Pular para o conteúdo principal
Ciência

Cientistas da UFU investigam transmissão de toxoplasmose em transplantes

Pesquisa do Instituto de Ciências Biomédicas foi publicada em revista científica internacional

Publicado em 18/11/2019 às 14:37 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:56

O estudo foi produzido inteiramente pelo Laboratório de Imunoparasitologia da UFU (Foto: Marco Cavalcanti)

 

Todo mundo já ouviu falar dos perigos da toxoplasmose, principalmente pela facilidade de se contrair o parasita por meio da ingestão de carne mal passada e por contato com gatos. Saiba que os riscos existem sim, mas seu felino não é a grande ameaça como dizem por aí. A infecção pelo Toxoplasma pode acontecer por diversos fatores, desde o consumo de água sem o devido tratamento e a ingestão de carnes bovina e suína de animais contaminados até através de transplante de medula - como mostra a pesquisa feita por um grupo de cientistas da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e que foi publicada na revista científica Frontiers in Medicine, importante veículo dirigido à área clínica.

 

A toxoplasmose é causada por um protozoário chamado Toxoplasma gondii, que pode afetar o cérebro, pulmões e outros órgãos, sendo uma das zoonoses (doenças transmitidas por animais) mais comuns em todo o mundo. “No Brasil, a gente tem uma das maiores taxas de prevalência dessa infecção por toxoplasma. Por exemplo, em uma sala de 10 pessoas, de 6 a 7 pessoas são chamadas soropositivas sem nunca ter tido uma manifestação. Essas pessoas são chamadas assintomáticas. É uma das maiores taxas do mundo, cerca de dois terços da população têm essa infecção”, explica José Roberto Mineo, professor do Instituto de Ciências Biomédicas da UFU (Icbim). 

A pesquisa intitulada “Uma validação de modelo experimental comprovando a transmissão do Toxoplasma gondii em modelo de transplante de medula óssea” (título em português) feita por Mineo, juntamente com Carolina Salomão Lopes, Tamires Lopes Silva, Julio Cesar Neves de Almeida, Lucas Vasconcelos Soares Costa e Tiago Wilson Patriarca Mineo, e financiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e pelo próprio programa de pós-graduação da UFU, comprova que é possível a contaminação através do transplante de medula óssea, pois o parasita pode estar no interior das células que compõem esse tecido. 

Para entendermos melhor: nossa medula óssea fica dentro do osso - do fêmur ou da bacia - e o parasita consegue alcançar a parte interna desse osso, instalando-se como se estivesse em uma caixa. O professor Mineo ainda ressalta que o Toxoplasma gondii é capaz de atravessar a placenta (no caso de gestantes) ou a barreira hemato-encefálica, que os médicos chamam de “barreira de sete janelas” para chegar ao cérebro. Sendo assim, atravessar o osso seria apenas mais uma habilidade desse parasita, que pode causar sintomas como dores de cabeça, no corpo e na garganta, febre, coriza e fadiga.

O pesquisador José Roberto Mineo mostra gráfico que aponta as regiões do mundo mais contaminadas com toxoplasmose (Foto: Marco Cavalcanti)

 

A transmissão por meio do transplante

“Já houve várias situações em que o paciente fez o transplante de medula e acabou tendo toxoplasmose”, afirma o pesquisador. Se o transplantado recebe uma célula de medula com toxoplasma, ele pode desenvolver a doença. Podem ocorrer outras situações, mas a mais vulnerável acontece quando quem recebe o órgão nunca teve contato com o parasita e o doador já. Para os pesquisadores, é necessário que se inclua na bateria de exames dos doadores o exame de toxoplasmose e, dessa maneira, que sejam feitos exames também no receptor para analisar se ele já teve contato com esse parasita .

Diante disso, o que fazer quando o paciente precisa do transplante e tem um doador toxoplasmose positivo? Mineo esclarece que é necessário avaliar o risco e o benefício: “pelo simples fato de o doador ser positivo e o receptor não, torna-se necessária a realização de uma reação (chamada PCR) para ver se aquelas células [doadas] têm o DNA do parasita, pois pode acontecer de, mesmo o doador sendo positivo, a medula que vai ser transplantada não apresentar DNA parasitário”. 

Nos casos em que o paciente irá receber medula de um doador toxoplasmose positivo e a células estiverem contaminadas, é necessário analisar o quadro do paciente para saber se ele tem condições físicas de fazer o tratamento para a doença após o transplante, já que o transplantado precisa usar diversos medicamentos para se preparar para a cirurgia e a medicação para tratar da toxoplasmose também é tóxica para a medula óssea.

 

 Os felinos e a contaminação

Voltando ao meios de transmissão, Mineo explica o motivo da culpa cair em cima dos bichanos: o gato é o que chamamos de hospedeiro definitivo, por sua presa natural ser os roedores, que estão muito contaminados, pois vivem em contato direto com o solo, além de ser no intestino do gato que se processa o chamado ciclo sexuado. Isso reforça a necessidade de se estudar estratégias de vacinação dos animais, pois a vacina protege os gatos.

Outras maneiras de contaminação são os alimentos orgânicos e a água. Por isso, é recomendado comer carnes sempre bem passadas, verduras e legumes cozidos e consumir somente água tratada.

“Eu gosto muito de citar o caso do famoso coraçãozinho de galinha. Todos nós gostamos muito, mas tem que ser bem fritinho. Comer esse tipo de carne mal passada torna altíssima a possibilidade de se ter a infecção, principalmente, se a origem desse alimento for de galinhas caipiras”, afirma o pesquisador.

 

Palavras-chave: Ciência pesquisa medula óssea toxoplasmose

A11y