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Agropecuária

Pesquisa da UFU estuda assimetria e transmissão de risco de preços no mercado de bovinos de corte de países do Mercosul

Primeiros resultados da pesquisa, apoiada pelo CNPq por meio da Chamada Universal, foram publicados este ano no periódico Brazilian Journal of Development

Publicado em 19/04/2021 às 19:18 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:51

A equipe de pesquisadores utilizou dados sobre a média semanal dos preços por quilo dos bovinos de corte em ponto de abate nos mercados argentino, brasileiro, paraguaio e uruguaio, no período entre 2008 e 2018 (foto: Milton Santos/Arquivo)

 

Pesquisa sobre dominância, assimetria e transmissão de risco de preços no mercado de bovinos de corte do Mercosul, coordenada pelo professor Odilon José de Oliveira Neto, do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Administração e Ciências Contábeis, da Universidade Federal de Uberlândia (UFU - Campus Pontal), teve os primeiros resultados publicados este ano no periódico Brazilian Journal of Development (BJD). A equipe de pesquisadores utilizou dados sobre a média semanal dos preços por quilo dos bovinos de corte em ponto de abate nos mercados argentino, brasileiro, paraguaio e uruguaio, no período entre 2008 e 2018. Os pesquisadores trabalharam com os preços cotados em dólares americanos. As conclusões foram as de que o mercado brasileiro do boi gordo transfere risco de preços para todos os mercados de bovinos de corte do Mercosul. O mercado argentino, por sua vez, só dissemina risco para ele mesmo. O estudo também mostrou que o mercado do boi gordo paraguaio transmite risco para si e para os mercados de bovinos de corte argentino e uruguaio, enquanto que o mercado de bovinos de corte uruguaio transmite risco para si e para os mercados do boi gordo brasileiro e paraguaio.

O objetivo principal da pesquisa foi o de verificar a interdependência e a assimetria na transmissão de risco via choques e volatilidades nos preços entre os mercados de bovinos de corte em ponto de abate, nos países membros efetivos do Mercosul. Os pesquisadores analisaram a volatilidade de cada mercado e avaliaram como um choque, causado por evento, notícia ou incremento de nova informação, em um mercado específico, se propaga para o próprio mercado e para os outros, por meio de alterações nos preços e na volatilidade. Os resultados dos testes empíricos para transmissão de risco de preços via choques mostraram que, de imediato, a transferência de risco de preços dos bovinos de corte em ponto de abate nos mercados dos países membros do Mercosul se restringe ao próprio mercado, não causando variações imediatas nos preços dos demais mercados. Porém, ao estudar a transmissibilidade de risco de preços via volatilidades, como oscilações ou variações nos preços, os pesquisadores encontraram informações suficientes para afirmar que o mercado de bovinos de corte em ponto de abate brasileiro é o único em que a variação nos preços propaga risco para todos os demais mercados do Mercosul, nas semanas seguintes. Em face do resultado, os pesquisadores dizem esperar que as análises e conclusões da pesquisa contribuam para a tomada de decisão dos agentes da cadeia produtiva de bovinos de corte do Mercosul, tornando a administração dos preços e do risco mais eficaz. O estudo foi tema do projeto de pesquisa “Interdependência dos preços e transmissão de risco entre os mercados agrícolas dos países membros efetivos do Mercosul” financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), no âmbito da Chamada Universal MCTI/CNPq nº 28/2018.

Para o professor Odilon Neto, coordenador da pesquisa, estudos que contribuem para a evolução da gestão na comercialização agropecuária são importantes não só devido à relevância de informações geradas para a tomada de decisão dos agentes que atuam de alguma forma nas cadeias agroindustriais, mas também por aumentar o conhecimento que amplia a efetividade da administração de risco de preços. “Assim, ao assistir os agentes desse mercado agropecuário com informações precisas, os estudos publicados podem contribuir significativamente para a administração do risco de preços dos responsáveis pela comercialização nos elos ‘dentro e depois da porteira’, ou seja, produtores de bovinos de corte e indústria da carne bovina, elos importantíssimos do agronegócio, que é um setor fundamental para economia dos países membros efetivos do Mercosul”, afirma o professor. Embora o mercado de bovinos de corte no Mercosul seja relevante, os principais agentes econômicos da cadeia produtiva da carne bovina, como produtores, frigoríficos, distribuidores, varejistas e comerciantes, não possuem informações precisas acerca da transmissão de preços e de risco entre esses mercados.

Ademais, ao verificar que a volatilidade dos preços é uma medida de risco característica dos mercados agropecuários e que essa pode depender tanto dos fatos inerentes ao próprio ambiente mercadológico, como também de choques e de volatilidades de outros mercados, fica claro que os choques entre mercados interagentes podem afetar os preços, causando sua queda ou seu aumento, em efeito conhecido como transmissão de preços. Um choque de oferta negativo de uma determinada commodity no curto prazo, por exemplo, pode levar a um aumento imediato de preços da mesma. Ao contrário, a queda de preços aconteceria com um choque de oferta positivo da commodity em um ou mais mercados.

Na zona do Mercosul, o mercado de carne bovina se mostra um dos mais representativos entre os mercados agropecuários, em especial quando se observa o chamado agregado da cadeia produtiva, isto é, o conjunto de riquezas geradas pela produção de bovinos de corte, industrialização, distribuição e comercialização da carne bovina. Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai respondem por aproximadamente 21% do contingente mundial de bovinos de corte e 28% do mercado global de carne bovina, segundo dados da ABIEC (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes), de 2018, citados na pesquisa coordenada pelo professor Odilon Neto. Mais de 75% das exportações de carne bovina dos países membros do Mercosul vão para os mercados da Ásia, da Europa e do Oriente Médio. Além disso, o consumo interno per capita de carne bovina dos países do Mercosul é alto. Uruguai e Argentina se destacam entre os que mais consomem carne no mundo, com consumo superior a 50 quilos por habitante ao ano. O consumo brasileiro por habitante ao ano é de 38 quilos de carne. Os paraguaios são os que menos consomem carne, registrando aproximadamente 25 quilos por habitante ao ano.

Além do mercado de carne bovina, os pesquisadores sugerem que estudos futuros analisem também a interdependência e a assimetria na transmissão de risco de preços entre outros mercados de commodities agropecuárias, uma vez que os dados decorrentes dessas pesquisas poderão contribuir para a melhoria da gestão de preços na comercialização em diversas cadeias produtivas agroindustriais. Ao subsidiar os agentes das cadeias produtivas e os respectivos mercados agropecuários com informações que contribuam para tomada de decisões mais efetivas, esse tipo de pesquisa contribui para a sustentabilidade econômica do agronegócio, setor considerado fundamental para a economia dos quatro países-membros fundadores do Mercosul.Conforme dados recentes disponibilizados pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA) da Esalq/USP, o agronegócio responde por participação de aproximadamente 25% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil e também se encontra na mesma proporção no PIB paraguaio. Para a Argentina e o Uruguai, o agronegócio ocupa uma fatia ainda maior do PIB. Mais da metade do PIB do Uruguai – 55% - é sustentado pelo agronegócio. Na Argentina, esse número é de 35%.

Os resultados da pesquisa sobre a transmissão de risco nos mercados de boi gordo foram também publicados em outro artigo, na revista Desafio Online, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). O foco desse segundo artigo se refere à transmissão de risco entre os mercados de boi gordo sul-matogrossense e paraguaio. Também participaram da pesquisa os professores Reginaldo Santana Figueiredo, da Escola de Agronomia, da Universidade Federal de Goiás (UFG); e Alcido Elenor Wander, da EMBRAPA.

 

* Texto originalmente publicado na página do CNPq

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