Publicado em 28/05/2020 às 16:23 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:52
Foto: Freepik
Evidências científicas mostram que, em dias frios, ambientes com altos níveis de poluição atmosférica contribuem para o aumento da incidência de infarto na população exposta. Já em dias quentes, a desidratação ocasionada pelo calor é uma das principais causas para esse desfecho.
As causas fisiológicas que explicam esse fenômeno estão geralmente relacionadas a alterações na frequência cardíaca e pressão cardiovascular. A diminuição da temperatura ambiente contribui para a vasoconstrição, com consequente elevação da pressão arterial e ritmo cardíaco. Por outro lado, a elevação da temperatura ocasiona maior sudorese e desidratação, diminuindo o volume do plasma sanguíneo, a pressão arterial e a frequência cardíaca.
Outro ponto de consenso entre os cientistas consiste no conhecimento de que essas alterações no organismo, que ocorrem em resposta às variações de temperatura ambiente, aumentam a viscosidade e coagulabilidade do sangue, favorecendo o aparecimento de trombos. Nessa situação, o fluxo sanguíneo no tecido muscular cardíaco é diminuído, causando o infarto.
No que diz respeito aos fatores de risco relacionados aos eventos de infarto do miocárdio, as investigações científicas reconhecem que algumas variáveis individuais contribuem de forma significativa para a ocorrência desse desfecho quando há variações importantes de temperatura, a saber: predisposição hereditária; obesidade; idade e sexo (homens acima de 65 anos são mais vulneráveis às variações de temperatura); hábitos como sedentarismo, tabagismo, consumo de álcool e outras drogas, alimentação hipercalórica e rica em gorduras, baixa ingestão de água e estresse; e problemas de saúde pré-existentes, como hipertensão, diabetes, colesterol alto e quadros de infecções virais.
Ainda que os fatores ambientais sejam cada vez mais bem detalhados na literatura como impactantes na ocorrência de infarto do miocárdio, algumas lacunas ainda precisam ser preenchidas para que ações de vigilância em saúde possam nortear políticas públicas no sentido de desenvolver programas de prevenção e promoção de saúde.
Do ponto de vista da saúde coletiva, permanece o desafio de esclarecer de que forma e, em que medida, determinantes sociais, como condições precárias de moradia e acesso aos serviços de saúde, baixa renda e pouca escolaridade agregam risco para a ocorrência de infarto para as populações vulneráveis e, portanto, mais expostas às mudanças ambientais. Também é importante compreender quais são as demandas necessárias para que os serviços públicos de atenção social e à saúde forneçam orientação e condições adequadas para que a população possa compreender e adotar atitudes preventivas.
Medidas, cuidados e ações para prevenção de infarto do miocárdio na perspectiva da saúde coletiva
Com base em evidências da literatura científica, o risco absoluto para ocorrência de infarto do miocárdio é definitivamente maior para populações em estado de vulnerabilidade socioeconômica. Isso sugere que medidas eficazes de prevenção primária e secundária diminuirão o número de casos de infarto do miocárdio relacionados à poluição do ar e/ou exposição às variações de temperatura.
Assim, ao abordar os cuidados e a prevenção contra o infarto do miocárdio, é necessário considerar, de forma integrada, os fatores de risco individuais, socioeconômicos, comportamentais e o estado de saúde populacional, além das variações ambientais, como já destacamos ao longo do texto.
Considerando essas informações, algumas atitudes preventivas devem ser levadas em conta para a manutenção da saúde, como vacinar-se, pois as infecções aumentam a inflamação nos vasos sanguíneos; aderir a práticas regulares de atividades físicas e de lazer (importante tanto na prevenção primária quanto secundária); hidratar-se adequadamente; usar roupas leves e claras no calor e agasalhar-se no frio; adotar dieta equilibrada (com baixo teor de açúcar e gordura) e saudável (rica em fibras, vitaminas e sais minerais).
Além disso, é importante que os serviços públicos de atenção social e à saúde forneçam condições adequadas para atender às necessidades da população, viabilizando também projetos e programas de controle do estresse urbano, do uso de álcool e outras drogas lícitas e ilícitas, bem como incentivar e subsidiar o consumo/comércio de alimentos saudáveis. Simultaneamente, no âmbito da atenção primária à saúde, é importante oferecer acompanhamento dos fatores de risco individuais, averiguando periodicamente os níveis de glicemia e pressão arterial, dentre outras ações de promoção da saúde.
Ainda na perspectiva das políticas públicas, são necessárias ações pontuais para redução da exposição aos fatores ambientais e seus efeitos cardiovasculares adversos, como a restrição de exercício físico ao ar livre em áreas contaminadas pelas emissões veiculares, particularmente para pessoas com ou em risco de doença cardiovascular.
Dessa forma, além das ações de monitoramento do tempo e da qualidade do ar, o fomento às estratégias de comunicação em saúde é fundamental tanto para os profissionais quanto para a população (sobretudo, os pacientes em risco), uma vez que as ações de prevenção são mais eficientes quando se compreende como a poluição do ar e mudanças de temperatura contribuem para ocorrência de infarto do miocárdio.
Comunicação e Saúde
No Brasil, existe uma crescente demanda da população por melhorias permanentes nos modelos de informação/comunicação das ações e serviços de saúde. De fato, as estratégias de comunicação em saúde têm por objetivo fornecer subsídios para a tomada de decisões e o desenvolvimento de ações de promoção da saúde; contudo, menos da metade dos municípios brasileiros tem assessoria de comunicação. Assim, tem sido adotado um padrão de comunicação baseado na persuasão, prescrição e culpabilidade da (re)emergência dos agravos a determinados segmentos da sociedade.
Diante da urgente necessidade de organizar os processos informacionais e comunicativos para a prevenção e o controle das doenças e agravos, a utilização de informações com embasamento epidemiológico pode, no âmbito das ações de comunicação em saúde, evidenciar e (re)produzir os sentidos e saberes relacionados às ações de prevenção, proteção e promoção da saúde na perspectiva da cidadania e da justiça social.
Nessa direção, o projeto "Comunicação e Saúde: Esclarecimento que gera engajamento", do curso de graduação em Gestão em Saúde Ambiental (cujo nome passará a ser Graduação em Saúde Coletiva) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), tem por objetivo construir e aplicar um modelo de comunicação participativa para adesão e engajamento da sociedade em campanhas de saúde pública, a partir dos pressupostos de contextualização e respeito à cultura, conhecimentos e valores da população. A equipe executora do projeto acredita no sucesso da comunicação em saúde como estratégia essencial para mediar as relações entre as ações públicas, a participação coletiva e a opinião pública.
*Ana Carla Garcia Medeiros, Badr Abou Dehn Pestan e Clara Pereira Santana são estudantes da graduação em Gestão em Saúde Ambiental (cujo nome passará a ser graduação em Saúde Coletiva) pela UFU e, juntamente com o professor Boscolli Barbosa Pereira (Instituto de Geografia – UFU), coordenam o projeto de Extensão: “Comunicação e Saúde: Esclarecimento que gera engajamento”.
A seção "Leia Cientistas" reúne textos de divulgação científica escritos por pesquisadores da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). São produzidos por professores, técnicos e/ou estudantes de diferentes áreas do conhecimento. A publicação é feita pela Divisão de Divulgação Científica da Diretoria de Comunicação Social (Dirco/UFU), mas os textos são de responsabilidade do(s) autor(es) e não representam, necessariamente, a opinião da UFU e/ou da Dirco. Quer enviar seu texto? Acesse: www.comunica.ufu.br/divulgacao. Se você já enviou o seu texto, aguarde que ele deve ser publicado nos próximos dias.
Palavras-chave: Leia Cientistas Divulgação Científica Ciência saúde coletiva
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