Publicado em 21/11/2022 às 08:51 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:39
Durante a defesa, o pesquisador, que tem surdez profunda e baixa visão, comunicou-se por meio da Libras no campo visual reduzido, um processo em que o intérprete fica mais próximo à pessoa surdocega. (Foto: Arquivo do pesquisador)
Diante dos desafios enfrentados pelos surdos em suas interações acadêmicas e sociais em relação ao uso de português escrito, a tese de doutorado produzida pelo professor José Carlos de Oliveira, do Instituto de Letras e Linguística da Universidade Federal de Uberlândia (Ileel/UFU), analisou a produção de texto de surdos sinalizantes (que se comunicam por meio da Língua Brasileira de Sinais - Libras).
A análise buscou investigar quais são as características que marcam a “produção inicial” e a “produção final”, duas categorias organizadas pelo pesquisador. Os textos analisados são dos gêneros “relato de experiência vivida'' e "resumo".
Oliveira ofertou um curso de extensão chamado “Modelo didático sequencial de ensino de português escrito para surdos por meio de gêneros textuais” e selecionou, para analisar em seu estudo, as produções textuais de quatro dos 13 participantes surdos sinalizantes da Libras de diferentes faixas etárias e nível acadêmico.
“O trabalho desenvolvido na pesquisa contribui para o desenvolvimento das capacidades de linguagem necessárias à produção dos gêneros e indica, ainda, a necessidade da produção de textos em Libras, nos diferentes gêneros textuais, quer sejam aqueles do cotidiano, quer sejam os escolares, principalmente da esfera acadêmica, para subsidiar o ensino de gêneros textuais em português escrito”, argumenta Oliveira.
A pesquisa, orientada pela professora Maria Inês Vasconcelos Felice (Ileel/UFU), ressalta a importância da utilização da língua de sinais e defende a necessidade dos professores de conhecerem e compreenderem a cultura e a identidade dos aprendizes surdos para uma interação de aprendizagem e convivência mais adequada em sala de aula.
A defesa aconteceu em agosto de 2022 e contou com o apoio de cinco profissionais tradutores intérpretes de Libras/Português e um guia-intérprete surdo. “Como tinha um membro da banca que é surda, os intérpretes se revezavam para atender a dois e também dar visibilidade da Libras a outros surdos presentes na sala. E o guia-intérprete surdo atuou como apoio a comunicação”, relata Oliveira.
Durante a defesa, o pesquisador, que tem surdez profunda e baixa visão, comunicou-se por meio da Libras no campo visual reduzido (assim como conversa com as pessoas no dia a dia), um processo tradutor semelhante ao que os surdos usam, mas em que o intérprete fica mais próximo à pessoa surdocega.
O Ileel/UFU registrou a tese de doutorado como a primeira da UFU e a segunda do Brasil a ser concluída por um doutorando surdocego. “A primeira defesa pela UFU significa a superação de barreiras por parte do surdocego e a experiência da instituição de modo geral, uma abertura para novas possibilidades para que mais surdos e surdocegos consigam ingressar no ensino superior, sejam em nível de graduação ou de pós-graduação”, afirma Oliveira.
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Palavras-chave: Ciência surdo sinalizante surdocego produção de texto ILEEL doutorado
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