Publicado em 13/08/2021 às 15:35 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:51
Divulgado no último dia 09 de agosto, o Sexto Relatório de Análise (AR6, em inglês) do Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima (IPCC) trouxe resultados alarmantes. Em apenas oito anos, a temperatura média no planeta subiu cerca de 0,19°C, chegando a 1,09°C acima dos níveis anteriores à Revolução Industrial. Pode parecer pouco, mas esse aumento traz consigo consequências irreversíveis, incluindo a intensificação de tempestades, secas e ondas de calor extremo. Ao mesmo tempo, o relatório correlaciona esse aumento de temperatura diretamente à atividade humana: mais especificamente à emissão de gases relacionados ao efeito estufa.
Porém, ainda é possível evitar uma calamidade global, desde que os seres humanos reduzam, imediatamente, a emissão de gases de efeito estufa para a atmosfera (dióxido de carbono e metano, principalmente). E como podemos fazer isso? Além das medidas mais conhecidas (evitar o uso de carros, reduzir a produção de lixo etc.), é crucial economizar no consumo de energia elétrica. Afinal, boa parte da produção energética mundial (cerca de 64%) vem da queima de combustíveis fósseis em termelétricas: um dos grandes “vilões” do aquecimento global. (Mesmo no Brasil, onde a produção de energia vem principalmente de hidrelétricas, ainda há uma parcela significativa de termelétricas – as quais, inclusive, tendem a ser mais utilizadas em períodos de seca.)
Mas, como economizar energia em um mundo cada vez mais “digital”? Afinal, trabalhamos quase o tempo todo diante de computadores ou celulares. Aliás, muitas empresas, principalmente da área de Tecnologia da Informação (TI), já anunciaram que continuarão em regime de home office mesmo após o fim da pandemia. Isso sem contar as diversas atividades cotidianas que dependem desses dispositivos eletrônicos. Tudo isso eleva o consumo de energia em nossas residências. Porém, mais do que isso, traz uma série de gastos, digamos, “secundários” que, embora não tragam impacto em nossas contas de luz, levam a um aumento de consumo energético em alguma outra região do planeta.
Explicando em linhas gerais: enquanto você lê este artigo, você está acessando um conteúdo disponível na internet. Isso significa que, em algum lugar (neste caso, na UFU), existe ao menos um computador (chamado servidor) responsável por armazenar esse texto. Além disso, há outros servidores “no caminho”, permitindo que essa informação (o texto) chegue até você. Ou seja, não é apenas seu notebook ou celular que está sendo usado nesse momento: há diversos outros computadores ligados 24 horas por dia para garantir que esse conteúdo chegue até você. E, quanto mais sobrecarregados esses servidores ficam, mais energia eles consomem (além disso, se for observado que os atuais servidores não estão “dando conta do recado”, será necessário adquirir servidores adicionais, aumentando ainda mais o consumo).
É justamente esse alto uso de serviços online que causa poluição digital; em outras palavras, essa poluição ocorre quando, ao consumir recursos digitais, colaboramos com o aumento da produção de gases do efeito estufa. Por exemplo, segundo a Agência Francesa de Gestão Ambiental e Energética (ADEME), serviços de streaming de vídeo (como Netflix e Prime Video) são responsáveis por cerca de 60% do tráfego de internet global, o que se converte em 1% das emissões de dióxido de carbono. Ainda, de acordo com a Hydro Québec, estima-se que até 2030 nossa presença online representará de 8% a 21% das necessidades energéticas mundiais! Logo, como reduzir o uso desses recursos ou, ao menos, utilizá-los de maneira racional? A Hydro Québec e a ADEME listam seis tópicos importantes, que requerem nossa atenção e sobre os quais conversaremos a seguir.
Correspondências eletrônicas: segundo a ADEME, mensagens instantâneas (via WhatsApp ou Telegram) consomem menos energia que enviar um e-mail. Assim, podemos evitar o uso de e-mail para mensagens muito curtas, como uma simples confirmação de data, ou o clássico “oi sumido”.
Buscas na web: o uso de mecanismos de pesquisa (como Google ou Bing) produzem quatro vezes mais gases de efeito estufa que o acesso direto a um site. Assim, quando precisar entrar em um site conhecido, como o da UFU por exemplo, digite o endereço completo (www.ufu.br) em seu navegador (Chrome, Edge), em vez de digitar apenas “ufu”. Isso faz com que o mecanismo de busca não seja acionado, reduzindo o gasto de energia. Habitue-se, também, a usar a barra de Favoritos, armazenando os sites acessados com frequência.
Reuniões virtuais: desligue a webcam! Conferências em áudio usam até mil vezes menos largura de banda que videoconferências. Menos largura de banda, menos consumo de rede, menos servidores sendo sobrecarregados.
Armazenamento na nuvem: recomenda-se que serviços na nuvem (Dropbox, OneDrive) sejam utilizados apenas quando necessários, geralmente para compartilhamento de arquivos. Caso você queira fazer um backup de seus dados, uma alternativa mais ecológica é investir em um HD externo ou em mídias, como DVDs. E não se esqueça: seus celulares armazenam suas fotos automaticamente na nuvem! Talvez seja o caso de nos acostumarmos a desativar esse recurso e baixar nossas fotos com mais frequência em um computador...
Conexões: sempre que possível, deixe seus dispositivos (notebook, celular, tablet) conectados em uma rede Wi-Fi (desde que segura, obviamente). Conexões em redes móveis (3G, 4G) exigem mais energia para serem estabelecidas: basta observar o consumo de bateria do seu celular para confirmar isso.
Entretenimento: finalmente, você sabia que assistir a séries ou filmes online (streaming) em seu computador gasta muito menos energia que em uma smart TV? Pois é, pode ser menos confortável, mas já traz um grande impacto na sua conta de luz e, logicamente, no meio ambiente.
Como dito, o aquecimento global é uma realidade e já chegou a níveis alarmantes, com graves consequências. Portanto, mais do que nunca, precisamos rever nosso comportamento e reduzir o impacto da presença humana no planeta. Ainda dá tempo de diminuir a emissão de gases de efeito estufa, mas o tempo é cada vez mais curto. Está mais do que na hora de cada um de nós fazer sua parte.
*Paulo Henrique Ribeiro Gabriel é professor da Faculdade de Computação da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). É docente credenciado no Programa de Pós-Graduação em Computação da UFU, na linha de pesquisa em Inteligência Artificial.
A seção "Leia Cientistas" reúne textos de divulgação científica escritos por pesquisadores da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). São produzidos por professores, técnicos e/ou estudantes de diferentes áreas do conhecimento. A publicação é feita pela Divisão de Divulgação Científica da Diretoria de Comunicação Social (Dirco/UFU), mas os textos são de responsabilidade do(s) autor(es) e não representam, necessariamente, a opinião da UFU e/ou da Dirco. Quer enviar seu texto? Acesse: www.comunica.ufu.br/divulgacao. Se você já enviou o seu texto, aguarde que ele deve ser publicado nos próximos dias.
Palavras-chave: Leia Cientistas Computação poluição digital meio ambiente Divulgação Científica
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