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Ciência

Radiodocumentário 'Aracy de Almeida' é produzido em mestrado da UFU

Produto desenvolvido por locutor da Rádio Universitária fala sobre a vida e a carreira da sambista carioca

Publicado em 12/02/2019 às 12:05 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:56

Aracy de Almeida nasceu em 1914, no Encantado, bairro do subúrbio do Rio de Janeiro. (Imagem: Divulgação)

O Dia Mundial do Rádio é comemorado em 13 de fevereiro e, para falar de rádio no Brasil, é preciso falar de samba. Como gênero musical brasileiro, o samba tem suas origens no início do século XX. Em 1916, Ernesto Santos compôs a música “Pelo Telefone” e a registrou como um “samba” na Biblioteca Nacional. Após a canção ser gravada, em 1917, a palavra “samba” apareceu inscrita pela primeira vez no selo de um disco de vinil de 78 rpm. As rodas de samba da “Pedra do Sal”, no Rio de Janeiro, ajudavam a difundir o estilo musical no país.

De lá pra cá, vários outros músicos tiveram sucesso compondo sambas e, com a radiodifusão, a partir da década de 1920, tornou-se cada vez mais comum a presença de algumas vozes conhecidas, como a do próprio Ernesto Santos, Cartola, Paulo Cortela, Adoniran Barbosa, Dona Ivone Lara, Beth Carvalho e tantas outras nas ondas sonoras que chegavam aos ouvintes na “Era de Ouro do Rádio”.  

Em meio a essas personalidades existem outras que também contribuíram com a história do samba e do rádio, mas que permaneceram num quase anonimato: caso de Aracy de Almeida. Foi com o intuito de resgatar e aprofundar-se na carreira da cantora que o radialista Vitor Hugo de Oliveira desenvolveu, na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), o produto de mestrado “Radiodocumentário: Aracy de Almeida”.

A pesquisa, defendida em dezembro de 2018, foi feita no Programa de Pós-Graduação em Tecnologias, Comunicação e Educação da Faculdade de Educação (Faced/UFU), teve como fontes documentais registros de pessoas que descreveram a personalidade de Aracy de Almeida, para a construção do produto final.

 

O radiodocumentário

No programa de pós-graduação, Oliveira já tinha em mente a ideia de construir um radiodocumentário. O contato com Aracy de Almeida havia começado quando ele era músico e cursava Direito na UFU. O radialista a conheceu quando ela era jurada de um programa de auditório. O pai dele dizia que era uma das maiores cantoras do país na “Era de Ouro do Rádio”.

A partir do projeto de mestrado começaram as pesquisas e a seleção de materiais, com a orientação da professora Raquel Discini, da Faced. “Nos caminhos metodológicos normais procurei por Aracy de Almeida dentro da seara acadêmica e encontrei muito pouco. Então pensei que essa realmente era a minha personagem e que era o caminho que tinha que seguir”, explica Oliveira. “Era uma personagem que trazia uma carga de curiosidade, que estava dentro da minha esfera de samba e que poderia acrescentar bastante no mundo acadêmico e para mim enquanto pessoa”, completa.

A pesquisa apoiou-se no que o autor chama de “descritores”, pessoas que narram momentos da história da cantora através de materiais audiovisuais (depoimentos, entrevistas gravadas em vídeo, vinis e shows) e literaturas da época (folhetins e revistas). O cantor e compositor Noel Rosa foi o primeiro contato de Aracy de Almeida com a vida artística e, por isso, uma das vozes mais importantes na narrativa do projeto. Ele a introduziu nos corredores da rádio Educadora do Brasil (RJ), à cultura que ficou conhecida à época como “malandragem” carioca e a apresentou a várias artistas, como Dircinha Batista, Emilinha Borba e Marlene, também importantes fontes de descrição.

O desenvolvimento do projeto teve início em 2017 e, depois de reunidos os materiais, a finalização dos últimos conceitos e do radiodocumentário como um todo levou de 20 a 25 dias, entre os meses de julho e agosto. A defesa aconteceu em 14 de dezembro de 2018. O produto será publicado no YouTube e numa plataforma educacional (ouça trecho no fim da reportagem).

Oliveira: ``No seu ápice, ela não optou por frequentar os meios comuns às demais cantoras do rádio. Aracy era 'bicho solto'.´´ (Imagem: Divulgação)

Aracy de Almeida

Aracy nasceu em 1914, no Encantado, bairro do subúrbio do  Rio Janeiro. O sucesso começou entre as décadas de 1930 e 1940, quando iniciou a dupla com Noel Rosa, cantando as músicas que ele compunha. No meio em que se destacou, a cantora foi uma resistência feminina, de acordo com Oliveira. “No seu ápice, ela não optou por frequentar os meios comuns às demais cantoras do rádio. Ela, ao contrário, amava a boemia e os redutos da malandragem, naquela época muito comuns aos homens. Tinha uma profissão, vamos dizer, ‘fora do lar’”, conta.

O “anonimato” talvez possa ser explicado por isso. “Aracy, usando uma expressão moderna, era, por assim dizer, ‘bicho solto’. Cantava em noites, circulava pelo submundo carioca com os amigos e por isso é pouco lembrada como a intérprete e cantora do rádio que foi”, complementa. Com a chegada da televisão, em 1950, a carioca deixou o rádio e assumiu um papel “mais caricato”, nas palavras de Oliveira, com a função de jurada do programa Show de Calouros de Sílvio Santos.

O radialista acredita que a contribuição que o projeto deixa é a de contar histórias novas em personagens antigos.“O meu grande aprendizado foi que existem histórias atrás de histórias e que estão acessíveis a nós, que temos essa maneira incansável de procurar”, destaca. “O mundo artístico e principalmente o mundo do samba não se resume aos nomes famosos. É formado por pessoas quase anônimas e que tem um grande trabalho, a exemplo disso a própria Aracy de Almeida, a quem eu dediquei essa pesquisa”, conclui.

Vitor Hugo de Oliveira desenvolveu o radiodocumentário como produto de mestrado profissional. (Foto: Fabiano Goulart)

A carreira de Vitor Hugo

Vitor Hugo de Oliveira começou a carreira como locutor e programador de rádio em 1987, quando, ainda cursando Direito na UFU, fora convidado a participar de um projeto experimental do curso de Engenharia Elétrica que viria a se tornar a Rádio Universitária. A aproximação com o samba foi construída a partir da iniciativa de começar uma nova programação na emissora.

“Eu era locutor, só que aqui na rádio nós tínhamos a metodologia de que todo mundo que entra faz de tudo. E eu comecei também fazendo programação musical. A gente tinha 55 vinis. Como a rádio entrava em algumas horas por dia, com o passar do tempo a gente começava a repetir músicas. Fui escalado para fazer a programação de sábado à tarde e comecei a fazer uma coisa diferente, a procurar sambas e programá-los no horário das 14h às 16h”, conta.

Pouco tempo depois, o então reitor Ataulfo Marques Martins da Costa fez a compra de novos vinis para a rádio e a programação de samba foi interrompida. “Quando tirei essa programação do ar, foi a primeira vez que nós recebemos uma ‘enxurrada’ de telefonemas na Rádio Universitária. A gente tinha fidelizado um público sem saber. Perguntavam ‘cadê a roda de samba? Por quê não tem mais?”. Nesse momento a antiga programação foi retomada, agora com o nome adaptado “Roda de Samba”.

Atualmente Oliveira coordena as rádios Universitárias de Uberlândia, Ituiutaba e Monte Carmelo, faz as locuções ordinárias do programa “Mistura Fina” pelas manhãs, do “Roda de Samba” aos sábados, das 16h às 18h, e do “Samba na Cozinha” aos domingos, das 12h às 14h.   

 

Palavras-chave: Ciência; Dia Mundial do Rádio; Radiodocumentario; Samba;

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