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Museus

“Des_arquivos”, nova exposição on-line do MUnA, versa sobre os espaços em demolição e em ruínas nas cidades

Abertura da exposição de Glayson Arcanjo, com curadoria de Paula Almozara, acontece hoje (21). Mostra fica disponível no site oficial do museu até final de julho

Publicado em 21/05/2021 às 10:29 - Atualizado em 22/08/2023 às 20:25

As pesquisas de Arcanjo sobre o tema se iniciaram em 2007 (Foto: acervo pessoal)

 

O Museu Universitário de Arte da Universidade Federal de Uberlândia (MUnA/UFU) abre, hoje (21), a partir das 18 horas, a exposição on-line “Des_arquivos”. A mostra do artista Glayson Arcanjo, com curadoria de Paula Almozara, fica disponível no site oficial do museu até o final de julho.

“Des_arquivos” é o desdobramento de uma investigação sobre os espaços em demolição e em ruínas nos centros urbanos contemporâneos. As pesquisas de Arcanjo sobre o tema se iniciaram em 2007 e foram aprofundadas em sua pesquisa de doutorado, Em demolição: notas sobre desenho, processo e lugar, defendida na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) em 2018.

Durante sua pesquisa, Arcanjo desenvolveu desenhos, experiências e intervenções artísticas nas demolições e nas ruínas das cidades. Segundo ele, os desenhos dos espaços serviam como “dispositivos de negociação” com os ambientes e representavam uma “memória daquele local que já não existe”. Além disso, intervir nos espaços em demolição significava “construir uma experiência artística em meio a um processo de destruição que ali operava”.

Para a exposição, o artista utiliza documentações, ou seja, vídeos, fotografias, cadernos, relatos, narrativas textuais, cacos e fragmentos, que foram geradas a partir das suas experiências e intervenções nos espaços em demolição.

“Os trabalhos e projetos de Glayson Arcanjo propõem uma poética conectada às experiências sobre a paisagem por intermédio de indícios conceituais que reverberam por toda sua produção”, explana a artista e curadora da exposição Paula Almozara. Um desses indícios é a “ideia vestigial, ou seja, marcas, sinais, que, deixados ou ressaltados pelo artista, fazem parte de uma relação experiencial e ficcional na tentativa de imaginar a vida que ali se teve”.

 

Casa em ruínas.

O artista atuou em espaços em demolição de diversas cidades brasileiras. Foto: acervo pessoal.

 

 

Deslocamentos

O projeto da exposição de Glayson Arcanjo foi selecionado no Edital Público para Seleção de Projetos de Exposições Temporárias do MUnA, em 2020. A mostra, cujo nome original era “Arquivos de Demolição”, seria implementada no espaço expositivo do MUnA, aberta a visitações presenciais, ainda no ano passado.

“Eu cheguei a levar os trabalhos para o MUnA”, conta o artista. “Nós abrimos as mesas e chegamos a desencaixotar os trabalhos para fazer a montagem [no espaço expositivo]. Depois, eu guardei isso tudo, voltei para casa e [por conta da pandemia] a exposição ficou guardada”.

Na época, o artista e a equipe do MUnA enfrentavam o desafio de deslocar a pesquisa da tese de doutorado para o museu: “Como, inicialmente, a experiência artística havia acontecido nos espaços em demolição, o trabalho não havia sido pensado para o espaço expositivo”, relata Arcanjo. “Mas como deslocar uma experiência de um espaço que já não existe? Ou de um espaço que passou por uma transformação?”.

 

Caixa sendo aberta e revelando livros e desenhos.

Algumas das atrações da exposição on-line são imagens de uma caixa, que se abre e revela documentações coletadas e produzidas durante a pesquisa de Arcanjo. Foto: acervo pessoal.

 

A pandemia de Covid-19 não facilitou a situação. Antes que esse desafio pudesse ser solucionado, outro se apresentou: deslocar o projeto da exposição física para o formato da exposição on-line.

“Quando eu penso em um trabalho para o espaço presencial do MUnA, eu estou pensando nas relações das paredes, do chão, do teto e dos níveis no espaço”, explana Arcanjo, que nunca havia realizado uma exposição on-line. “Nesse caso, a minha preocupação é entender como instaurar um espaço no qual as pessoas consigam percorrer os trabalhos a partir da relação com o museu. No ambiente virtual, não”.

Hoje, Arcanjo acredita que a exposição virtual é uma forma de reabrir o seu trabalho. Este foi o motivo pelo qual o nome da mostra mudou de “Arquivos de Demolição” para “Des_arquivos”: “É como se houvesse um duplo sentido de desarquivo: como se o arquivo estivesse se abrindo para a exposição novamente e, ao mesmo tempo, existisse um sentido de perda, de arquivo de coisas que não existem mais”. Além disso, o prefixo “des”, seguido de underline (“Des_”), brinca com a linguagem da Internet.

 

Exposições on-line no MUnA

“Des_arquivos” é a terceira exposição on-line exibida pelo MUnA desde o início da pandemia. Antes dela, houve “Corpo Ausente”, de Cristina Elias, e “Percursos, Desejos e Dilação”, de Alan Oju.

De acordo com o coordenador do Setor de Expografia e Montagem do MUnA e coordenador do Sistema de Museus (SIMU) da UFU Rodrigo Freitas, o meio digital é uma possibilidade a mais para o museu.

“Ele [o meio digital] não representa a única maneira do museu atuar, mas, certamente, foi uma nova maneira dele desenvolver suas atividades, conquistar outros públicos e repensar as formas de produzir uma exposição”, argumenta. “Estar aberto a essa pluralidade de conhecimento que o mundo virtual nos possibilita é uma maneira de nos conectarmos com o nosso tempo”.

Além disso, Freitas defende que, “nesse contexto de fechamento das instituições, de desmonte das universidades e de ataque sistemático à pesquisa científica, ao conhecimento e às artes, os museus provaram, por meio de diversas ações e articulações virtuais, que são instituições extremamente atuantes, que conseguem acionar outras dimensões da arte”.

 

Sobre o artista

 

Glayson Arcanjo fazendo uma intervenção artística dentro de uma casa em demolição.

Professor e artista, algumas das linhas de pesquisa de Arcanjo são Práticas e Processos de Desenho na Arte Contemporânea e Arte no Contexto da Cidade. Foto: acervo pessoal.

 

Glayson Arcanjo é artista plástico graduado em Educação Artística (2001) pela UFU, Mestre em Artes (2008) pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Doutor em Artes Visuais (2018) pela Unicamp. Hoje, ele atua como professor adjunto na Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal de Goiás (FAV/UFG) e coordenador da Galeria da FAV.

Arcanjo foi monitor de Programação Visual no MUnA em 2001, durante a gestão do artista Alexandre França. Ele já realizou e participou de diversas exposições, como “Estratégias de Ocupação” (2019), “Por em Página” (2016) e “Triangulações” (2015), bem como outros trabalhos, como “Ações para casa em reforma” (2020) e “Residência Mínimo” (2015).

Palavras-chave: Museu MUnA Exposição

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