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Reflexão

Consciência Negra: existência e resistência na universidade

Data relembra a importância da luta antirracista no Brasil

Publicado em 21/11/2023 às 13:40 - Atualizado em 29/11/2023 às 08:43

Arte: João Ricardo Oliveira - Divisão de Design e Publicidade / Dirco-UFU

 

O mês de novembro marca uma data muito importante no calendário brasileiro: Dia da Consciência Negra. Instituída pela Lei 12.519, a data foi oficializada pelo Governo Federal em 2011 e homenageia Zumbi dos Palmares, uma das principais lideranças contra a escravatura brasileira, que morreu em 20 de novembro de 1695. Nessa mesma data, também é celebrado o Dia Nacional de Zumbi dos Palmares.

Para discutir e propor soluções sobre a temática racial, a Universidade Federal de Uberlândia (UFU) conta hoje com quatro espaços institucionais: Comissão de Heteroidentificação, Diretoria de Estudos e Pesquisas Afrorraciais (Diepafro), Núcleo de Estudos Afro-brasileiros (Neab) e o Centro de Memória da Cultura Negra Graça do Aché.

Criada pela Resolução nº 13/2018 do Conselho Universitário (Consun), a Política de Educação das Relações Étnico-Raciais da UFU discute sobre ações de educação para as relações étnico-raciais, incluindo a Comissão de Heteroidentificação, responsável por analisar as autodeclarações de alunos ingressantes na universidade, tanto da graduação, quanto da pós. A Diepafro foi instituída em 2020 e consiste em um órgão administrativo, que discute ações burocráticas, como políticas, programas, projetos, convênios, parcerias em educação para as relações étnico-raciais e ações afirmativas para a população negra da universidade.

Já o Neab foi fundado em 2006 e se trata de um núcleo de estudos, com a perspectiva de ensino, pesquisa e extensão sobre a temática afro-brasileira em prol da população afrodescendente e também promoção da igualdade racial. Por fim, o Graça do Aché é um equipamento cultural, vinculado à Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (Proexc) e à Diretoria de Cultura (Dicult), que promove atividades da cultura afrodescendente de Uberlândia e região, por meio de exposições, shows, apresentações teatrais, entre outros.

 

Na imagem, um homem negro com o fundo amarelo
Zumbi dos Palmares foi uma das principais lideranças do Quilombo dos Palmares. (Imagem: Instituto Cultural Raízes)

 

Na avaliação de Ivete Almeida, docente do Instituto de História (Inhis/UFU), coordenadora do Graça do Aché e vice-coordenadora do Neab, esses espaços dentro da universidade são essenciais para a permanência de pessoas pretas dentro do espaço público. “Se a universidade é um universo da ciência, tem que ter diversidade, todo tipo de pessoa, de todas as origens, todas as condições; e isso vem acontecendo. (...) Mas não adianta só o ingresso dessas pessoas, temos que transformar a universidade num espaço que receba essas pessoas e que esteja preocupado com a permanência delas. A existência desses espaços na universidade federal é muito importante para que a permanência das pessoas pretas, afrodescendentes, esteja garantida não só pelas cotas, mas também pela existência de espaços internos em que elas possam pesquisar, se encontrar”, afirma Almeida.

Infelizmente, a questão racial é cercada de muito silenciamento. A professora ressalta a importância de sempre falarmos sobre o assunto: “Quando a gente vai em uma biblioteca, quantos livros, autores, você encontra sobre Revolução Francesa? Tem centenas, milhares. Quantos você encontra sobre o Brasil Império? Milhares de títulos. E sobre a história da Festa do Congado? Sobre a trajetória do negro no período JK? Um, dois, nenhum… Então, tem que falar muito sobre isso! (...) O fato de ter um, dois, cinco, não é nada. Temos que falar muito ainda! E o fato de tentarem nos convencer de que já falamos demais é mais uma prova de que estamos sempre sendo silenciados”, argumenta.

Segundo Almeida, o Dia da Consciência Negra, para além de celebrar a cultura e existência afrodescente, é também um momento para discutirmos sobre a gravidade do racismo em nossa sociedade: “O racismo mata de morte violenta uma pessoa negra a cada 23 minutos e esse é um problema bem grave! E isso precisa ser resolvido com educação, por meio das relações étnico-raciais, com um dia, na verdade, o ano inteiro, mas tem que ter um momento pra gente lembrar que isso está acontecendo e discutir sobre soluções.”

 

Na imagem, diversas pessoas em círculo e no meio uma mulher negra, vestida com roupa branca palestrando
Desde 2020, Ivete Almeida (de camisa branca e saia preta) está à frente da coordenação do Centro de Memória da Cultura Negra Graça do Aché. (Imagem: Arquivo pessoal)

 

Concluindo, a docente do Instituto de História aponta que a educação é uma ferramenta crucial no combate a todas as discriminações, inclusive o racismo. Porém, é preciso mais: “Sobretudo, a educação tem que repensar seus valores, ícones, conteúdos. Hoje, os conteúdos escolares continuam com o olhar voltado para a Europa e o norte global e falam da cultura afro-brasileira e da África como curiosidades. Acho que a educação vai ser mais eficaz no momento em que ela reconhecer que a nossa herança social, científica, ética e política inclui as pessoas pretas; inclui trajetórias, lutas, esforços de pessoas pretas. Pra que realmente a educação seja inclusiva e antirracista, as nossas histórias, conteúdos e conhecimentos precisam ser respeitados e valorizados, na mesma dimensão dos conhecimentos e tradições europeias, estadunidenses."

 

 

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Palavras-chave: Dia da Consciência Negra

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