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Arte

Livro apresenta história do ensino do desenho no Brasil

Ao abordar a então ‘linguagem universal’, tema dialoga com questões culturais, econômicas, sociais e tecnológicas

Publicado em 18/05/2021 às 17:59 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:51

Princesa Isabel Cristina, estudo de cabeça (1860)

 

A Arte e a Educação ganharam, neste mês de maio, um livro singular para ajudar a retratar suas histórias: “Entre o belo e o útil - Manuais e práticas do ensino do desenho no Brasil”, de autoria de Renato Palumbo Dória, docente do Instituto de Artes da Universidade Federal de Uberlândia (Iarte/UFU).

Lançado pela Editora da Unicamp - acompanhe a live no canal da editora no YouTube, dia 26/05, às 12h30 -, a obra aborda tanto aspectos estéticos e pedagógicos quanto questões sociais, culturais, econômicas e tecnológicas na prática do ensino do desenho no país, ao longo do tempo. Resultado de pesquisa em acervos históricos e publicações dedicadas ao ensino do desenho, o trabalho também traz imagens valiosas dos últimos séculos.

A concepção que havia sobre desenho, principalmente no século 19 ― período no qual as pesquisas têm seu maior foco ―, era a de linguagem universal, que se comunicava com vários campos de conhecimento, explica o autor.

“Hoje essa ideia não opera muito, não funciona muito. Mas naquela época, se entendia que o desenho tinha que fazer parte dos currículos de ensino, porque havia essa ideia de que, pelo desenho, você podia desenvolver uma linguagem. Com o desenho geométrico, por exemplo, era possível desenvolver uma linguagem técnica produtiva, tecnológica, que podia ser universal”, afirma Dória.

 

Desenho aquarelado da princesa Francisca de Bragança, filha de D. Pedro I

 

“As pessoas, às vezes, acham que o desenho artístico é um ensino neutro, ou é um ensino puramente estético, do belo, do feio... Só que ele está totalmente conectado a questões sociais muito importantes. Ainda mais no século 19!”, observa o docente. Conforme ele destaca, havia conteúdos ligados a uma concepção racista do que era o modelo ideal de beleza artística, de figura humana, que era o modelo europeu.

“Esse ensino do desenho veio muito através de uma sistematização que se deu, sobretudo, através das academias de belas artes europeias. Esse material chega ao Brasil, principalmente, a partir do final do século 18 e se firma muito forte, através da Academia Imperial de Belas Artes do Rio de Janeiro, se espalhando pelo Brasil inteiro”, conta.

No entanto, a abordagem do tema no livro não se restringe ao círculo acadêmico. O trabalho abarcou o ensino do desenho no âmbito escolar, as práticas autodidatas da aprendizagem por meio de manuais e publicações que se faziam divulgando esses modelos e estabelecendo procedimentos, acrescenta Dória.

 

 

Além de Rio e São Paulo, a análise também dirige seu foco para algumas experiências em torno do ensino do desenho no Nordeste, sobretudo em Recife, e até na região Norte, em Belém do Pará. “Havia todo um sistema que fazia com que essas concepções do desenho circulassem tanto entre diferentes regiões geográficas quanto entre diferentes instâncias e ambientes de ensino”, completa o autor.

“Entre o belo e o útil”, de 184 páginas ― 20 delas disponíveis na internet ― é fruto de um pós-doutorado de Dória (2019 e 2020) na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). A pesquisa começou a ser realizada, no entanto, com seu doutorado na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP).

O pesquisador recebeu apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e bolsa do Programa Nacional de Apoio à Pesquisa da Fundação Biblioteca Nacional. Renato Palumbo Dória é graduado em artes plásticas e mestre em História da Arte e da Cultura pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

 

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Palavras-chave: arte lançamento livro desenho história docente

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