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Divulgação Científica

Onde está a ciência hoje?

Com este questionamento, começa a terceira edição do Comunica Ciência

Publicado em 11/04/2023 às 17:46 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:38

Ricardo Galvão, presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). (Foto: Marco Cavalcanti)

 

Um auditório para aproximadamente 200 pessoas: presentes, sentadas, se cumprimentando, conversando. Toques, sorrisos, acenos. Cenário, há um ano, impossível de se imaginar. Mas que a ciência possibilitou. E ela, a ciência, é o tema e a razão deste encontro. No auditório do Bloco 5S do Campus Santa Mônica da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), nesta terça-feira, 11/4, às 8h, aconteceu a abertura do primeiro dia do III Comunica Ciência: Encontro de Pesquisadores e Jornalistas.

A mesa inaugural desta terceira edição do evento contou com a participação do presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Ricardo Galvão, e de gestores e servidores da UFU: o reitor, Valder Steffen Junior; o pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação, Carlos Henrique de Carvalho; a diretora de Comunicação Social, Renata Neiva; e a jornalista Diélen Borges, da Divisão de Divulgação Científica. Em sua fala inicial, Borges relembrou que no primeiro evento, há cinco anos, era comemorada a criação da Divisão de Divulgação Científica da UFU e que, segundo Neiva, foi o início de uma revolução na universidade. Carvalho acrescentou ser necessário que se crie as condições para que a ciência produzida na instituição transborde: "Das mentes às universidades e delas para as ruas; e que nas ruas [a ciência] encontre a comunidade, a sociedade. Este evento e o total apoio da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação a uma divisão que trate disso são fundamentais para que a ciência desenvolvida na UFU seja divulgada." Ele alertou, ainda: “Ou nós saímos desse lugar comum de um certo elitismo - apesar que eu acho que melhorou muito - ou, então, nós não vamos ter pessoas que vão defender a ciência.”

Ao fazer uma retrospectiva, analisando a posição da pesquisa desenvolvida nas universidades nos últimos anos, Steffen declarou que, infelizmente, a ciência, por várias razões, acabou perdendo o prestígio, a posição que ela deveria ter, à semelhança do que acontece em outros países. Para essa retomada, ele ponderou que a UFU tem procurado desenvolver sua equipe de comunicação, em busca de melhorar o diálogo entre a instituição e a sociedade. “De tal forma que os nossos cientistas, os nossos pesquisadores, possam explicar melhor aquilo que fazem no interior da universidade e que eles possam também desenvolver uma maior capacidade de simplificar, tornando ao alcance os temas mais importantes para o desenvolvimento do país; e, assim, a universidade vai chegando mais próxima da sociedade”, explicou o reitor. Para tal, Steffen apontou que "é preciso também de bolsas de fomento e maior investimento nos pesquisadores e financiamento de pesquisas".

As universidades têm três pilares: ensino, pesquisa e extensão. Atualmente, discute-se a comunicação como o quarto. Como declarou Neiva durante o evento, a comunicação é um dos pilares de todas as instituições, sejam elas públicas ou privadas, ocupando um lugar estratégico. “Porque é a partir da comunicação que você constrói pontes (...) pontes entre as instituições e todos os públicos”, sublinhou a diretora da Dirco.

 

Em tudo

A ciência está em tudo. "Inclusive no celular com o qual eu estou sendo entrevistado e nas minhas lentes que te observam. Isso é tudo desenvolvimento científico e tem que chegar para sociedade que, às vezes, não sabe. Compra os produtos e não sabe que tiveram anos de investimento de formação de recursos humanos altamente qualificados, de laboratórios extremamente complexos e onerosos para serem mantidos para que tenhamos minimamente um conforto e bem-estar”, relatou o pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da UFU.

Ainda durante a manhã, aconteceu a roda de conversa “Onde está a ciência hoje?”, com participações de: Ricardo Galvão, que também é pesquisador e professor titular aposentado do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP); o jornalista Bernardo Esteves, repórter da revista Piauí, apresentador do podcast "A Terra é redonda (mesmo)" e professor no curso de especialização em comunicação pública da ciência Amerek, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); e com a jornalista e pesquisadora Thaiane Moreira de Oliveira, superintendente de Comunicação Social na Universidade Federal Fluminense (UFF) e primeira comunicóloga a integrar a Academia Brasileira de Ciências (ABC). A condução foi dos jornalistas Naiara Ashaia e Túlio Daniel, ambos da UFU.

"A ciência está na comunicação", ressaltou Oliveira. Está na relação de comunicação e sociedade. A comunicóloga afirmou que, pouco tempo atrás, não se via a comunicação enquanto ciência, porque ela "sempre ficou naquela fronteira entre o que são as humanidades e o que é uma ciência social aplicada". Essa dificuldade, esse tensionamento de tentar entender o que que é a comunicação e o que é a ciência da comunicação nos dificultou um reconhecimento vindo de outras associações e ciências. “Então, ao percebermos e termos esse reconhecimento, de associações importantes como a Academia Brasileira de Ciências, que sempre teve uma trajetória de preservação das ciências duras, apesar da presença de algumas humanidades lá, eu acho que é um marco muito relevante para o entendimento do que é a natureza da ciência da comunicação”, alegou a superintendente.

A ciência está nas redes sociais digitais. Já parou para pensar em como e quanto foi preciso estudar para que se pudesse apenas ligar o computador ou desbloquear o celular e conversar em tempo real? Pois é; a ciência está aí também. Anos de pesquisa para ligar computadores em rede, para criar chats e conectar pessoas on-line em todo o mundo. E a sua evolução, o ChatGPT que conecta pessoas à inteligência artificial, foi também um dos destaques da discussão matinal.

Até o fechamento desta matéria, na Itália, o chat foi proibido e intelectuais, empresários e pesquisadores de inteligência artificial (IA) produziram uma carta aberta solicitando a pausa das pesquisas em IA para que se  possa entender as potencialidades e discutir com a população e governantes protocolos de segurança, supervisão e rastreamento de IAs com habilidades quase humanas, como a nova versão do ChatGPT.

 

Como?

No jornalismo, quando se escreve o primeiro parágrafo de qualquer notícia (lide), é ensinado que é necessário responder seis perguntas: "quem?", "o quê?", "como?", "quando?", "onde?" e "por quê?". Durante a roda de conversa, o principal questionamento, foi o “COMO?”. Pois, se a ciência está em tudo, por que ninguém sabe o que é ciência? Como fazer com que a população veja e se pergunte se ciência está presente em tudo? Como gerar o interesse na comunidade? Como, por meio da comunicação, fazer a população revisitar suas crenças, "colocando a pulguinha da dúvida" sobre aquilo que está assistindo, lendo, ouvindo, que apesar de ir de encontro com o seu pensamento, não necessariamente seria verdade?

 

Educação

Ao tentar responder sobre o como, sempre esbarra-se na educação, a Educação Básica, a Base Nacional Comum Curricular, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio. Galvão ressaltou a preocupação com a falta de incentivo para a apreciação pela ciência. "Temos a resposta, mas somos ouvidos?", indagou o presidente do CNPq.

Com um cenário preocupante de negacionismo, em que se dá destaque à pseudociência, que se baseia na premissa da falseabilidade científica, ter um conhecimento prévio é fundamental. Conhecer a estrutura científica, questionando o que está posto e também na construção do aprendizado, daquilo que é o rigor científico, diferencia conhecedores de sábios. De acordo com Thaiane Moreira de Oliveira, é preciso entender que esse movimento não nega a ciência, como o nome diz, mas tende a acreditar em teorias da conspiração “baseadas em fatos reais”, mas que não são científicas. Então, ao refletir sobre o tema, Bernardo Esteves frisou que a melhor forma de combater essa corrente é explicando como se faz ciência para a população, desde crianças a idosos, ressaltando a importância da Educação Básica, Fundamental, Média e Superior, enquanto extensão universitária neste processo.

 

'Ciência ao Pé do Ouvido'

Toda a discussão deste encontro - sobre negacionismo, inteligência artificial, redes sociais, educação e desinformação - estará disponível em um episódio extra do podcast "Ciência ao Pé do Ouvido", da Divisão de Divulgação Científica da Diretoria de Comunicação Social da Universidade Federal de Uberlândia. A partir do dia 20 de abril, ele estará disponivel em todas as plataformas de streaming.

 

Política de uso: A reprodução de textos, fotografias e outros conteúdos publicados pela Diretoria de Comunicação Social da Universidade Federal de Uberlândia (Dirco/UFU) é livre; porém, solicitamos que seja(m) citado(s) o(s) autor(es) e o Portal Comunica UFU.

 

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Palavras-chave: Comunica Ciência III Comunica Ciência

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