Publicado em 02/08/2021 às 17:01 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:51
Manifestação em São Paulo no Dia Mundial da Enfermagem (foto: Roberto Parizotti / Fotos Públicas - 12/05/2021)
Os profissionais da enfermagem correspondem à maior categoria profissional atuando no campo da saúde no Brasil e são considerados pilares essenciais no combate à pandemia, se posicionando à beira dos leitos praticamente 24 horas por dia. Além da alta exposição aos riscos de infecção pelo SARS-CoV-2, esses profissionais enfrentam, historicamente, um cenário marcado por precariedade nas condições de trabalho com a escassez de equipamentos de proteção individual (EPIs) em quantidade e qualidade, sobrecarga de trabalho e ausência de programas e suportes necessários para assisti-los integralmente e dignamente.
Diante disso, as estudantes Veronica Perius de Brito e Alice Mirane Malta Carrijo, do curso de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), e o professor Stefan Vilges de Oliveira, do Departamento de Saúde Coletiva (Desco) da Faculdade de Medicina (Famed/UFU), em colaboração com pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e da Universidade do Estado do Mato Grosso (Unemat) realizaram um estudo transversal e quantitativo com o intuito de avaliar a realidade profissional da equipe de enfermagem durante a pandemia no Brasil e seus impactos sobre a saúde desses trabalhadores.
O estudo foi realizado por meio de dados de domínio público disponibilizados pelo Observatório de Enfermagem do Conselho Federal de Enfermagem referentes ao período de 20 de março a 29 de outubro de 2020. Foram inclusos os registros de Auxiliares de Enfermagem, Técnicos de Enfermagem e Enfermeiros, com suspeita clínica ou confirmação de covid-19. Ao total, foram identificados 38.628 profissionais com doença suspeita. Foi avaliada a distribuição geográfica, perfil epidemiológico quanto ao sexo e faixa etária, bem como a evolução clínica e temporal dos casos e óbitos ao longo do período de estudo.
Um achado interessante no estudo foi uma maior taxa de incidência de casos entre os profissionais de enfermagem em algumas regiões, como nos estados do Amapá e Acre, os quais juntamente com Mato Grosso e Rondônia, tiveram também elevadas taxas de mortalidade. Uma possível associação encontrada na literatura para explicar estes índices, diz respeito à rápida readequação dos hospitais para enfrentamento da pandemia com contratação de trabalhadores da saúde que pode não ter sido acompanhada de um efetivo treinamento para o manejo da covid-19.
Outro aspecto diz respeito à situação hospitalar brasileira que não oferece assistência de qualidade à população, devido à falta de medicamentos, recursos humanos, boa remuneração, vínculos trabalhistas legais e leitos. Inclusive, a região Norte conta com o menor percentual de leitos hospitalares quando comparada com as demais regiões do país. Assim, a capacidade de atendimento à população de cada região implica no combate à covid-19 e, logo, na manutenção da saúde e vida das pessoas.
O predomínio de casos nessa população ocorreu na faixa etária entre 31 a 40 anos, mesma idade que concentra a maioria dos trabalhadores de enfermagem no Brasil, além de refletir o período laboral ativo dessa profissão. Já os óbitos ocorreram, em sua maioria, na faixa etária laboral mais velha, corroborando com os achados da primeira onda epidêmica brasileira acerca da relação entre idade avançada e maus prognósticos da covid-19. Outro achado que reflete os indicadores nacionais da população em geral diz respeito a maior taxa de letalidade entre indivíduos do sexo masculino.
Foi encontrada uma taxa de letalidade entre os profissionais de 2%, sendo que a maioria deles evoluíram para alta hospitalar, fato que reforça a evolução branda da maioria dos pacientes infectados pelo SARS-CoV-2.
Portanto, o artigo expõe o ambiente de trabalho de risco dos profissionais de enfermagem, os quais assumem protagonismo na linha de frente do combate à covid-19 com atribuições técnicas, organizacionais, operacionais e educativas. Assim, a compreensão dos aspectos epidemiológicos da doença entre eles enfatiza a necessidade do direcionamento de estratégias de saúde mais efetivas, de modo a fomentar ambientes e condições de trabalho mais seguras, com redução de riscos, resguardando o bem-estar e as vidas desses trabalhadores.
Esse estudo intitulado “Aspectos epidemiológicos da covid-19 sobre a enfermagem: uma análise retrospectiva” foi publicado na revista Población y Salud en Mesoamérica, da Universidade de Costa Rica.
* Veronica Perius de Brito e Alice Mirane Malta Carrijo são discentes do curso de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).* Neyson Pinheiro Freire é pesquisador da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), do Grupo de Estudos e Pesquisa em Administração dos Serviços de Saúde e Gerenciamento de Enfermagem.* Vagner Ferreira do Nascimento é docente da Universidade do Estado do Mato Grosso (Unemat)* Stefan Vilges de Oliveira, orientador da pesquisa, é docente do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Medicina (Famed/UFU).
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Palavras-chave: Leia Cientistas Enfermagem COVID-19 pandemia pesquisa Divulgação Científica; Biologia; Anfíbios; Rãs;
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