Publicado em 13/05/2020 às 14:37 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:52
O joystick é um dispositivo manual de controle usado para manipular as cadeiras de rodas motorizadas. Entretanto, vários tipos de deficiência impedem ou dificultam a função dos membros superiores para utilizá-lo. Por esse motivo, a pesquisa de mestrado desenvolvida por Thiago Sá de Paiva busca garantir o comando por outras formas, como pelo movimento da cabeça ou dos olhos.
Formado em Engenharia Mecânica, com ênfase em aeronaves, pela Universidade de São Paulo (USP) em 2006, ele ingressou no mercado de trabalho logo após a formatura. Porém, alguns anos depois, escolheu se dedicar à carreira acadêmica, com o objetivo de se tornar professor. Em 2018, o Programa de Pós-Graduação em Engenharia Biomédica da Universidade Federal de Uberlândia (Ppgeb-UFU) se tornou o seu novo local de trabalho.
A parceria com o orientador Eduardo Lázaro Martins Naves, da Faculdade de Engenharia Elétrica (Feelt/UFU), e o interesse por robótica e saúde resultaram em um protótipo que pode ser anexado ao joystick das cadeiras de rodas. O mestrado tem apoio do Núcleo de Tecnologia Assistiva (NTA/UFU).
“O dispositivo vai realizar toda a mobilidade e o aperto dos botões para a condução. Isso vai permitir a integração de um programa de interface e controle (usando métodos como rastreamento ocular e rastreamento do movimento da cabeça), para a pessoa acionar o joystick do jeito que ela quiser e dirigir como puder”, afirma o cientista.
Cadeiras de rodas conduzidas pelos olhos ou pela cabeça são tecnologias conhecidas na engenharia voltada para a saúde. Mas, por mais que sejam inovadoras, essas máquinas ainda são caras. Apesar disso, o diferencial do trabalho de Paiva é transformar essa função em uma ferramenta complementar.
“Muitos usuários conseguem adquirir as cadeiras de rodas motorizadas. Contudo, aquelas com métodos alternativos de comandos não são disponibilizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Minha pesquisa é uma maneira de ampliar o acesso. O equipamento que criei é colocado sobre o joystick; então, não precisa de alterar o projeto original”, explica o pesquisador.
Explicação sobre como e onde o dispositivo criado atua. (Arte: Anna Cauhy)
O mecanismo já tem uma patente registrada pela UFU. Atualmente, está em processo de finalização do protótipo. Os testes ainda estão sendo realizados; contudo, a pandemia de Covid-19 desacelerou algumas etapas do projeto. Agora, Paiva ajuda o laboratório em que trabalha a confeccionar protetores faciais para os profissionais de saúde.
“Eu tenho sorte, porque já tinha comprado os materiais para a pesquisa. Ainda vou à UFU, porque participo dos projetos de impressão dos protetores faciais pelas impressoras 3D. Eu aproveito que venho à UFU e trabalho no dispositivo. Eu diminuí o ritmo, mas não parei”, informa o mestrando.
Paiva faz um alerta sobre as dificuldade de produzir ciência no Brasil. “O ideal seria que o valor da bolsa fosse capaz de sustentar o pesquisador com seus gastos diários, evitando, assim, que pesquisadores desistam, dependam de seus familiares ou até recusem a bolsa para trabalhar e fazer pós-graduação ao mesmo tempo", explica.
Dispositivo criado por Thiago Sá de Paiva. (Foto: Acervo do pesquisador)
Uma parte importante do projeto é o custo, uma vez que o protótipo custou cerca de R$ 700. Todas as peças utilizadas para automatização do joystick são facilmente encontradas no Brasil, como os motores, reguladores de tensão, arduino etc. Paiva ressalta que o benefício da pesquisa é conseguir dar mais autonomia para quem não tem opção ou dinheiro para comprar uma cadeira adaptada. “Buscamos uma sociedade que inclui, e não exclui. E fazer pesquisa sobre tecnologias assistivas é um avanço para a ciência”, conclui.
Palavras-chave: acessibilidade Ciência
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