Publicado em 29/04/2025 às 11:07 - Atualizado em 06/05/2025 às 09:19
A soja é muito mais do que uma commodity: ela é um dos pilares da economia brasileira. Em 2023, esse grão movimentou mais de 60 bilhões de dólares, representando quase metade das exportações do país. Diante de tamanha relevância, entender o que afeta o custo de produzir soja e o preço que ela atinge no mercado é essencial — não só para quem planta, mas também para quem estuda, investe ou formula políticas públicas.
Foi com esse olhar que desenvolvi minha pesquisa, intitulada Influência das variáveis econômicas nos custos de produção e preços da soja OGM e convencional nas principais regiões produtoras do Brasil, no Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis (PPGCC) da Faculdade de Ciências Contábeis (Facic), com orientação do professor doutor Sérgio Lemos Duarte e colaboração do professor doutor Marcelo Tavares, da área de estatística. O foco foi identificar como variáveis da economia — como a taxa de câmbio, os juros (Selic), a inflação, o PIB e o risco país — influenciam os custos de produção e os preços de venda da soja transgênica (OGM) e da convencional nas principais regiões produtoras do Brasil. A análise se baseou em dados reais de 2014 a 2023, reunindo um panorama nacional com base em fontes oficiais como Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Banco Central e Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Um dos principais resultados foi a importância da taxa de câmbio. Quando o dólar sobe, os insumos importados usados na produção ficam mais caros. Isso inclui fertilizantes, defensivos agrícolas e tecnologias específicas — muitos deles essenciais, especialmente na soja OGM. O aumento da cotação do dólar, portanto, tem um efeito direto sobre o custo de produção, que acaba variando bastante mesmo sem mudanças no volume plantado ou colhido. A soja OGM foi mais afetada justamente por depender mais desses insumos.
Outro fator que se destacou foi a taxa Selic, a taxa básica de juros da economia brasileira. Sempre que a Selic está alta, o crédito fica mais caro. Isso afeta diretamente o produtor rural, que muitas vezes depende de financiamento para custear a lavoura, adquirir máquinas ou investir em infraestrutura, como armazéns. Juros elevados encarecem essas operações e reduzem a margem de lucro, tornando a atividade mais arriscada.
Além disso, a pesquisa analisou o impacto de outras variáveis macroeconômicas. O PIB mostrou influência positiva nos preços de venda da soja: quando a economia cresce, a demanda por alimentos e commodities tende a subir, o que pode valorizar o produto. Já o IPCA (índice de inflação) e o Risco País apresentaram efeitos mais indiretos, mas também relevantes, especialmente em momentos de instabilidade econômica.
Um dos diferenciais do estudo foi aplicar a Teoria da Contingência, uma abordagem que reconhece que não existe uma única forma de gerir um negócio. Em vez disso, a melhor estratégia depende do contexto. Isso é especialmente verdadeiro no agronegócio, onde o produtor precisa lidar com variáveis que estão fora do seu controle, como clima e economia. A proposta da teoria é clara: quando o ambiente muda, a gestão também precisa mudar. Por isso, o estudo recomenda que produtores estejam atentos às condições econômicas e usem ferramentas como hedge cambial (para se proteger de variações do dólar), busquem diversificar fornecedores e adotem práticas de planejamento financeiro mais dinâmico, especialmente em tempos de juros altos.
Também foi possível observar diferenças importantes entre os dois sistemas de cultivo. Por exemplo, enquanto a soja OGM teve maiores custos com fertilizantes e defensivos (reflexo do uso intensivo de biotecnologia e do controle de pragas resistentes), a soja convencional apresentou custos mais altos com sementes, principalmente por conta das exigências de certificação em mercados que não aceitam transgênicos.
Este trabalho, inicialmente desenvolvido como minha dissertação de mestrado, ganhou destaque recentemente ao ser indicado ao Prêmio Internacional de Produção Contábil Técnico-Científica Professor Dr. Antônio Lopes de Sá – Edição 2025. Em breve, terei a oportunidade de apresentá-lo na XV Convenção de Contabilidade de Minas Gerais, em Belo Horizonte.
Mais do que uma análise técnica, essa pesquisa pretende contribuir para a prática. A contabilidade, quando bem aplicada, pode oferecer ferramentas valiosas para melhorar a tomada de decisão — mesmo em um setor tão desafiador e dinâmico como o agronegócio. Compreender os impactos da economia nos custos e nos preços da soja é um passo importante para tornar a produção mais eficiente, competitiva e sustentável.
*Tamira Alessandra Barbosa Fernandes Leal, doutoranda e mestre em Ciências Contábeis pela Faculdade de Ciências Contábeis da Universidade Federal de Uberlândia (Facic/UFU). É especialista em Gestão de Custos e Negócios pela Faculdade Fipecafi e bacharel em Ciências Contábeis também pela Faculdade de Ciências Contábeis da Universidade Federal de Uberlândia. Bolsista CAPES, desenvolve pesquisas na área da contabilidade gerencial ligada ao agronegócio.
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Palavras-chave: Soja Economia exportação campo agronegócio Ciências Contábeis dissertação
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