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#ESPECIALUFU45

Mulheres cientistas: passado, presente e futuro da pesquisa na UFU

Universidade conta com um núcleo que estuda gênero e diversas pesquisadoras que trabalham com o tema

Publicado em 27/03/2023 às 09:49 - Atualizado em 22/08/2023 às 17:04

No ano passado, percentual de mulheres matriculadas nos cursos de pós-graduação da UFU foi de 56%. (Foto: Pixabay)

Já são 45 anos de federalização da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). O processo se deu nos anos 1970, mesma década apontada por pesquisadoras como o momento em que mulheres passaram a ingressar de forma expressiva nas universidades. Esse processo acontece a partir do momento em que a autonomia econômica e social da população feminina passa a ser questionada.

De acordo com o estudo desenvolvido por Anna Carolina Venturini, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), em 1970, as mulheres representavam 26,6% do público universitário. O número aumentou para 45,5% no início da década seguinte.

E a UFU caminha no mesmo processo. Em 2022, 56% dos alunos matriculados na pós-graduação eram mulheres. Elas também eram maioria entre os mestrandos e doutorandos que tiveram bolsas concedidas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Apesar disso, os estudos sobre gênero só começaram na UFU em 1990. Dois anos depois, surgiu o Núcleo Temático de Estudos e Pesquisas sobre as Mulheres e Relações de Gênero, conhecido atualmente como Núcleo de Estudos de Gênero (Neguem). Vinculado ao Centro de Documentação e Pesquisa em História (Cdhis), do Instituto de História (Inhis/UFU), o objetivo era a criação de um espaço de reflexão e produção sobre temas envolvendo a pesquisas de gênero. Com uma composição multidisciplinar e linhas diversas, o Neguem permanece na universidade como um local de debate.

Para a historiadora e professora da Faculdade de Educação (Faced/UFU) Raquel Discini, a tradição em torno dos estudos de gênero já está consolidada, por ser observada em diversos cursos. “Esses estudos desenvolvidos no âmbito da universidade são estudos que colaboram para o avanço do conhecimento científico em diferentes esferas e campos de saber. Mas colaboram, sobretudo, com a coletividade em âmbito municipal, regional e com a coletividade brasileira”, destaca.

A aluna de Jornalismo Bruna Garcia fez parte do Grupo de Estudos em Narrativa, Cultura e Temporalidade (Narra). Quando ingressou no grupo, a estudante decidiu integrar a frente de pesquisa orientada pela professora Nicole Tarsis e estudar as narrativas midiáticas e gênero. "O que mais inclinou a Bruna de 2020 a estudar esse tema foi a Bruna adolescente, que estava ampliando sua visão de mundo, reconhecendo as desigualdades e a importância disso no dia a dia", relembra.

Para ela, abordar temas que envolvem mulheres é fundamental como uma forma de combater a violência. “Como mulher que pesquisa mulheres, às vezes, a gente cai naquela redução de ‘ah, mulher só fala sobre mulheres’; mas assim, se a gente não olhar para nós mesmas, quem vai olhar?", questiona Garcia.

Esse local se estende pelos corredores e salas de aula. E reflete na pesquisa. Entre 2 de janeiro e 10 de março de 2023, 43 trabalhos publicados no repositório da UFU abordaram a temática de gênero em diversas áreas. Entre docentes, discentes e técnicas administrativas, mulheres se debruçam em pesquisar sobre elas e todos os aspectos que sua vivência envolve.

 

Por que ainda abordar o estudo de gênero?

Discini aponta que pesquisas que envolvem temáticas como violência doméstica, trabalho feminino e as relações que afetam as mulheres têm uma importância geral para elas. "Esses estudos têm um impacto na vida social das pessoas para além da academia", completa. A professora da Faced avalia que os estudos de gênero sobre quem se identifica com o gênero masculino também são relevantes para que as pessoas que estão no mundo conheçam mais sobre si.

A respeito dessa construção histórica e cultural sobre as diferenças entre o feminino e o masculino, existe o trabalho de desconstrução ainda na infância. A professora Fernanda Cássia dos Santos é doutora em História e dá aulas na Escola de Educação Básica (Eseba/UFU). Segundo ela, o projeto político-pedagógico da Eseba tem o respeito à diversidade de gênero como um princípio ético-político-pedagógico que deve nortear as ações dos docentes.

A professora destaca, ainda, que a ação está em conformidade com a legislação nacional, que prevê que essas temáticas sejam “temas transversais”, ou seja, que atravessam todo o currículo escolar nas diferentes disciplinas. “Falar sobre essa temática com crianças e adolescentes significa refletir sobre o lugar que ocupamos no mundo em que vivemos e sobre como podemos agir para transformá-lo, enfrentando as desigualdades que nos cercam”, declara.

Assim, Santos afirma que a Eseba compreende que é impossível não abordar temas que envolvam gênero e sexualidades, pois essas questões estão postas na sociedade e são trazidas para a escola pelos próprios estudantes. “Quando silenciamos essas discussões, perdemos a oportunidade de realizar uma reflexão crítica a respeito do mundo em que vivemos e do nosso papel enquanto sociedade no enfrentamento das desigualdades”, complementa.

Abordando seu tema de pesquisa, que envolve o podcast "Praia dos Ossos", Garcia afirma que os estudos de gênero ajudam as mulheres a sair do pensamento automático machista que guia a criação de muitas. "É a gente perceber os detalhes, as simbologias que existem no nosso dia a dia, no corriqueiro. E escancarar, colocar em evidência˜, acrescenta.

Já a jornalista da Diretoria de Comunicação Social (Dirco/UFU) Eliane Moreira, que pesquisa a rotina de mulheres que trabalham ou trabalharam em emissoras de televisão, relembra que se interessou pelo tema ao perceber que vivenciou situações de assédio no ambiente de trabalho. “Antes do mestrado, a ficha não tinha caído”, conta a jornalista, que foi orientada pela professora Janaina Bueno, da Faculdade de Gestão e Negócios (Fagen/UFU). Na opinião dela, a universidade é um espaço que contribui para a formação de opinião. Com isso, colabora para a transformação da sociedade e promove a equidade de gênero e o respeito às diferenças.

Para Discini, a gente já evoluiu muito, mas ainda há um caminho a percorrer quando o assunto envolve gênero. “Em tempos tão obscuros como os atuais, em que se fala sobre ideologia de gênero, os estudos sérios e comprometidos com a ciência são, mais do que nunca, necessários, dentro e fora da universidade. Necessários para a gente entender que existem condições sociais que fazem com que homens e mulheres se comportem desta ou daquela maneira. E tenho certeza que a UFU contribuiu, contribui e contribuirá para os avanços desses estudos em âmbito nacional e internacional”, finaliza.

 

Política de uso: A reprodução de textos, fotografias e outros conteúdos publicados pela Diretoria de Comunicação Social da Universidade Federal de Uberlândia (Dirco/UFU) é livre; porém, solicitamos que seja(m) citado(s) o(s) autor(es) e o Portal Comunica UFU.

 

A série "ESPECIALUFU45" reúne textos escritos por membros da equipe da Diretoria de Comunicação Social (Dirco), mas também está aberta à contribuição de outros integrantes da comunidade acadêmica da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). As sugestões de temas a serem abordados, bem como o envio de materiais para avaliação e, em caso de aprovação, posterior publicação, podem ser realizados por meio do formulário eletrônico disponível em: www.comunica.ufu.br/divulgacao.

 

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