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Dia do Jornalista

Uma profissão, vários caminhos possíveis

Conheça as histórias de dois ex-estagiários da Diretoria de Comunicação da UFU e da TV Universitária que seguiram rotas diferentes após concluírem a graduação, mas compartilham o orgulho em ser jornalista

Publicado em 17/04/2020 às 11:01 - Atualizado em 22/08/2023 às 20:29

Ela é paulistana, possui 22 anos e, desde o último mês de janeiro, está de volta à cidade natal e trabalhando com marketing digital. Ele é mineiro de Monte Carmelo e, aos 23 anos, é uma das vozes mais presentes na programação das rádios Educadora e Paranaíba FM e também da TV Paranaíba/Record, de Uberlândia. Em comum, Giovanna Caldeira Tedeschi e Victor de Oliveira Fernandes contam com os diplomas de Jornalismo emitidos pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e o fato de terem, durante a graduação, estagiado tanto na Diretoria de Comunicação Social (Dirco) quanto na TV Universitária (TVU). Além do amor e do respeito ao ofício que exercem.

 

Versatilidade

No início do Ensino Médio, Giovanna Tedeschi chegou a pensar em ser psicóloga. Entretanto, os gostos pela escrita e por pesquisar a fizeram optar pelo curso de Jornalismo. “Apesar disso, só fui ter certeza que era o que eu queria quando comecei a fazer estágios”, admite ela, que estudou na UFU entre os anos de 2016 e 2019 e considera que suas melhores experiências, ao longo deste período de formação, foram as práticas, tanto nas aulas de radiojornalismo e jornalismo impresso quanto nos estágios que realizou na Dirco e na TVU.

Logo no início do curso, Tedeschi já deu os primeiros passos da trajetória profissional, aproveitando as férias entre o primeiro e o segundo semestres. Em busca de vivência na área, trabalhou voluntariamente, por três semanas, no jornal Panrotas, em São Paulo, que produz conteúdos direcionados ao profissional do turismo.

Já de setembro de 2016 a abril de 2017, atuou em um projeto de extensão da UFU, a Revista Nós. “Produzia conteúdo para a edição trimestral, entre entrevistas, reportagens, crônicas e artigos de opinião”, explica.

Giovanna Tedeschi, suas colegas da Comissão Organizadora do 'Comunica Ciência' e o fotógrafo da Dirco, Milton Santos. (Fotos: Arquivo pessoal)

A aprovação no processo seletivo para ser estagiária da Dirco ocorreu no final de 2017, no momento em que estava concluindo exatamente a metade da graduação. “Eu vim de São Paulo para estudar e foi a primeira vez que morei sozinha. Quando entrei na Dirco, estava terminando o quarto período. Foi uma oportunidade muito interessante e onde tive a possibilidade de realizar inúmeras entrevistas, sendo a maioria delas com pesquisadores. Ou seja: além de estar em contato com profissionais da minha área, pude aprender sobre diversos assuntos de outras áreas”, descreve.

Ao todo, foram 10 meses integrando a equipe que desempenha a comunicação institucional da UFU. O expediente incluía, sobretudo, a publicação de reportagens e textos sobre eventos, entrevistas e atendimento à imprensa. “Foi meu primeiro contato com o jornalismo na região do Triângulo e me possibilitou ver como realmente era o dia a dia dos profissionais, além de ter a oportunidade de conhecer mais sobre a UFU. Foi uma fase de muito aprendizado”, sintetiza.

Período de estágio na TV Universitária durou seis meses

O estágio na TVU durou exatamente um semestre, com início em outubro de 2018. “Foi interessante porque ainda tinha contato direto com meus colegas da Dirco, já que continuava trabalhando no mesmo prédio”, recorda-se. Segundo Tedeschi, a rotina passou a ser mais pesada e o trabalho, mais intenso. “No início eu apenas marcava entrevistas e gravava pequenos quadros, como a previsão do tempo, mas depois comecei a fazer reportagens na rua, de fato. Aprendi sobre as melhores maneiras de contatar fontes, a apresentação de quadros e reportagens e a escrever textos para a televisão”, cita ela.

O último período de graduação também foi dedicado a um estágio, mas desta vez fora dos muros da universidade. “Estagiei no jornal Diário de Uberlândia, de julho a dezembro de 2019. Era um emprego que eu queria há muito tempo, pois me identifico muito com o jornalismo impresso. Além de escrever reportagens sobre os mais diversos assuntos para o jornal, eu também tinha contato diário com policiais, bombeiros e a prefeitura da cidade, entre outras fontes e autoridades, para atualizar a versão web e as redes sociais”, detalha. De posse do diploma universitário, resolveu voltar à capital paulista, em busca de novos horizontes profissionais.

Cobrindo para o 'Diário de Uberlândia' um evento com a presença do ministro Marcos Pontes, Giovanna Tedeschi (à esquerda) posa ao lado da diretora de Comunicação da UFU, Renata Neiva, e dos colegas de imprensa Cristiane Guimarães, Flávio Soares e Fernando Cunha

A primeira oportunidade surgiu na agência F2F Digital, com a qual Tedeschi possui contrato desde o último mês de janeiro. Ela diz que nunca havia trabalhado anteriormente com marketing digital e tem gostado bastante desta nova experiência, para a qual precisa dedicar 9 horas, durante cinco dias da semana. “Desde a época da faculdade, eu já acompanhava as vagas disponíveis e sabia que seria bem mais provável que entrasse na área de mídias digitais do que em jornalismo, propriamente. Preciso utilizar minha criatividade para criar posts para redes sociais, além de artigos e campanhas publicitárias. Estou aprendendo cada vez mais e é uma rotina muito diferente da do jornalismo clássico. Preciso ter contato quase diário com clientes, que ditam o que vai ser realizado”, exemplifica.

Questionada sobre as críticas que parte da imprensa brasileira tem recebido a respeito de uma tendência à parcialidade, Giovanna Tedeschi argumenta que, logo no início da faculdade, já se sabe que imparcialidade é algo que não existe. “Tudo que vivemos afeta a forma como interpretamos as notícias e apresentamos nossos pensamentos. Não acho que imparcialidade seja algo desejável justamente porque não faz sentido buscá-la, já que é algo que não existe”, pondera.

Ela também defende a importância fundamental dos veículos de comunicação naquela que é uma das premissas básicas do bom jornalismo. “Em uma era de fake news, como a que estamos vivendo, o mais importante é garantir que a informação que está sendo passada é correta. Muitas vezes, no desespero de ‘furar’ um concorrente, o veículo acaba publicando informação errada e/ou incompleta, o que só contribui para o ciclo de informações falsas que buscamos incansavelmente combater”, alerta. E conclui, citando a cobertura da Covid-19: “Considerando os ataques do presidente (Jair Bolsonaro) e seu profundo desconhecimento sobre o assunto, quem acaba assumindo o papel de informar à população é a imprensa. Aliás, além de informar, ela tem que explicar por quais motivos as afirmações do governo federal são incorretas e não devem ser seguidas.”

 

Talento precoce

Dono de uma voz grave que já na adolescência chamava a atenção, a opção pelo radiojornalismo foi um caminho muito natural para Victor Fernandes. O processo de amadurecimento para o ofício durou alguns anos e teve início na cidade natal. Ainda na adolescência, sua mãe observava as gravações caseiras que ele fazia no computador e foi assim que veio o convite para participar de um programa de esportes numa pequena rádio comunitária de Monte Carmelo. “Eu tinha apenas 13 anos na época. Minha mãe comentou sobre este meu interesse com o apresentador daquele programa, que também era um dos fornecedores do comércio com o qual minha família trabalhava. Daí ele me chamou como convidado em um sábado; a repercussão daquela participação foi muito positiva e fui chamado para voltar outras vezes. O ‘bichinho da comunicação tinha me mordido’ e eu não consegui parar mais; trabalhava de graça, mas aprendia muito e fui perdendo o medo do microfone, que é como a gente costuma dizer nesse meio”, descreve.

De convidado no programa esportivo, o rapaz recebeu um novo convite – desta vez, do diretor da emissora – e passou a apresentar um programa matinal diário, com uma hora de duração. “Fiquei nessa primeira rádio durante oito meses, sempre conciliando trabalho e estudo e contando com o apoio da minha família. Meu pai me levava e buscava do trabalho, independentemente do horário”, recorda. Foi assim que surgiu a primeira oportunidade de serviço remunerado, em outra rádio comunitária. O salário não era lá grandes coisas, mas possibilitou a aquisição de um bem muito cobiçado por ele: “Eu trabalhava à tarde e recebia meio salário mínimo, o que dava cerca de R$ 275. Lembro que usei meu primeiro salário para comprar um videogame, um PlayStation 2. Foi uma das melhores sensações da vida.”

Nesta segunda rádio comunitária, veio o primeiro contato com o jornalismo profissional. E também vieram algumas decepções: “O diretor da emissora trabalhava como jornalista e sempre compartilhava algumas experiências. Eu também fiquei responsável durante um tempo por preparar a veiculação de boletins jornalísticos gravados por uma agência pública. Mas nem tudo eram flores e tive problemas de convivência com alguns colegas. Isso me fez querer desistir de tudo. Pedi demissão e decidi que não servia para trabalhar com rádio. Faria outra coisa.”

Tudo mudou durante uma greve de professores, quando o então líder estudantil Victor Fernandes concedeu uma entrevista a única rádio comercial de Monte Carmelo. Novamente, o vozeirão abria possibilidades de trabalho. “O diretor dessa rádio estava no ar no momento dessa entrevista e comentou com o repórter que havia gostado da minha voz e que queria conversar comigo. Depois de algumas semanas conhecendo a emissora e a equipe, fui convidado para estrear em um domingo. Fiquei quatro anos nessa rádio, dos 14 aos 18, e só a deixei quando vim estudar em Uberlândia”, narra, acrescentando que esta foi uma experiência que garantiu muito aprendizado e base para o seu crescimento como radialista e jornalista: “Fiz de tudo e aprendi de tudo por lá. Desde gravar um comercial, editar, produzir, fazer entrevistas até a lidar com dinheiro, patrocínios, cachês. Eu não tenho dúvida de que sem essa bagagem eu não seria o profissional que sou hoje”, sublinha.

O caminho estava traçado e o sonho infantil de ser engenheiro mecânico já era apenas uma lembrança distante. Fernandes comenta que chegou a ser aprovado para cursar Geografia, porém não se empolgava muito com a ideia e, por isso, decidiu buscar na UFU uma base teórica para complementar o que já havia assimilado diretamente no mercado sobre o ofício de comunicador. “Faltava o arcabouço técnico, o verdadeiro conhecimento da profissão. Um bom jornalista não deve apenas saber fazer, mas saber como fazer e, principalmente, como não fazer. Acho que essa foi a principal contribuição que obtive da minha graduação em Jornalismo. As perspectivas teóricas que eu adquiri, ao longo do curso, foram importantes para solidificar o alicerce que o mercado me proporcionou”, avalia.

Ele também descreve o período acadêmico como desafiador e instigante. “Em muitos momentos, era preciso abandonar o senso comum e mergulhar em uma história; uma realidade, por exemplo. Tive muito contato com o audiovisual e fiz alguns documentários em grupo. Mas minha principal ‘aquisição’ na faculdade de Jornalismo foi o texto. Eu brinco que aprendi a escrever no Ensino Fundamental e reaprendi a escrever na UFU”, relata.

O Bloco 1S do Campus Santa Mônica foi o local em que foram realizadas as atividades de estágio; respectivamente, na TVU e na Dirco. Na emissora de televisão, ele ajudou na equipe de produção e na reportagem. Já na Dirco, onde ficou por um período maior de tempo, Fernandes afirma ter passado pela “rica e intensa experiência de estar do outro lado”. Outros pontos destacados por ele: “Fiz ótimas fontes e aprendi muito sobre o funcionamento de um órgão público no Brasil – seus pontos fracos e fortes. Consegui dar um novo significado ao conceito de hierarquia, comando e poder. Nessa função fiz uma reportagem que até hoje me marcou muito – o perfil do professor Álisson Machado, do curso de Engenharia Mecânica, e torcedor do Cruzeiro, como eu.”

Reportagem foi uma das tarefas de Victor Fernandes durante o estágio na TV Universitária

Deixou a Diretoria de Comunicação em 2017, um ano e meio antes da obtenção do diploma, convidado para trabalhar na Rádio Educadora. Na ocasião, a emissora estava migrando da frequência AM para a FM, com a proposta de uma programação privilegiando tanto a música quanto as notícias. Totalmente adaptado ao trabalho, atualmente ele apresenta o “Jornal Educadora” e comanda a programação da manhã na rádio, com boletins informativos a cada 20 minutos. Concilia estas tarefas com postagens de textos no Portal da Paranaíba FM e de boletins jornalísticos que são lidos por outros locutores, ao longo da programação, além das notícias no site da rádio. Também é do egresso da UFU a função de “voz padrão” da TV Paranaíba/Record. O expediente diário dura, em média, de 10 a 12 horas.

Na opinião de Fernandes, a imprensa é uma das instituições mais importantes para uma democracia livre e justa. Ele considera “primoroso" o papel que ela tem feito na cobertura da pandemia causada pelo novo coronavírus. E justifica os motivos desta avaliação: “O medo com informação é cautela; o medo sem informação é crença. Acredito que a cobertura tem ocorrido de forma serena, com fatos científicos e mostrando a dura realidade que a Covid-19 tem imposto no mundo. É uma doença grave, que pode colapsar o sistema de saúde e resultar em milhares de mortos. Qualquer tentativa de suavizar essa percepção, como dizer que a doença é uma ‘gripezinha’, é pura manipulação barata para desinformar a opinião pública.”

Por fim, faz questão que ressaltar o amor que sente à sua profissão e a força do veículo de comunicação ao qual dedica a maior parte do tempo. “Eu me reconheço no que faço. Sinto que posso contribuir, ainda que pouco, para uma sociedade mais equilibrada, justa e livre a cada dia. Trabalhar em rádio nos tempos da internet é desafiador, mas o vejo como um dos veículos mais versáteis e simples da atualidade. Carlos Massa, o Ratinho, disse, ao inaugurar o investimento milionário da Rádio Massa de São Paulo, no ano passado: ‘A internet vai acabar e quem vai noticiar é o rádio’. É um exagero, claro. Mas o veículo terá vida longa, seja no FM, seja nos novos formatos como o podcast. E, assim como o jornalismo, vai se reinventar a cada dia. É o que acredito”, argumenta.

Vocação de radialista vem sendo praticada pelo ex-aluno da UFU desde os 14 anos de idade

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