Publicado em 10/09/2021 às 17:56 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:51
Curso, que iniciou em maio deste ano, é ofertado a mais de 300 alunas. Na foto, cerimônia de abertura do projeto (Foto: Juliana Faquim/Arquivo pessoal)
O projeto “UAI: UFU acolhe imigrantes” foi criado em 2020 na Escola Técnica de Saúde da Universidade Federal de Uberlândia (Estes/UFU), com o objetivo de ofertar um curso de formação inicial e continuada em Higienista de Serviços da Saúde. O curso busca atender, inicialmente, 300 mulheres, preferencialmente imigrantes, em situação de vulnerabilidade socioeconômica na microrregião de Uberlândia-MG, formada pelos municípios de Araguari, Araporã, Canápolis, Cascalho Rico, Centralina, Indianópolis Monte Alegre de Minas, Tupaciguara, Prata e Uberlândia.
A professora do curso Técnico em Saúde Bucal da Estes, Juliana Pereira da Silva Faquim, é quem coordena o projeto, juntamente com os professores Douglas Queiroz Santos e Camila Nonato Junqueira. Anteriormente, Faquim também esteve à frente de uma outra ação, a “Mulheres Mil”, dedicada a mulheres presidiárias. Por causa do destaque da professora em seus projetos, ela foi convidada pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MDH) a promover uma nova ação na Escola Técnica e assim surgiu o “UAI: UFU acolhe imigrantes”.
A escolha em atender mulheres imigrantes se deu porque, de acordo com o Observatório das Migrações Internacionais (OBMigra), entre os anos de 2010 e 2017, foram registrados quase 450 mil imigrantes no país, sendo que, desse total, 37,02% são mulheres. No caso das mulheres, a inserção no mercado de trabalho apresenta especificidades, pois percebe-se dificuldades: na formação e experiência formal de trabalho; em equilibrar o cotidiano de trabalho e a rotina com os filhos; por elas terem menor contato social com pessoas do país acolhedor; e de comunicação, necessitando maior grau de dependência e de ajuda.
Logo oficial do projeto
Além da inserção no mercado de trabalho, o projeto também visa fazer uma inserção sociocultural dessas mulheres. Para isso, além das disciplinas da matriz do curso de Higienista de Serviços da Saúde, são ofertadas outras disciplinas que agregam conhecimento na vida cotidiana dessas pessoas, como saúde da mulher, inclusão digital, português para estrangeiros e empreendedorismo. O pré-requisito inicial para participar é ser mulher imigrante, mas as vagas foram estendidas para aquelas registradas no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico), vítimas de violência, desempregadas, de baixa renda e em vulnerabilidade socioeconômica.
A equipe do projeto é composta por 30 pessoas, entre coordenadores, tutores, bolsistas, voluntários, docentes e um mediador cultural, já que diversos assuntos abordados, como a saúde da mulher, por exemplo, devem ser adaptados de acordo com a cultura de cada aluna. Para conseguir divulgar o projeto, além das chamadas nas redes sociais da UFU e nos veículos de comunicação da cidade, foi elaborado um folder, traduzido em seis línguas diferentes, entre elas, inglês, francês, crioulo e árabe.
Folders de divulgação inicial do projeto
Apesar do projeto ter iniciado em novembro do ano passado, as aulas em si começaram em maio deste ano e o curso, atualmente, está em sua reta final. Foram realizadas mais de mil inscrições, mas por logística, apenas 300 vagas foram ofertadas e preenchidas. As aulas acontecem de forma síncrona pelo canal no YouTube do projeto. Porém, todas as aulas são gravadas, buscando atender às alunas que não conseguem assistir durante a exibição. Além das aulas, para avanço em cada módulo, é necessária a entrega de atividades referentes a cada disciplina.
Após o curso, haverá uma etapa de inserção no mercado de trabalho, na qual os organizadores do projeto auxiliarão na criação de currículos e mediações com empresas contratantes. O projeto ainda criou uma cartilha de apoio ao público imigrante que foi bem recebida pelo MDH. Com isso, ela será distribuída de forma nacional, em diferentes pontos do país, buscando atender à demanda de informações e dar visibilidade ao assunto.
No próximo semestre, o grupo pretende iniciar uma nova turma do curso por causa da recepção positiva e número de inscritos. Almejando atender também homens, Faquim ainda faz parte de outro projeto, que se encontra parado por causa da pandemia de covid-19: o Alvorada, destinado a egressos do sistema prisional, visando a reinserção deles no mercado de trabalho através de um curso de eletricista.
Ao ser questionada sobre a importância do projeto UAI, Faquim destaca o quanto algo simples para pessoas comuns se torna importante para mulheres como as alunas do projeto. “Eu diria que, às vezes, a gente faz muito pouco e para elas representa muito. Elas recebem uma bolsa no valor de cem reais, que é pouco, mas que pensamos em um valor que fosse suficiente para pagar internet. Para receber essa bolsa, o mínimo que a gente precisa é de um documento pessoal, às vezes comprovante de endereço, e muitas vezes essas mulheres não têm comprovante no próprio nome, muitas vezes porque o marido não permite. Tivemos casos que a aluna sequer tinha RG, porque o marido queimou”, relata a professora.
Nessas situações, Faquim demonstra como o projeto vai além do curso ofertado, com atuação na vida pessoal das alunas. Em casos como o citado por ela, os tutores auxiliaram na criação de documentos pessoais para que elas recebessem a bolsa-auxílio. “Para essa aluna, isso, só isso, já foi mais que suficiente,para além da capacitação profissional”, encerra Faquim.
Você pode acompanhar o projeto pelo site oficial, ou pelas redes sociais Instagram e Facebook. Qualquer dúvida basta contatar projetouai.ufu@gmail.com. Este texto faz parte de uma série de reportagens desenvolvida pelo Comunica UFU sobre alguns projetos da Rede de Divulgadores da Ciência da UFU. Caso ainda não faça parte da Rede e queira colaborar, basta entrar em contato pelo e-mail comunicaciencia@ufu.br. Além disso, o Comunica Ciência tem um canal no Telegram. Para fazer parte, basta acessar o link: https://t.me/comunicacienciaufu.
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