e a gente já tem muitos resultados muito bons”.
Em 2022, essa proposta de pesquisa ficou em 1º lugar no maior prêmio da Odontologia brasileira, o Prêmio IADR Unilever Hatton Competition and Awards, e levou seu autor a representar o Brasil na 101th IADR General Session & Exhibition, em Bogotá, Colômbia, em junho de 2023.
National Institutes of Health
Garcia Junior conta que buscou o NIH para realizar o doutorado sanduíche quando se deparou com um artigo da professora Nihal Antan-Bonnet na revista Nature sobre a relação entre norovirus e saliva: “Então, eu perguntei a ela: já que vocês foram as primeiras pessoas a descobrirem que esse vírus está na saliva, que infecta através da saliva, vocês não têm interesse em investigar o diagnóstico desse vírus na saliva?”
O NIH é considerado o maior centro de pesquisa biomédica do mundo devido à sua infraestrutura abrangente, vasta gama de recursos e financiamento substancial. Com uma rede extensa de institutos e centros especializados, a instituição promove abordagens multidisciplinares e colaborativas.
Além do avanço na pesquisa, o estágio no NIH oportunizou a convivência com pesquisadores oriundos de diversas partes do mundo e até uma conversa com o cientista Charles Rice, laureado com o Nobel da Medicina em 2022 pela descoberta do Vírus da Hepatite C. “Lá, eu tive oportunidade de conversar com o vencedor do prêmio Nobel por meia hora, contar minha pesquisa para ele e ouvir feedbacks”, lembra Garcia.
Com o retorno ao Brasil, o foco de Garcia Junior está na conclusão de sua tese de doutorado, mas a experiência abriu portas para uma parceria em publicações e novos estudos na área. Para Sabino da Silva, “a experiência no NIH permite estabelecer redes de contato e colaborações internacionais que podem resultar em parcerias futuras, coautorias e projetos colaborativos”.
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Palavras-chave: Odontologia PPGO NIH National Institutes of Health Bolsa doutorado sanduíche
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