Publicado em 25/07/2025 às 13:55 - Atualizado em 11/08/2025 às 11:36
Antes de se consolidar como equipamento acadêmico nas universidades, a Empresa Júnior (EJ) surgiu como um movimento internacional voltado à formação prática e empreendedora de estudantes. Sua origem remonta ao ano de 1967, em Paris, na França, quando Pierre-Marie Thauvin, estudante da École Supérieure des Sciences Économiques et Commerciales (Essec), fundou a Júnior Essec – considerada a primeira empresa júnior de consultoria estudantil do mundo.
A iniciativa respondia a uma demanda de estudantes que sentiam a necessidade de aplicar, na prática, os conhecimentos adquiridos em sala de aula. A proposta teve rápida adesão e ampla repercussão, levando à criação, apenas dois anos depois, da Confederação Nacional de Empresas Juniores da França, em 1969. Em 1992, o movimento avançou ainda mais com o surgimento da Confederação Europeia de Empresas Juniores, consolidando a expansão do modelo educacional.
No Brasil, o Movimento Empresa Júnior (MEJ) iniciou em 1988, por meio da Câmara de Comércio França-Brasil (CCFB). A partir dessa parceria entre os países, foi fundada, em 1989, a primeira empresa júnior da América Latina: a Empresa Júnior Getulio Vargas (EJFGV), da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo. Desde então, o MEJ brasileiro tem crescido de forma significativa e, de acordo com a Federação das Empresas Juniores do Estado de Minas Gerais (Fejemg), é baseado em valores como o protagonismo estudantil, espírito colaborativo, busca por experiências reais e o desejo de contribuir com soluções acessíveis e inovadoras para a sociedade. A legislação brasileira foi a primeira do mundo a estabelecer o funcionamento das empresas juniores por meio da Lei nº 13.267, sancionada em abril de 2016.
Na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), a primeira Empresa Júnior foi implantada em 1992: a Meta Consultoria, ligada aos cursos de Engenharia Mecânica, Engenharia Aeronáutica e Engenharia Mecatrônica. Desde então, o movimento se expandiu fortemente dentro da instituição, chegando a mais de 30 empresas juniores distribuídas por diversas áreas do conhecimento – inclusive em cursos que, historicamente, não estavam ligados à tradição de negócios como Psicologia, Geologia, Educação Física e Tradução . Atualmente, a EJ é, de acordo com a Lei “uma entidade organizada sob a forma de associação civil gerida por estudantes matriculados em cursos de graduação de instituições de ensino superior, com o propósito de realizar projetos e serviços que contribuam para o desenvolvimento acadêmico e profissional dos associados, capacitando-os para o mercado de trabalho”.
Um dos exemplos dessa expansão é a ASCII, Empresa Júnior da Faculdade de Computação (Facom/UFU), voltada aos cursos de Ciência da Computação e Sistemas de Informação. Criada em 2019, a inspiração para o nome veio da tabela ASCII, uma espécie de “dicionário universal” para computadores, que atribui um número único a cada letra, número e símbolo, o que permite que qualquer máquina, em qualquer lugar, entenda e represente o mesmo texto. Basicamente, é o que faz com que o que você digita no teclado apareça corretamente na tela e seja compreendido globalmente. A EJ tem como missão incentivar o empreendedorismo, fomentar a inovação e proporcionar uma vivência profissional antecipada aos estudantes, por meio da realização de projetos tecnológicos com aplicabilidade real.
Aos 21 anos, o estudante Murilo Beppler, estudante de Ciência da Computação é o atual presidente da empresa e lidera uma equipe de aproximadamente 30 membros. Juntos, eles desenvolvem soluções digitais para empresas e instituições da região, promovendo uma atuação que conecta conhecimento técnico, trabalho colaborativo e responsabilidade social. “Nosso objetivo é que os alunos saiam da faculdade com um currículo forte e experiência real. Queremos ser referência regional e, quem sabe, nacional como empresa júnior de tecnologia”, afirma Murilo.
A ASCII oferece serviços como desenvolvimento web, criação de aplicações desktop e mobile, automação de processos, análise de dados e consultorias. Entre os projetos recentes de maior destaque está o desenvolvimento de um sistema digital de geo photos. “O resultado mais significativo foi a economia de tempo. Uma tarefa que antes levava uma hora, agora é concluída em apenas cinco a dez minutos. O sistema ainda está em uso e continua sendo fundamental para minha operação”, relata Alex Júnio de Rezende, sócio da Fernandes Rezende Engenharia, cliente da EJ e idealizador do projeto, que, satisfeito com o resultado, já encomendou uma nova solução à equipe.
Explicando a experiência, Rezende conta ainda: “Inicialmente, desenvolvemos um sistema como projeto-piloto para avaliar o trabalho da equipe. A ASCII, no entanto, superou as expectativas logo no primeiro projeto, o que nos deu a confiança necessária para contratar um segundo sistema. Atualmente, tenho dois sistemas em operação, ambos desenvolvidos pela ASCII. Sempre que precisar, sei que posso confiar na equipe.
Para ingressar na empresa, o estudante precisa passar por um processo seletivo semestral. Após a aprovação, segue-se uma etapa de capacitação e vivência em diferentes áreas da organização, permitindo que o novo membro compreenda o funcionamento da empresa antes de assumir um cargo definitivo.
Além disso, a ASCII está implementando novas trilhas formativas voltadas ao aprofundamento em tecnologias específicas. “Aqui, a gente aprende na prática o que a teoria nem sempre consegue mostrar. Trabalhar com clientes reais, enfrentar desafios técnicos e aprender a lidar com pessoas tão diferentes é o que mais ensina”, destaca Ilton Batista, 24 anos, aluno do curso de Sistemas de Informação e integrante da empresa desde 2024.
Um dos projetos marcantes foi desenvolvido para um advogado. “Criamos um sistema desktop em Python para otimizar a assinatura e o gerenciamento de documentos. Também fizemos sites, consultorias, organização de arquivos digitais para uma companhia de teatro e, mais recentemente, estamos desenvolvendo um app mobile para uma psicóloga”, conta Beppler.
A vivência na empresa também contribui para o desempenho acadêmico. O professor Marcelo Maia, tutor da ASCII, destaca os impactos positivos da experiência: “Eles se expõem a um ambiente real, difícil de simular em sala de aula. Com isso, compreendem melhor os conteúdos do curso e tendem a ter melhor rendimento acadêmico.” O professor tutor atua como um consultor para a equipe da empresa júnior, além de conduzir atividades burocráticas como o registro da atividade como um projeto de extensão, também intermedia as prestações de conta no contexto da faculdade ou instituto.
Murilo é enfático ao falar da importância da ASCII na formação dos estudantes: “Muita gente sai da faculdade sem nunca ter feito um projeto real. A ASCII resolve isso. A gente aplica, na prática, o que aprende em sala. Aqui desenvolvemos tanto hard skills quanto soft skills.” Ele explica: “Hard skills são habilidades técnicas — saber programar em Python, HTML, trabalhar com banco de dados. Já soft skills são mais comportamentais: saber se comunicar, dar e receber feedback, ter postura profissional.” E acrescenta: “Muitos colegas conseguiram vagas de estágio e emprego por causa da experiência na ASCII. Nas entrevistas, isso pesa muito.” Ao relatar sua experiência enquanto membro da EJ Batista completa: “A vivência é prática, direta e muito útil. Sempre recomendo a experiência para quem quer se aproximar da realidade do mercado de trabalho. Recomendo bastante para todo mundo que deseja ter uma experiência prática na sua área, entrar na empresa júnior do seu curso”.
Assim como toda EJ, a ASCII é uma associação sem fins lucrativos e pratica preços acessíveis em seus serviços, favorecendo micro e pequenos empreendedores, além de organizações da sociedade civil. Todo o valor arrecadado é reinvestido na formação dos membros, seja na aquisição de equipamentos, na participação em eventos e cursos ou em melhorias nos processos internos. Beppler explica: “Somos uma EJ sem fins lucrativos. Mas, sim, cobramos pelos serviços. Esse dinheiro é reinvestido nos próprios membros: compramos equipamentos, participamos de eventos, adquirimos camisetas da gestão... nada é para lucro pessoal.”
Mais do que um espaço de estágio ou extensão, a ASCII representa um ambiente de pertencimento, desenvolvimento integral e transformação social. É a prova de que, com organização, compromisso e visão coletiva, é possível criar pontes sólidas entre o saber acadêmico e as necessidades do mundo real — é o que salienta o tutor professor.
Murilo conta também sobre a organização maior da qual a ASCII faz parte: “Estamos no Núcleo do Triângulo, que reúne 43 EJs de várias universidades da região. Acima dele, tem a Fejemg, a federação mineira, e a Brasil Júnior, que organiza o movimento nacional. Existe toda uma rede de apoio, metas e reconhecimento.” Por fim, ele enfatiza os valores que sustentam a organização: “Proatividade, comprometimento e transparência. A gente é formado por estudantes, mas levamos o trabalho a sério. Queremos ser referência em tecnologia no Triângulo Mineiro e mostrar que, com dedicação e apoio, estudantes podem criar soluções reais para problemas do mundo.” Segundo dados da Fejemg, o Brasil concentra a maior quantidade de empresas juniores no mundo, com 1.455 organizações distribuídas por todas as unidades federativas. A França, onde o modelo teve início, aparece em segundo lugar, com cerca de 140 empresas.
É uma série institucional, desenvolvida pela Diretoria de Comunicação Social da UFU. A série tem como objetivo apresentar atividades acadêmicas que podem ser realizadas pelos estudantes de graduação da Universidade.
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