Pesquisadores da UFU recebem prêmios no 21° Congresso Brasileiro de Contabilidade

Dois trabalhos realizados por pesquisadores da Faculdade de Ciências Contábeis da Universidade Federal de Uberlândia (Facic/UFU) foram premiados no 21° Congresso Brasileiro de Contabilidade, que ocorreu em Balneário Camboriú, entre 8 e 11 de setembro. O evento ocorre a cada quatro anos e comemorou seus 100 anos em 2024, com a participação de importantes nomes na área. 

Temas contemporâneos relacionados ao universo empresarial estão no radar desses estudos, que foram premiados nas categorias de "Trabalho científico" e "Trabalho técnico". Conheça, a seguir, um pouco sobre estes assuntos: um deles examina o tom e a transparência das comunicações corporativas, enquanto outro avalia os elementos que impactam no valor de mercado de uma empresa como a Eletrobras.

Práticas de comunicação empresarial

Um dos trabalhos premiados foi o artigo “Quem conta um conto, aumenta um ponto: Análise do gerenciamento de impressões nos relatos integrados das companhias abertas brasileiras”, de Márcio Viana Rolim e Denise Mendes da Silva, em parceria com o Dermeval Martins Borges Júnior, da Universidade Federal de Goiás (UFG). 

O artigo abordou a comunicação empresarial voluntária no contexto das companhias abertas brasileiras, conhecida também como relato integrado.  Esse tipo de relato “visa integrar informações financeiras e relacionadas à sustentabilidade, com propósito de mostrar ao mercado como a empresa é capaz de criar, manter ou destruir valor no curto, médio e longo prazo”, explica Rolim.  

Em um cenário contemporâneo de desconfiança do que é comunicado corporativamente, o autor destaca que o uso desse modelo de comunicação empresarial pode valorizar a transparência: “diferentemente de outras comunicações empresariais, o relato integrado busca integrar informações financeiras, sociais e de governança, praticados pela empresa, de forma que alcance os assuntos materiais relevantes, contemplando informações retrospectivas e prospectivas de suas ações”. 

Para averiguar isso na prática, o artigo examinou a integridade e o tom das narrativas em 238 relatos integrados de 68 companhias distintas no período de 2014 a 2022. Os principais achados apontam para indícios de um gerenciamento de impressões que, como explica Rolim, "é uma ´tecnica com potencial de transformar a visão de agentes externos às empresas, em que podem ocorrer destaques excessivos para pontos positivos, ocultação de informações negativas ou mesmo retenção destas para divulgação apenas em momentos mais receptivos às más notícias”. 

Como um dos primeiros estudos a avaliar esse aspecto dos relatos integrados, o trabalho recebeu o prêmio de terceiro melhor artigo científico dentre outros 239 artigos submetidos ao evento, além de melhor artigo da área temática de Contabilidade e Sustentabilidade. Para Silva, “foi um importante reconhecimento, tendo em vista que esse é o maior evento da área contábil do Brasil, que, em 2024, contou com a participação de mais de 7 mil pessoas. Foi, principalmente, a oportunidade de aproximar as pesquisas desenvolvidas na universidade com a prática profissional”. 

Efeitos da pandemia e da privatização na Eletrobras

Já na categoria “Trabalho Técnico”, outro estudo da UFU foi premiado, desta vez em 2º lugar. O artigo “Qual o valor da empresa Eletrobras? Uma Análise por meio do EVA/MVA” analisa o valor dessa companhia entre 2017 e 2022. Essa pesquisa foi desenvolvida por Danilo de Sousa Araujo, Elayne Victória Vieira Chagas de Lima e Lísia de Melo Queiroz, em coautoria com Moisés Ferreira da Cunha, da UFG. 

Para avaliar o valor da Eletrobras nesse período, os pesquisadores usaram um método chamado valuation. “É o processo de avaliação do valor das empresas, ou seja, é o conjunto de técnicas que permitem identificar ou estimar o quanto uma empresa vale. Segundo Assaf Neto, um dos autores que exploramos no artigo, a realização do valuation visa obter o valor justo da organização, de modo que esse valor pode influenciar na tomada de decisão das partes interessadas na empresa, incluindo decisões financeiras de investimentos, financiamentos e dividendos”, explicam os autores.

A pesquisa demonstra que, entre os anos analisados, a Eletrobras perdeu valor econômico em alguns momentos, sendo 2022 o de maior destaque, quando o Brasil estava saindo da pandemia de covid-19 e quando a empresa foi privatizada.

Os pesquisadores explicam que esses eventos podem ter impactado diretamente no valor da empresa. O valor estimado da ação, de 62,34 reais, superou o valor de mercado de 41,54 reais, conforme os cálculos baseados no valor de mercado e valor econômico agregado. “No entanto, é importante destacar que o impacto da privatização e o cenário pós-pandemia sobre esses valores ainda são difíceis de avaliar com precisão. A pandemia de covid-19 teve um impacto significativo nas operações da empresa, afetando seu desempenho financeiro e, consequentemente, seu valor de mercado”.

Já em relação à privatização da Eletrobras, é vista uma questão mais complexa, por ainda precisar de mais análises, como afirmam os autores: “A privatização, por sua vez, é um processo recente e seus efeitos não podem ser completamente analisados no curto prazo. Portanto, embora a destruição de valor tenha sido evidente em 2022, não é possível afirmar que a privatização foi a principal causa, já que essa tendência de destruição de valor foi observada em anos anteriores. A análise completa dos efeitos da privatização exige um acompanhamento ao longo de vários anos, considerando a complexidade e o impacto a longo prazo desse processo”.

Avaliadores da UFU também foram premiados

Para que estudos como esses sejam premiados, as entidades também reconhecem o papel de pesquisadores, que sempre avaliam trabalhos na área em que são especialistas e com os quais não tem relação direta. Nesta edição do congresso, os professores da Facic/UFU, Antonio Nadson Mascarenhas e Ricardo Rocha de Azevedo, foram premiados como Melhores Avaliadores pelas Áreas Temáticas “Educação e Pesquisa em Contabilidade” e “Contabilidade Governamental e do Terceiro Setor”, respectivamente. 

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