Publicado em 21/02/2019 às 17:35 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:56
A Pseudopaludicola Matuta é uma espécie de menos de dois centímetros conhecida pelos cantos com emissão de notas altas e curtas. (Foto: Antoninho Perri)
Uma nova espécie de rã foi descoberta no município de Curvelo, na região central de Minas Gerais, e na Serra do Cipó, na região metropolitana de Belo Horizonte, no fim do ano passado. Denominada Pseudopaludicola Matuta, o anfíbio é parte do projeto de doutorado do biólogo Felipe Silva de Andrade, graduado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e atual aluno da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A rãzinha de menos de dois centímetros é reconhecida pelo seu canto acelerado, com emissão de notas altas e curtas (abaixo você pode conferir no arquivo de áudio).
O termo pseudopaludicola se refere a um gênero de anfíbios da família Leptodactylidae. O nome matuta foi uma atribuição, de acordo com o pesquisador, ao matuto, sujeito que vive no interior, simples nos hábitos. O tamanho pequeno é comum na espécie de anfíbios, no entanto, o que diferencia a P. matuta da espécie irmã, a P. mineira, é o canto mais rápido e o local onde é encontrada na Serra do Cipó.
“A grande surpresa foi ter encontrado essa mesma espécie nova no sopé [parte baixa] da Serra do Cipó. A espécie irmã da P. matuta, a P. mineira, ocorre nos campos rupestres de altitude cerca de 1200 m. A P. matuta nunca foi encontrada na parte de cima do parque até o momento. Há um paredão separando essas duas espécies. Resta saber qual foi o papel da altitude no processo de especiação dessas espécies irmãs”, explica o biólogo.
Felipe Andrade pesquisa a biodiversidade dos anfíbios desde 2010. (Imagem: Arquivo do pesquisador)
A descoberta é fruto de uma série de estudos de Andrade ao longo da carreira acadêmica. Ainda na graduação em Ciências Biológicas, no Campus Pontal da UFU, através de um projeto de iniciação científica do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), sob orientação do professor Ariovaldo Antônio Giaretta, Andrade descobriu a espécie P. facureae em Uberlândia. No mestrado, já na Unicamp, mas ainda com orientação de Giaretta, o pesquisador desenvolveu um estudo que desvendou outra espécie: a P. jaredi. No doutorado, a última espécie revelada, a P. matuta, é um dos capítulos da tese que busca investigar a identidade da população de rãs.
O trabalho rendeu uma publicação, em novembro do ano passado, no European Journal of Taxonomy, assinada por Andrade e pelos pesquisadores Isabelle Haga, Mariana Lyra, Thiago de Carvalho, Célio Haddad, Ariovaldo Giaretta (co-orientador) e Luís Felipe Toledo (orientador), que contribuíram para a realização do projeto.
Gravadores e microfones profissionais foram utilizados na expedição que levou os pesquisadores a Curvelo e à Serra do Cipó para identificar e diferenciar o canto da P. matuta. Espécimes da coleção de anuros (sapos, rãs e pererecas) do Museu de Biodiversidade do Cerrado da UFU também foram importantes nas análises. A pesquisa conta com o financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
A P. matuta pode ser encontrada no município de Curvelo e na Serra do Cipó. (Imagem: Arquivo do pesquisador)
Além da P. matuta, Oliveira pesquisou e catalogou outras duas espécies que também serão utilizadas nos capítulos de sua tese: a P. florencei e P. jazmynmcdonaldae. Para o biólogo, a importância da realização deste trabalho tem a ver com a preservação e conservação da biodiversidade.
“O Brasil tem um compromisso científico e ético com a humanidade. É o país número um em biodiversidade do planeta. Não dá para se preservar o desconhecido. Por isso é tão importante nomear espécies novas”, destaca. “Só depois disso elas entrarão nos levantamentos de consultores ambientais, listas de espécies, projetos do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama)”, finaliza.
Palavras-chave: Divulgação Científica; Biologia; Anfíbios; Rãs;
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