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LEIA CIENTISTAS

Casos de violência interpessoal e autoprovocada podem estar associados ao uso de álcool?

Pesquisa avaliou dados do Portal da Vigilância em Saúde de Minas Gerais

Publicado em 15/10/2024 às 10:00 - Atualizado em 15/10/2024 às 18:08

Imagem: Freepik

A violência é definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como o uso deliberado de força física contra si mesmo, contra terceiros ou contra grupos, com potencial de causar lesões, danos psicológicos, morte, privação ou prejuízo no desenvolvimento. É crucial considerar os fatores que podem influenciar a propensão à prática de violências. Um exemplo notável é o consumo de álcool, uma substância legalizada e de fácil acesso à população, sendo a droga mais consumida em nível social e até mesmo de maneira prejudicial em todo o mundo.

Considerando essa afirmação, nossa pesquisa intitulada “Violência interpessoal e autoprovocada associada ao uso de álcool em Minas Gerais” teve como objetivo analisar os casos de notificações de violência que possuem suspeita do uso do álcool, no serviço de vigilância em saúde do Estado de Minas Gerais, no período de 2018 a 2022. Com isso, buscamos verificar se o álcool possui alguma ligação próxima com casos de violência interpessoal ou autoprovocada. Os resultados da pesquisa estão sendo submetidos em formato de artigo original em uma revista científica de nossa área de conhecimento.

Nós escolhemos esse tema devido ao aumento de discussões sobre o uso do álcool e suas implicações para a saúde, bem como sobre o consumo que está iniciando cada vez mais cedo. 

Para realizarmos essa análise, submetemos um projeto a um edital de bolsas de pesquisas, o qual foi aprovado e financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A partir disso, utilizamos os dados oficiais através da ferramenta TABNET, disponível no Portal da Vigilância em Saúde de Minas Gerais, sendo utilizado concomitantemente o Excel pelo Office 365.

Enquanto desenvolvemos o estudo, consideramos o sexo, faixa etária, escolaridade, raça/cor, orientação sexual e identidade de gênero das vítimas. Ademais, quanto ao agressor, foi analisado o sexo e o grau de parentesco com a vítima, além do local da ocorrência, se era violência de repetição e os casos autoprovocados e a tipificação da violência. 

Podemos perceber que o número de casos notificados que foram preenchidos como “Ignorado/Branco” quando se referia a suspeita do uso de álcool, era maior que o número de casos notificados em que havia a suspeita do uso de álcool. Partindo disso, supomos que há uma falha entre os profissionais de saúde ao realizar o preenchimento correto desta ficha de notificação, a qual possui 69 itens e que deve ser realizada obrigatoriamente por qualquer profissional da área da saúde em casos de violência ou que possuem a suspeita.

Do total de casos notificados, trabalhamos com os casos em que havia suspeita do uso de álcool (26%) e foi possível identificar que, neste escopo, 62% das violências foram caracterizadas como força corporal/espancamento, seguido de 18% tipificadas como ameaça. As residências e via pública predominaram como os principais locais de ocorrência.

Quando nos atentamos aos dados sociodemográficos, percebemos que a maior parte das vítimas são do sexo feminino, apresentando 69% das notificações, com faixa etária entre 20 e 34 anos de idade. Quanto à raça/cor, as pessoas pardas foram as mais violentadas (49%), seguido das pessoas brancas (32%) e que, em relação à sua orientação sexual, os heterossexuais lideraram (69%). Foi possível notar que a escolaridade das pessoas mais afetadas foi assinalada como ignorado/branco (24%) e, quanto a identidade de gênero, a predominância foi marcada como “não se aplica” (70%).

Também foi observado que 34% dos casos notificados se referiam à violência de repetição. Quanto à violência autoprovocada, calculamos que apenas 20% possuíam suspeita do uso de álcool.

Partindo para análise do provável autor, foi evidenciado que as pessoas do sexo masculino apresentaram maior porcentagem (76%) e que os cônjuges lideram o número de casos (24%), seguido de amigos/conhecidos (17%), entre outros graus de parentesco registrados.

Outros estudos globais coadunam com os dados encontrados em nosso estudo, bem como pesquisas brasileiras da mesma magnitude realizadas em outros estados e períodos diferentes.

Nosso estudo contribui, portanto, para caracterizar esses casos de violência em Minas Gerais, bem como para ampliar o debate científico acerca da problemática do uso do álcool e para a criação e implementação de políticas públicas que visem reduzir as taxas de violência associada ao uso de álcool. Além disso, contribui para que sejam realizadas capacitações com os profissionais da saúde com o intuito de realizarem o preenchimento correto das fichas de notificações obrigatórias.

 

*João Gabriel Machado Silva é discente do curso de graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Uberlândia.

**Laura Beatriz Andrade Medeiros é discente do curso de graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Uberlândia.

***Eloisa Cabral Reis é discente do curso de graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Uberlândia.

****Bruna Betiatti Benatatti Eller é discente do programa de pós-graduação em saúde da família da Universidade Federal de Uberlândia.

*****Marcelle Aparecida de Barros Junqueira é docente do curso de Enfermagem da Universidade Federal de Uberlândia.

 

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