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CIÊNCIA

Tese sobre autoetnografia performática para estudo do corpo gay na escola médica conquista prêmio da Capes

Pesquisa de professor da UFU obteve Menção Honrosa na área de Saúde Coletiva

Publicado em 27/10/2020 às 18:33 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:52

 arquivo pessoal)

Prof. Gustavo Antonio Raimondi na University of Massachusetts, Amherst (MA) (Foto: arquivo pessoal)

O trabalho “CORPOS QUE (NÃO) IMPORTAM NA PRÁTICA MÉDICA: UMA AUTOETNOGRAFIA PERFORMÁTICA SOBRE O CORPO GAY NA ESCOLA MÉDICA”, do professor Gustavo Antonio Raimondi, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia (Famed/UFU), conquistou Menção Honrosa no Prêmio Capes de Tese de 2020. A pesquisa inova ao utilizar a autoetnografia performática para o estudo do corpo gay na escola médica, e destacou-se na área de Saúde Coletiva.

O prêmio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) reconhece, desde 2006, os melhores trabalhos de conclusão de doutorado defendidos em programas de pós-graduação brasileiros, seguindo critérios como: originalidade e relevância para o meio científico, cultural e social. Segundo o SITE DA CAPES, 2020 foi o ano com maior número de candidatos da história do prêmio, com 1421 teses inscritas.

Raimondi, que é professor do Departamento de Saúde Coletiva da Famed/UFU, defendeu sua tese em dezembro de 2019. Foi pelo Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e por meio de bolsa da Capes que o docente pôde desenvolver sua pesquisa nos Estados Unidos, onde fez doutorado sanduíche na University of Massachusetts (UMASS) nos anos de 2018 e 2019.

A tese de Raimondi, ao estudar o corpo gay na escola médica utilizando a metodologia da autoetnografia performática, problematiza os desafios para a realização de pesquisas que considerem o corpo daquele/daquela que pesquisa como um local possível e potente de reflexão em diálogo com a cultura e a política de um dado contexto sócio-histórico. Além disso, a tese problematiza os desafios na formação e no cuidado integral em saúde em relação às questões da matriz cis-heteronormativa em relação a outras interseccionalidades.

Sobre a proposta da autoetnografia performática, Raimondi esclarece: “ela apresenta-se como uma estratégia de pesquisa e análise de dados qualitativos que buscam explorar aspectos culturais (etno) considerando explicitamente no texto as perspectivas daquele(a) que pesquisa (auto) ao longo do processo de escrita (grafia). Partindo de experiências, reflexões, sentimentos, insights pessoais, busca-se compreender aspectos políticos das relações cotidianas associados aos discursos hegemônicos dominantes na nossa sociedade como o da branquitude e da cisheteronormatividade.”

“Associados a essa perspectiva, os estudos de performance, a partir dos pressupostos do etnógrafo canadense Dwight Conquergood, incorporam as ações de mimesis (imitação),  poesis (criação) e kinesis (dinamismo) e, com isso, expandem a ideia de ‘performance como imitação’ e ‘performance como construção’ para o conceito de performance como dinamismo, movimento, ativismo e intervenção na cultura”, explica o professor.

“Diante disso e considerando que somos homo performers, a autoetnografia performática convida pesquisadores(as) socialmente engajados(as) a diferenciar as posições distantes do(a) pesquisador(a) e do(a) outro(a) para se aproximar do outro, e se considerar um outro também, a fim de problematizar, interrogar e antagonizar discursos hegemônicos dominantes”, conclui Raimondi. O estudo foi orientado pelo professor Nelson Filice de Barros, da Unicamp, e coorientado pelo também brasileiro Cláudio Moreira, professor da UMASS.

A partir da experiência no doutorado, o professor Raimondi, seu orientador e seu coorientador iniciaram um grupo de pesquisa para estudar e debater a autoetnografia junto ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), chamado Autoetnografia Performática - Corpos e decolonialidades em Saúde (AP-CODEs).

 arquivo pessoal)

Professor Gustavo Antonio Raimondi na Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp (Foto: arquivo pessoal)

O presidente da Capes, Benedito Aguiar, declarou que “a quantidade crescente de teses mostra o apreço contínuo da Capes pela qualidade e pela competitividade da pós-graduação brasileira.” Um dos objetivos da instituição é, com seu prêmio, aumentar a visibilidade das ações positivas que a instituição proporciona e impulsionar a pesquisa científica no país.

 

Sugestões de leitura

O professor Raimondi indica vídeo e artigos para quem quiser saber mais sobre a autoetnografia performática:

CONVERSA COM GUSTAVO ANTONIO RAIMONDI NO BLOG SCIELO EM PERSPECTIVA HUMANAS

CORPOS (NÃO) CONTROLADOS: EFEITOS DOS DISCURSOS SOBRE SEXUALIDADES EM UMA ESCOLA MÉDICA BRASILEIRA

GÊNEROS E SEXUALIDADES NA EDUCAÇÃO MÉDICA: ENTRE O CURRÍCULO OCULTO E A INTEGRALIDADE DO CUIDADO

DESAFIANDO PODERES COLONIAIS NA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO ACADÊMICO - AUTOETNOGRAFIA PERFORMÁTICA, CORPOS E SUBJETIVIDADES

O CORPO NEGADO PELA SUA "EXTREMA SUBJETIVIDADE": EXPRESSÕES DA COLONIALIDADE DO SABER NA ÉTICA EM PESQUISA

LOOKING AT/TO/FOR MY (OPRESSED/OPRESSOR) BODY: A TRAJECTORY THROUGH PERFORMANCE AUTOETHNOGRAPHY

THIS IS (NOT) A SCIENTIFIC PAPER

Palavras-chave: Ciência e Saúde Bolsa doutorado sanduíche Medicina

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